sábado, 27 de julho de 2024

Agricultura Familiar

10 hectares de café ou 100 de soja?

É mais vantajoso cultivar 10 hectares (ha) de café ou 100 hectares de soja? Para o pesquisador aposentado, colaborador do Iapar, Tumoru Sera, que é especialista em café, sim. Ele apresenta números para fundamentar sua afirmação e lembra que o Paraná já chegou a plantar mais de 1,5 milhões de hectares de cafés nos anos 60, produzindo cerca de 20 milhões de sacas, mas hoje a área foi reduzida drasticamente para cerca de 50.000 hectares principalmente devido às geadas combinada com preços baixos e dificuldade para encontrar mão de obra.

“Controlar o ambiente em 10 hectares é muito mais fácil e barato. Além de que as temperaturas hoje no Paraná estão favoráveis com aumento esperado em 1,5 a 2°C na média anual nos próximos 20 anos. A tendência é reduzir mais a frequência e intensidade de geadas e de aumentar o número de meses para crescimento e produção – dos atuais 8 meses para 10 a 11 meses – o que irá aumentar proporcionalmente a produtividade média anual.

Tirando os custos diretos como de insumos, energia elétrica e combustível por saca produzida, só em custo fixo o pesquisador diz que já é possível visualizar grandes vantagens econômicas. No cultivo de 100 ha de cereais o custo fixo é de 60%, no de café convencional, 40%, e nos 10 ha de café adensado, 15%”, explica, exemplificando: com R$1.000,00/ha no valor de arrendamento, os custos da terra seriam por ano respectivamente R$100.000,00, R$40.000,00 e R$10.000,00. O custo dos insumos por saca produzida seria bem menor por ter que aplicar em apenas 10% da área com evidente grande benefício ambiental e econômico.

Outra grande vantagem que ele vê, é a possibilidade de liberar áreas pequenas para a mecanização de atividades diversificadas e de viabilizar a irrigação com consumo 80% menor de água.

“Se o custo de produção pode variar de acordo com a produtividade e as produtividades são bem melhores nos cultivos adensados, cujas áreas são menores, as vantagens se tornam muito grandes. Dependendo do grau de adoção de tecnologias para uma cafeicultura empresarial é possível o lucro de 100 hectares de soja em 10 hectares de café adensado”, afirma.

No sistema de cultivo adensado, a tecnologia se torna mais sustentável econômica e socialmente para médias, pequenas e grandes propriedades. Isto aumenta, segundo Tumoru, mais ainda a produtividade média anual de 10 anos.

Segundo ele, para pequenos e médios que são a maioria das propriedades agrícolas das regiões cafeeiras do Paraná, o cultivo adensado, poderia alcançar no cultivo sequeiro em média de 50 sacas/ha/ano com custo de R$300/saca e lucro de R$6.250,00/ha/ano – um lucro 3,6 vezes maior.

“Se adotar 100% tecnologia visando reduzir a bienalidade e der mais vigor nutricional com 30% mais adubo, matéria orgânica, cobertura de solo, calagem, solo descompactado e ou fertirrigação, daria mais escala econômica com produtividade de 60 sacas/ha/ano, tornando a cafeicultura adensada diversificada uma das melhores alternativas agrícolas nos próximos 20 anos”, afirma o pesquisador.

Mas, para isso, é preciso implementar políticas públicas permanentes para retomar a cafeicultura numa escala mínima de 200.000 hectares no Paraná. “Hoje, existem tecnologias de produção, de administração e de comercialização, mas o produtor precisa ter acesso. E para ter acesso, são necessárias políticas públicas”.

 

Manejo com baixo investimento

Sobre a mecanização das práticas adotadas no manejo do café adensado até a colheita, o pesquisador Tumoru Sera, diz que para todos os tipos de mecanização, há implementos e técnicas simples e baratas que estão disponíveis no mercado. Para isso, há necessidade de assistência técnica, principalmente para os pequenos e médios, de organização de grupos de mecanização, especialmente de colheita e de processamento.

“A tecnologia de secagem, colheita e varrição no Paraná é muito diferente de outros estados cafeeiros. Por isso, a colheita e a secagem são gargalos para colher no momento ideal antes de os frutos mofarem e caírem no chão”, explica o pesquisador.

As alternativas grupais são a aquisição de colheitadeiras automotrizes, secadores mecânicos e secador solar de estufa, lavador de café, terreiro de alvenaria e de lona, entre outros equipamentos.

Para finalizar, diz ele, uma inovação recente está em  teste para ser aplicada em cafezais de baixa produtividade e maturação muito desuniforme. Trata-se de fungicida de ação curativa em tecido morto e vivo + um produto preventivo que não afete a qualidade de bebida e deixe resíduo de agrotóxicos nos grãos.

Estímulo ao produtor

Como estimular o pequeno e médio agricultor a plantar café no Paraná. “Hoje as geadas não são problemas limitantes. As geadas severas reduziram de uma a cada seis anos para uma a cada 12 anos. Além disso, mudou a tecnologia de cultivo, de tradicional de 800 plantas/ha para renque de 2.000 plantas nos anos 70 e 4.000 plantas atuais.

“O cultivo adensado melhorou mais ainda com 6 a 10.000 plantas/ha para pequenos e médios. Esse modelo, introduzido da Colômbia e Costa Rica e adaptado para o Paraná pelo IAPAR, deu à cafeicultura paranaense a sustentabilidade, dotando-a de característica econômica, social e ambiental apropriada”, afirma.

O Paraná possui vantagens quando comparado com outras regiões como Cerrado Mineiro e Bahia, pois temos água disponível para o café irrigado e sequeiro, além de menos problemas com algumas pragas como bicho mineiro e ácaros.

Rentável

Uma forma de tornar o café uma cultura rentável seria via combinação produtividade/ha bem maior, custo/saca bem menor, qualidade de bebida superior e diversificação das atividades, aliando tecnologias de produção, administração e comercialização.

A produtividade média anual do Brasil é 22 sacas de exportação e a do Paraná, 25 sacas/ha/ano, embora este último ano tenha subido um pouco devido ao ano de bienalidade positiva. Com produtividade média brasileira de cerca de 20 sacas/ha  o custo de produção total inferido (custo variável + custo fixo) é de cerca de R$500,00/saca, segundo Sebrae/Mg (2014) enquanto que é de R$350 com 30 sacas e de R$280,00 com 40 sacas.

Assim, propriedades pequenas com 10 ha ou menos passam a ter escala econômica de lucro de área de 50 ha de cafeicultura convencional, associado a preço melhor, devido à qualidade de bebida e estabilidade econômica sustentável.

Fonte: Revista do Sindicato Rural Patronal de Londrina out/nov

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