O que os produtores rurais estão fazendo quando as lavouras de cenoura, batata e tomate são tomadas por nematoides e causam grandes perdas de produtividade? A resposta foi apresentada por quatro engenheiros agrônomos, especialistas em nematoides de hortaliças, em painel da programação do 37º Congresso Brasileiro de Nematologia (CBN), que ocorreu de 1º a 4 de agosto, em Ribeirão Preto (SP).
Participaram do debate de nematoides de hortaliças, os engenheiros agrônomos Fernando Coelho Sekita, diretor agrícola da Sekita Negócios, de São Gotardo (MG), Israel Nardin e Luís Eduardo Rocheto, da Fazenda Água Santa, de Perdizes (MG) e João Batista Ferreira Júnior, gerente agrícola da Cepêra Alimentos, de Monte Alto (SP). A mediadora foi a professora Sílvia Renata Siciliano Wilcken, da Unesp de Botucatu.
Se você não conseguiu participar ao vivo do maior evento sobre nematoides do país, ainda poderá ter acesso às palestras e painéis fazendo sua inscrição por apenas R$ 300 pelo site do evento https://37cbn.com.br. As palestras ficarão disponíveis por seis meses, após a realização do evento. Esta é uma ótima oportunidade para conhecer as melhores inovações e tecnologias aliadas ao manejo integrado de nematoides.
Cenoura
Sekita compartilhou a sua experiência catastrófica com nematoides, quando, em 2019, teve perda de quase a totalidade da safra de batatas, e de cerca de 70% da safra de cenouras devido a ação dos parasitas. Somente as perdas na lavoura da cenoura atingiram 623 hectares e causaram prejuízo de mais de R$ 1,1 milhão. Segundo ele, a situação levou a empresa a interromper a produção de batatas na fazenda.
“Além de suspender o plantio de batatas, nós tivemos que introduzir várias outras ações de manejo para reduzir a população de nematoides na propriedade”. Sekita lembra que apesar da introdução de gado na fazenda ter causado a compactação do solo e, assim, ter contribuído com ainda mais danos causados pelos nematoides, os resíduos sólidos e líquidos das atividades pecuárias contribuíram com a fertilização da área por serem biofertilizantes de alta carga orgânica.
Entre as medidas tomadas contra os nematoides, está a criação de um ciclo de plantio com duração de cinco anos, no qual se inicia com a calagem do solo na quantidade suficiente para durar o ciclo completo, passando por plantios intercalados de braquiária ou milheto por dois anos, seguido de alho, depois cenoura e, por fim, um mix de cultura com repolho/beterraba/milho/triticale/aveia. “Em 2019, estávamos produzindo em 100% da área da Sekita. Não dava para colocar braquiária para descansar o solo, então arrendamos mais terra e hoje usamos 51% da terra”. Somada a este planejamento de rotação de culturas, foi introduzida a limpeza das caixas plásticas usadas na colheita, buscando evitar contaminação e disseminações de nematoides, e também alqueive (preparo do solo e descanso). Além do uso de nematicidas químicos, o controle também passou a ser feito com adubo orgânico Bokashi e nematicidas biológicos. “Após as mudanças e três anos sem hospedeiros, voltamos a conseguir o melhor resultado em produtividade na região”, comemora Sekita.
Batata
O agrônomo Israel Nardin, gerente de produção da Fazenda Água Santa, de Perdizes (MG) trouxe sua experiência em manejo integrado de nematoides em batata, soja e milho. Ele fez alguns alertas aos produtores com relação a importância da escolha de laboratórios conceituados para o envio de amostras de solo e raízes, além da conservação das amostras e o monitoramento de áreas contaminadas por meio de Índice de Vegetação de Diferença Normalizada (NDVI), drones e manejo integrado de plantas daninhas (MIPD) e os mapas de colheitas.
“É muito importante conhecer os nematoides que estão na sua área, fazendo a amostragem de solo e raízes, depois a seleção do material para o plantio na área e as diversas ferramentas que temos para a redução dos nematoides, desde uma compostagem orgânica até um preparo de solo, seleção de materiais com maior ou menor resistência, biofábrica, o uso dos biológicos, compostagem e a própria rotação de culturas”, resume Nardin.
Segundo dados do monitoramento, há predominância de quatro tipos de nematoides na fazenda. Os dados também sugerem que existe uma briga entre os nematoides, pois em uma área foi observado a redução da presença da Heterodera glycines (nematoide de cisto da soja) nas raízes, conforme as amostras se distanciavam da reboleira, enquanto crescia a população de espécies de Pratylenchus nas proximidades da reboleira.
Na opinião dele, é possível ter um controle efetivo dos nematoides, baixando as populações em níveis que não provocam dano econômico expressivo. “Só não é fácil, às vezes a técnica tem que ficar a frente do econômico, como é o caso quando temos que optar por uma planta de cobertura, ao invés da cultura que dá retorno financeiro. A rotação de cultura é uma boa opção de controle”, conclui o especialista.
O agrônomo Luís Eduardo Rocheto, também da Fazenda Água Benta, complementou a palestra apresentando resultados das rotações de culturas na propriedade. Segundo ele, em uma área, que apresentava problemas de produtividade, após o plantio de crotalária durante o verão e o inverno, a produção de soja elevou 47,9%, passando de 73 sacas para 108 sacas por hectare. “Nós tivemos um acréscimo de 35 sacas, abandonando apenas uma cultura de verão. E numa área em que adicionamos produtos químicos, a produtividade saltou para 123 sc/ha, ou seja, usando crotalária e controle químico, aumentamos 50 sacas”, comemora.
A fazenda também introduziu a compostagem para destinar os resíduos da indústria de batata congelada Bem Brasil. Nela usam todo o resíduo de poda da cidade de Uberlândia, esterco de gado como fonte de nitrogênio, cinza de caldeira e resíduos de batatas, entre outros. O composto é então aplicado na área antes do plantio, aumentando a matéria orgânica do solo. Segundo Rocheto, é importante o controle físico pelo revolvimento do solo para eliminar as soqueiras e também o controle biológico.
Tomate
O gerente agrícola da Cepêra Alimentos, João Batista Ferreira Júnior, abriu sua palestra afirmando que não dá nematoide em tomate industrial, pois todos os híbridos são resistentes, as principais e mais frequentes espécies de nematoides de galha (Meloidogyne incognita e M. javanica) mas que os produtores devem ficar atentos pois há cerca de três anos, na região de Andradina, houve o primeiro relato de tomate indústria com o nematoide de galha (Meloidogyne enterolobii). Em geral, os híbridos são suscetíveis e não tem resistência para a referida espécie. “Por enquanto ele está modesto, mas ele vai ser um grande problema, principalmente para a indústria que não está preparada para manejar nematoide”, vislumbra.
Em 2018, testaram o plantio de tomate sob palhada de milheto, uma experiência que não deu certo em razão da palha atrapalhar o plantio, que é todo mecanizado. A experiência causou prejuízo de mais de 64% em relação ao plantio convencional, a produção caiu de 98 t/ha para 35 t/ha. No ano seguinte, a mesma experiência de plantio direto foi repetida, mas com algumas melhorias e a produtividade do tomate no milheto foi superior ao sistema convencional, chegou a 154 t/ha contra 138 t/ha. Hoje, para melhorar o solo em relação aos nematoides, fazemos milheto ou crotalária”, concluiu Júnior.
SERVIÇO
37º Congresso Brasileiro de Nematologia (CBN)
Tema: Nematoides: Ciência, Tecnologia e Inovação
Palestras gravadas disponíveis em versão digital: até 05/02/2023
Inscrições: inscreva-se pelo link https://www.37cbn.com.br/ por apenas R$ 300 e assista todas as palestras