A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgou na quarta (2), em Brasília, os principais resultados dos levantamentos dos custos de produção de 23 diferentes atividades agropecuárias durante o 5º Seminário Nacional do Projeto Campo Futuro.
“Os resultados dos levantamentos nos dão credibilidade na hora de reivindicar políticas públicas ao governo e argumentos sólidos para a definição do que precisa ser feito para melhorar a rentabilidade do produtor rural”, destacou o presidente da CNA, João Martins.
Em 2019, os técnicos do projeto realizaram 124 painéis em 22 estados e reuniram mais de 1.280 produtores, pesquisadores e representantes de sindicatos rurais, de Federações de Agricultura e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).
Na abertura do seminário, Martins afirmou que o projeto é um dos alicerces da entidade, uma vez que as informações coletadas servem de embasamento para discutir propostas e definir políticas públicas que atendam as necessidades do produtor.
Este ano, os dados do projeto apontaram lucratividade média negativa de seis das 23 culturas analisadas, sendo elas tilápia com -4%, suínos com -8%, bovinocultura de leite com -11%, trigo -15%, cafeicultura -28% e aves com aves -33%.
O projeto também analisou o comportamento dos custos com fertilizantes. Segundo o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, houve aumento de 23% no custo médio desse insumo, comparando o primeiro semestre de 2019 com igual período do ano anterior.
O primeiro painel do evento abordou a gestão rural e foi moderado pelo superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) de Minas Gerais, Christiano Nascif. “Os dados apresentados retratam a realidade do campo e são fundamentais para subsidiar o desenvolvimento de políticas públicas e privadas”.
A gestora de parcerias do IMEA, Tainá Heinzmann França, participou dos debates e falou das ações da Aliança Agroeconômica do Centro-Oeste em parceria com o projeto Campo Futuro. Tainá também apontou as perspectivas do setor agropecuário no mercado interno e externo.
Já o coordenador técnico da Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Senar, Eduardo Gomes de Oliveira, apresentou a metodologia da ATeG e a rede de profissionais. “Hoje um técnico de campo atende de 25 a 30 propriedades e um supervisor de 10 a 15 técnicos. Ao todo, são 3 mil profissionais de campo habilitados”.
Durante o debate, o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq), Mauro Osaki, disse que os recursos programados para financiamento da agricultura não são suficientes e que o produtor brasileiro é forçado a procurar outros mecanismos de crédito rural.
“A taxa de juros de mercado (Selic) menor e a redução gradativa da oferta de crédito rural do governo devem motivar a participação de novos atores no custeio agrícola”.
A sócia e diretora da empresa de consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel, destacou o cenário atual e as perspectivas para a pecuária brasileira e as consequências do surto de Peste Suína Africana que atingiu o rebanho da China. “Foram identificados mais de 130 surtos em todas as províncias até julho deste ano. Mais de seis milhões de animais já foram abatidos para conter a doença”.
Ao falar de financiamento para o agro, o CEO da Gestão Integrada de Recebíveis do Agronegócio S.A. (GIRA), Gianpaolo Zambiazi, disse que o produtor rural enfrenta muitas dificuldades, como acesso ao crédito, insegurança climática, alto custo financeiro, venda casada e falta de liberdade na escolha dos produtos desejados.
“O produtor é a matriz de riqueza do agro, é ele quem transforma o dinheiro em produto e produto em dinheiro. O país precisa de uma estrutura de crédito mais adequada e acredito que a Cédula de Produto Rural (CPR) é a que mais se enquadra nesse cenário”, afirmou Zambiazi.