Eduardo Alfredo Passarelo, do município de Imbituva, no Centro-Sul do Paraná, descobriu que precisava promover mudanças quando mergulhou no mundo da Agricultura de Precisão (AP). Engenheiro civil de formação e dono de uma empresa tradicional de topografia, o profissional participou de dois cursos do SENAR-PR – operação de drones e o Programa Empreendedor Rural (PER) – que o fizeram experimentar novas visões sobre a produção agrícola. Depois disso, tornou-se um entusiasta da aplicação das novas tecnologias na lavoura e está colhendo os primeiros frutos na atual safra.
Até o ano passado, a propriedade dos Passarelo estava arrendada. A partir de atividades do PER e do conhecimento obtido em AP, por meio do curso de drones, Eduardo se deu conta de que poderia potencializar os ganhos da família. Então, nesta safra, ele assumiu a propriedade de cerca de 90 hectares, onde dedicou 20 ao feijão e 70 a soja, com um novo olhar em relação ao cultivo de lavouras.
“Ao olhar para a lavoura em um plano, no chão, muitas vezes parece que o desenvolvimento está ocorrendo de forma perfeita. Só que na hora que sobrevoa com o drone, as imagens revelam uma mudança completa de perspectiva. É outro nível de detalhamento e possibilidade de análise”, revela Eduardo. As imagens ao lado, tiradas na propriedade dos Passarelo, revela esse diagnóstico.
Com os sobrevoos, o produtor percebe que há manchas nos talhões, o que exige um tratamento diferenciado no preparo do solo nos plantios dos próximos anos. Futuramente, o objetivo é investir em maquinários que possam aplicar insumos em taxas variáveis, de acordo com as necessidades de cada área. “Nesse momento que estamos retomando a atividade na propriedade, não podemos dar um passo tão grande. Começamos então pelo drone e já foi possível ver as possibilidades que teremos pela frente”, reflete.
Transição – A Agricultura de Precisão envolve uma série de conhecimentos que são reunidos para tornar o cultivo das lavouras mais preciso, inteligente e automatizado, por meio de tecnologias como a captação de imagens com drones, definição da geolocalização detalhada da propriedade (GPS), análise de dados por meio de algoritmos (Big Data), emprego da Inteligência Artificial (AI) e Internet das Coisas (IoT), entre outras. Maquinários com essas tecnologias embarcadas também são aliados do produtor implanta a AP na sua rotina.
“O momento que nós vivemos no campo, com essa enxurrada constante de inovações, é comparável a outros marcos históricos, como a Revolução Verde e o famoso plantio direto”, compara Ágide Meneguette, presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR. “Nossa vocação, como produtores rurais, é inovar a todo momento. Posso dizer que o Paraná sempre foi uma referência nisso. No que depender do nosso trabalho, vamos seguir caminhando firme nessa direção”, completa.
Segundo a superintendente do SENAR-PR, Débora Grimm, a instituição segue em sintonia com os pedidos dos produtores e trabalhadores rurais, o que se reflete na alta demanda pelos cursos na área de AP nos últimos anos.
“Temos um olhar bastante atento para o que tem acontecido no campo em termos de evoluções tecnológicas. Recentemente, com o sucesso das formações nessa área, promovemos o eixo de Agricultura de Precisão à categoria de programa especial, o que dá um fôlego ainda maior para crescermos nessa direção”, projeta.
Primeiro passo – A aplicação de tecnologias no campo está no DNA dos paranaenses desde antes do surgimento da Agricultura de Precisão. Desde 2000, um melhoramento feito com base na tecnologia de zonas de manejo está em andamento na propriedade de 310 hectares de Roberto Eduardo Nascimento da Cunha, em Pinhão, na região Centro-Sul do Paraná.
O método, anterior as modernas técnicas de AP, era o que de mais avançado existia na tecnologia agropecuária do início do milênio. O produtor dividiu a propriedade em pedaços de dois hectares, formando um grande mosaico. A cada safra, uma análise de solo aponta características da terra em cada fragmento. Com esse método, o produtor levou cerca de 17 anos para uniformizar a propriedade. Ou seja, está há três anos com o solo em situação de equilíbrio.
Ao mesmo tempo desse trabalho, Cunha se manteve atualizado em relação as novidades do universo agropecuário. Ele já terceirizou, por exemplo, uma aplicação com drones de um produto biológico (ovos de vespa) em uma plantação de milho. “A agricultura pode ser comparada à indústria automobilística, que, todo ano, disponibiliza modelos novos. Se você parar, daqui a pouco vai estar andando com uma F1000 antiguíssima achando que é melhor do que uma Hilux”, brinca.
Justamente por isso, Cunha participou de um curso do SENAR-PR, para aprender a pilotar e gerar dados com o equipamento voador. No momento, apesar de não ter investido na compra de um drone, o produtor considera a formação fundamental para saber contratar e direcionar as consultorias com as quais trabalha. “Se você não faz o curso, não sabe como é a lógica do negócio. Como é que vai comprar um serviço que não sabe como funciona?”, questiona.
Qualificação – Além de formar diretamente produtores rurais paranaenses, os cursos de AP do SENAR-PR também têm ajudado a gerar frutos em diversas empresas do agronegócio estadual. Desde 2004, Marcos Jantsch é especialista de drones na empresa Valor Florestal, com sede no Paraná e filiais em Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Bahia e Tocantins. De alguns anos para cá, os drones despertaram o interesse dos diretores da empresa, que criaram um departamento específico para a coleta de imagens e processamento de dados.
“Eu era do setor de infraestrutura, mas trabalhava com geoprocessamento e acabei sendo designado para puxar a criação desse novo setor de drones, no qual trabalho hoje”, conta Jantsch. “O começo de tudo foi o SENAR-PR, que permite aprender a pilotar o drone. Posso dizer que drone foi uma quebra de paradigma na empresa. Quando você começa a olhar sua floresta de cima, passa a ter um ponto focal diferente. Antes, a análise da floresta era no plano, enquanto hoje se apresenta em três dimensões”, compartilha.
Atualmente, na empresa, as imagens aéreas estão incorporadas nos setores de cartografia, silvicultura, colheita, microplanejamento e planejamento, pesquisa e certificação florestal e infraestrutura, após o processo de maturação do uso da tecnologia.
“O grande desafio do drone é pegar uma imagem e gerar produtos inteligíveis voltados a aspectos como qualidade, cartografia e avaliação de planejamento. Fazendo esse exercício, nós conseguimos encontrar usos para drones que jamais podíamos imaginar”, ensina.
Cana-de-açúcar – O técnico agrícola João Paulo da Silva de Oliveira, que trabalha na Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, em Nova Londrina, no Noroeste do Paraná, foi aluno do curso na área de AP em cana-de-açúcar. Segundo o profissional, a formação do SENAR-PR deu um novo fôlego à sua carreira. “É comum pensar só nas máquinas e ferramentas quando se fala de Agricultura de Precisão, mas vai muito além. Passei a olhar para a minha atividade com outros olhos depois do pelo curso”, compartilha Oliveira.
A Agricultura de Precisão sempre foi um tema importante para o SENAR-PR. Agora, ainda mais, pois o eixo foi alçado à categoria de Programa Especial, ao lado de iniciativas consagradas como os programas Agrinho, Empreendedor Rural e Mulher Atual.
“Nesse momento, estamos trazendo novos títulos e incrementando esse pacote de formações, de modo a agregar temas, dar visibilidade e fomentar o uso de Agricultura de Precisão de forma mais ampla no campo paranaense”, explica o gerente do Departamento Técnico (Detec) do SENAR-PR, Arthur Piazza Bergamini.
Para conhecer todos os cursos do SENAR-PR na área de Agricultura de Precisão, basta acessar a seção de Cursos.
Upgrade na educação e nos negócios – O interesse pela formação do SENAR-PR na área de drones também tem levado benefícios para a sala de aula. No Colégio Agrícola da Lapa, os alunos tinham um drone disponível para as atividades estudantis, mas ninguém sabia como mexer com o equipamento.
“Depois do curso começamos a utilizar o drone nas matérias do colégio e multiplicando o conhecimento em várias áreas. Eu também faço serviços de topografia, em consultorias, e depois do curso resolvi comprar um drone e disponibilizar mais esse serviço aos meus clientes”, revela o professor Daniel Silva.
Formado em engenharia agronômica, Silva aponta o drone como uma tecnologia barata, considerando o potencial que representa. “Eu trabalho bastante com projetos de irrigação. Com o drone temos precisão para saber quantos metros a bomba vai estar de distância do aspersor, por exemplo. Também já fiz trabalhos em manejo de solo para verificação se área é propícia à agricultura. Os usos são infinitos”, garante.