sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Agronegócio

Seca prolongada prejudica semeadura do trigo no norte do Paraná

 

A semeadura do trigo no norte do Paraná, idealmente indicada entre 21 de março a 10 de maio, está sendo prejudicada pela intensa seca em 2018. Neste período, a estação meteorológica da Embrapa Soja registrou 42 dias  (2 de abril até 14 de maio) sem chuvas em Londrina (PR). Enquanto a média histórica (2008 a 2017) de chuva acumulada neste período ideal de semeadura é de 170 mm, em 2018 choveu apenas 77 mm . “Desde 2009 não se registrava um déficit hídrico tão pronunciado na região, o que traz sérias consequências ao cultivo de trigo”, explica o pesquisador da Embrapa Trigo, Sérgio Ricardo Silva.

O Departamento de Economia Rural (DERAL), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná estima a área de semeadura de trigo no Paraná em 1,42 milhão de hectares. Até 14 de maio aproximadamente 365 mil hectares (35%) da área prevista foi semeada e a maioria (90%) das lavouras encontra-se em fase de germinação. A maior parte desta área semeada encontra-se nas regiões norte e oeste e muitos agricultores realizaram a semeadura “no pó”. “Eles confiaram no rápido restabelecimento das chuvas, para não comprometerem o calendário agrícola do ano, isto é, terem condições de estabelecer as próximas culturas de verão dentro da “janela” ideal de semeadura. Além disso, conseguiram semear o trigo dentro do período recomendado pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), o que é um dos pré-requisitos para a obtenção de financiamento e seguro agrícolas”, diz.

Para Silva, os agricultores da região norte do Paraná, que ainda não semearam a cultura do trigo, estão diante de um difícil dilema: não cultivar trigo em 2018 ou realizar a semeadura fora do período ideal. “A primeira opção significa não correr riscos de perda de produção, porém, o agricultor abrirá mão de uma fonte adicional de remuneração com a venda do trigo, e também aumentará o custo total da safra de verão, pois o custo fixo da propriedade não poderá ser dividido com a cultura de inverno”, avalia o pesquisador.  Além disso, o agricultor não usufruirá dos benefícios diretos e indiretos da cultura do trigo para a lavoura seguinte, porque perde o efeito da adubação residual do trigo (que permite a redução da adubação da soja ou do milho, especialmente com fósforo e potássio) e do efeito benéfico da palhada do trigo que reduz a infestação de plantas invasoras (como a buva e o amargoso) na cultura em sucessão.

Por outro lado, realizar a semeadura fora do período ideal também traz consequências não desejáveis, afirma o pesquisador. “Isso porque será difícil a obtenção de financiamento e seguro agrícolas, além de aumentar o risco de déficit hídrico na fase de enchimento de grãos e o risco de perda de qualidade tecnológica dos grãos causada por excesso de chuva na colheita”, analisa.

Previsão de chuva – De acordo com os principais institutos de previsão meteorológica, há alta probabilidade de chuva no norte do Paraná ainda hoje, seguido por um período de estiagem. As previsões meteorológicas podem ser acompanhadas pelo Sistema Meteorológico do Paraná (SIMEPAR) <http://www.simepar.br>, onde a busca pode ser feita por município, através do tópico “Previsão no Paraná” seguido de “Procurar cidade”.  O inverno deverá passar por uma situação climática normal, pois o fenômeno La Niña (que está sendo de baixa intensidade em 2018) deve ser praticamente neutralizado até o final deste mês. “Se estas previsões se confirmarem, poderemos ter boas condições ambientais para o desenvolvimento da lavoura de junho a agosto, o que resultará em boa safra de trigo no estado do Paraná”, avalia o pesquisador.

Orientações da pesquisa  – Diante destes desafios climáticos, o pesquisador fez algumas recomendações que podem ajudar os triticultores nesta safra, considerando três situações:
1ª) Lavouras semeadas até o final de março, que receberam chuvas suficientes para uma boa germinação e desenvolvimento inicial das plantas, porém sendo afetadas posteriormente por um longo período de estiagem. Neste caso, a produtividade será parcialmente comprometida, devido ao subdesenvolvimento das plantas. Portanto, o agricultor deve reduzir os custos com adubação de cobertura e com defensivos agrícolas, utilizando apenas o “mínimo necessário” de acordo com as orientações de um Agrônomo, pois altos investimentos nestes insumos não resultarão em grandes aumentos de rendimento de grãos, pois o potencial produtivo da cultura já foi comprometido.

2ª) Lavouras semeadas “no pó” nos últimos dias, antes do restabelecimento das chuvas. Esta situação não é agronomicamente recomendável, pois implica sérios riscos: se a seca se prolongar por mais dias, as sementes “guardadas” no solo seco estarão expostas ao calor excessivo na superfície do solo, o que compromete o vigor e poder germinativo; por outro lado, se ocorrer uma chuva de baixa intensidade seguida por um novo período de seca, as sementes poderão germinar, porém, as plântulas não se desenvolveram bem e podem morrer desidratadas, resultando em falhas e desuniformidade da lavoura. Portanto, o agricultor que não possui sistema de irrigação estará “refém” das condições climáticas, não havendo outra alternativa a não ser torcer pelo rápido restabelecimento das chuvas.

3ª) Áreas destinadas à cultura do trigo que ainda não foram semeadas. Este caso deve ser analisado com bastante cuidado, pois o período ideal de semeadura (com risco de perda de safra de 20%, de acordo com o ZARC) já passou. No entanto, o ZARC amplia o período de semeadura do trigo no norte pioneiro até no máximo no primeiro decêndio de junho, cujos riscos de perda de safra aumentam de 30% em 10 maio até 40% em 10 de junho. Os riscos são maiores em solos mais arenosos, em menores altitudes e para cultivares de ciclos intermediário a tardio. Dificilmente o agricultor conseguirá financiamento e seguro agrícolas nesta situação e, mesmo que conseguir, o custo será maior. Para os agricultores mais “arrojados” do norte do Paraná, que optarem pelo cultivo do trigo, assumindo maior risco, aconselhamos: não ultrapassar a data de 31 de maio para realizar a semeadura, e fazê-la somente após a recarga da umidade do solo até a profundidade de 20 cm, verificando se a previsão meteorológica indica a chegada de novas chuvas nos dias seguintes; optar por cultivares de ciclo precoce (para reduzir os riscos de seca na fase de enchimento de grãos e de chuva na colheita); realizar a adubação nitrogenada de cobertura com antecedência (até o início do perfilhamento); e reduzir os custos com excessos de adubos, defensivos e outros produtos, adotando a prática do “manejo racional” baseado nas indicações técnicas e no monitoramento da lavoura.

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Paraná suspende queima controlada no campo - Conexão Agro
Coluna 205 - Paraná suspende queima controlada no campo
11/09/2024

Paraná suspende por 90 dias queima controlada no campo para prevenir incêndios; pesquisador da Embrapa Soja orienta produtores como enfrentar o clima seco e os efeitos da La Niña na safra 2024/25. Confira as notícias do campo no podcast “Conexão Agro”.

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