O uso de fungicidas é apenas uma das estratégias utilizadas para o combate às doenças que atingem a cultura de soja e mesmo assim pode não ser a solução mais eficaz. O controle químico de maneira isolada não garante a solução de todos os problemas no campo, por isso é necessário a adoção de práticas de manejo integradas que levem em consideração vários fatores: escolha da cultivar, época de semeadura, rotação de culturas, manejo de entressafra, tecnologia de aplicação entre outros.
O alerta é dos pesquisadores da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso, Fundação MT, durante o XVIII Encontro Técnico, por entenderem que o cenário de doenças ainda é muito preocupante no estado de Mato Grosso.
Resultados de pesquisas desenvolvidos desde a safra 2011/2012 pela Fundação MT e pela Embrapa com participação de consultores técnicos, revelam perda da eficácia dos fungicidas do grupo dos triazois, estrobilurinas e mais recentemente das carboxamidas.
A preservação da eficiência dos fungicidas deve considerar, de acordo com os pesquisadores, as seguintes ações: uso de fungicidas multissítios associados aos fungicidas sistêmicos; rotação de grupos químicos e mecanismos de ação dentro dos programas de aplicação; realização no máximo duas aplicações de carboxamidas por ciclo da cultura; adoção de uma tecnologia de aplicação eficiente; respeito ao vazio sanitário e a calendarização de plantio de soja; uso de cultivares com tolerância e/ou resistência genética.
Para Ivan Pedro, fitopatologista da Fundação MT, essas são estratégias antirresistência, que podem contribuir com a longevidade da eficácia dos fungicidas. “Está comprovado que o controle químico por meio de fungicidas é indispensável, no entanto as estratégias de manejo de doenças vão além, devendo ser considerados aspectos como a genética das cultivares de soja, posicionamento das variedades, ambientes de produção, culturas antecessoras, clima, tecnologia de aplicação e por fim o monitoramento adequado”.
Além desse alerta, no XVIII Encontro Técnico Fundação MT, Ivan Pedro apresentou resultados de pesquisa sobre a ocorrência da mancha-alvo. Segundo ele, na safra 2017/18 a ocorrência dessa doença na cultura da soja foi mais severa nas seguintes regiões do MT: Parecis, Médio Norte e Vale do Araguaia. As perdas médias por causa dessa doença oscilam entre 15% e 25%. “Os danos são dependentes da suscetibilidade da cultivar de soja, das condições climáticas, da época de semeadura, do estádio fenológico da planta em que a doença ocorre e dos programas de fungicidas adotados”, explicou o pesquisador.
As principais recomendações para o manejo da mancha-alvo foram citadas por Ivan Pedro. Produtor e equipe que não quer ter perdas de produtividades devem adotar as seguintes estratégias de manejo: uso de cultivares tolerantes/resistentes; utilização de fungicidas efetivos e com especificidade de controle; fazer associação de fungicidas multissítios como estratégia de controle e manejo de resistência; adoção de tecnologia de aplicação efetiva; emprego de aplicações preventivas; garantir intervalos seguros entre as aplicações; proteger a soja até o estádio R6; conhecer o sistema de produção para o correto posicionamento de cultivares de soja. “A adoção deste manejo aliado ao monitoramento constante da lavoura é que pode garantir que as plantas de soja fiquem livres de doenças”, destacou o pesquisador.