A implantação de quebra-vento conjugada com aplicações de cobre reduz em até 60% a incidência de plantas com cancro cítrico nos pomares de citros. Se considerada a infecção em flores e frutos, o percentual é ainda maior, e passa de 90%, segundo o bacteriologista e pesquisador do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater (IDR-Paraná), Rui Pereira Leite Junior.
Esses resultados são de um estudo realizado na Unidade de Pesquisa do IDR-Paraná de Xambrê (Região Noroeste do Paraná), agora divulgados em artigo publicado na conceituada revista científica Plant Disease, editada pela sociedade de fitopatologia dos Estados Unidos.
O cancro cítrico, causado pela bactéria Xanthomonas citri, está disseminado nos principais países produtores de citros. Leite explica que o patógeno gera prejuízos rapidamente quando se instala em um pomar — causa depauperamento das plantas e baixa qualidade comercial da pouca produção obtida, pois a doença produz lesões nos frutos.
A bactéria não depende de um inseto que atue como vetor para se dispersar pelas plantações, o que torna a doença ainda mais ameaçadora para toda a cadeia produtiva. Durante anos, a principal recomendação para conter a doença era simplesmente extirpar as plantas infectadas. No Brasil, houve até uma campanha nacional para erradicação do cancro cítrico, e pomares inteiros foram eliminados até a década de 1980.
Foi somente a partir da década de 1990 que a pesquisa estabeleceu um protocolo para manejo do cancro cítrico, que inclui o uso de quebra-vento, plantio de cultivares resistentes ou pouco suscetíveis, aplicação de bactericidas a base de cobre e de inseticidas para controlar a lagarta minadora dos citros (Phyllocnistis citrella).
Embora não seja vetor da bactéria, a lagarta minadora danifica principalmente as folhas das árvores, e isso facilita a instalação da doença nas plantas, esclarece o pesquisador.
Pesquisa
“Essas medidas são eficientes e amplamente adotadas pelos citricultores, mas ainda não conhecíamos detalhes do benefício de cada uma delas, isoladamente ou combinadas”, esclarece Leite o objetivo do estudo.
Para fazer essa avaliação, em 2010 os pesquisadores implantaram um pomar de 10 hectares – laranjeiras da cultivar valência enxertadas sobre limão-cravo, moderadamente suscetíveis ao cancro cítrico -, que foi isolado com quebra-vento formado por árvores de casuarina (Casuarina cunninghamiana).
Avaliando em separado cada uma das ações contra a doença, os pesquisadores constataram que a aplicação de cobre proporcionou melhor resultado, seguida pelo quebra-vento. Já o controle da lagarta minadora dos citros não exerceu grande influência sobre a instalação e desenvolvimento do cancro cítrico no pomar.
Em conjunto, as duas medidas de controle – aplicação de cobre e quebra-vento – reduziram em 60% a incidência de plantas infectadas com cancro cítrico, percentual que passou de 90% quando se avaliou a infecção de folhas e frutos.
Isso significa, aponta o pesquisador, que as aplicações de cobre têm papel importante na redução da incidência da doença e perdas na produção, e que o quebra-vento contribui para diminuir a quantidade de frutos com cancro (e, portanto, rejeitados pelo mercado).
“A adoção conjunta das duas práticas é o tratamento ideal para o manejo eficiente do cancro cítrico”, avalia Leite. “Mas, dependendo da suscetibilidade da cultivar, o quebra-vento pode ser facultativo em pomares que produzem para a indústria, e obrigatório naqueles voltados ao mercado de frutas frescas”, conclui o pesquisador.
O artigo, em inglês, pode ser acessado na íntegra AQUI. (Link: https://apsjournals.apsnet.org/doi/10.1094/PDIS-10-20-2153-RE)
Parceria
Integraram ainda a equipe do projeto os pesquisadores Franklin Behlau, Luis H. M. Scandelai, Isabela V. Primiano, Renato B. Bassanezi e Antonio J. Ayres, vinculados ao departamento de pesquisa do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus); Armando Bergamin Filho e José Belasque Jr., da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, ligada à Universidade de São Paulo (USP); Timothy R. Gottwald, do Serviço de Pesquisa do Ministério da Agricultura dos Estados Unidos (USDA); e James H. Graham, da Universidade da Flórida, também nos Estados Unidos.