quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Meio Ambiente

Pesquisa mostra prejuízos causados ao solo pela erosão hídrica

erosão
Tags: agricultura familiar, agronegócio, Cooperativismo, Meio Ambiente

Não é de hoje que o Paraná vê pairar o fantasma da erosão sobre suas lavouras e pastagens. O Estado, berço do plantio direto no Brasil, andou deixando de lado algumas práticas conservacionistas que garantem um solo equilibrado dos pontos de vista físico, químico e biológico. Hoje, a principal causa da degradação das terras agrícolas é a erosão hídrica, que ocorre quando a força da água da chuva desprende e arrasta partículas do solo, deixando prejuízos, inclusive no bolso do produtor.

Nos últimos dois anos, a estiagem severa tem mascarado uma situação bastante grave. Com menos chuvas volumosas, existe a falsa impressão de que o perigo da erosão acabou. Desta forma, em muitas propriedades, as práticas conservacionistas vêm sendo negligenciadas. O que muitos não sabem (ou não querem ver) é que estão dilapidando o próprio patrimônio.

Na realidade, é possível calcular o dinheiro que a enxurrada leva embora e o ônus financeiro de um solo mal manejado. Diversas pesquisas têm quantificando as perdas de nutrientes que acontecem quando ocorre o processo erosivo, enquanto outros trabalhos acadêmicos destacam que o preço pago por terras bem manejadas é maior do que aquele pago por áreas que abandonaram o manejo conservacionista.

“Quanto maior o pacote de medidas conservacionistas que o produtor adota, maior o valor da terra”, aponta o pesquisador do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater (IDR-Paraná) Tiago Telles, e um dos autores do artigo científico “Perdas e custos associados à erosão hídrica em função de taxas de cobertura do solo”.

Para se chegar a essa conclusão, o grupo acompanhou um experimento, conduzido no Centro Experimental de Campinas (CEC) do Instituto Agronômico (IAC), ao longo de nove anos, em talhões em que coletores recebiam a terra carregada pela enxurrada e contabilizava os nutrientes perdidos. “Para estimar esses custos, os teores de potássio, fósforo, cálcio e magnésio na água da enxurrada e na terra carreada pela erosão foram somados, convertidos em superfosfato triplo, cloreto de potássio e calcário dolomítico, e multiplicados pelos seus preços de mercado”, explica o artigo.

Segundo Telles, o prejuízo médio causado pela perda destes nutrientes nas lavouras anuais do Paraná contabilizaria R$ 242 milhões. Com base nos resultados desse experimento, considerando o Brasil, a estimativa do custo da perda destes nutrientes pela erosão do solo está na ordem de R$ 2,11 bilhões (segundo a taxa de câmbio da época do estudo, março de 2011).

“Vale lembrar que nós verificamos apenas os custos que o produtor teria com as perdas dos macronutrientes. Se trata de um valor bem subestimado, pois não consideramos os custos com hora-máquina, mão de obra e outros aspectos. Também não estimamos essas perdas nem em pastagens nem em lavouras permanentes”, explica o pesquisador. Desta forma, o prejuízo causado pela erosão é potencialmente maior do que estas cifras.

Este estudo mostra também que as perdas médias anuais de água, matéria orgânica, terra e nutrientes devido à erosão hídrica variaram de acordo com a taxa de cobertura do solo. Quanto maior a cobertura, menor a perda destes materiais.

“Em comparação ao solo com 0% de cobertura, aquele com 90% reduziu as perdas médias de água em 51,97%, de terra em 54,44% e de MO [matéria orgânica] em 54,89%”, diz o trabalho.

Terra que vale ouro

Além da perda financeira, a falta de medidas conservacionistas de manejo de solo exige um longo e dispendioso tratamento. Estima-se que para recuperar apenas um centímetro da camada mais superficial do solo – que também é a mais fértil – a natureza leva cerca de 400 anos.

“Se for num solo basáltico pode demorar mais de mil anos. Varia em função da formação geológica do solo”, explica o instrutor do Senar-PR José Alfredo Baptista dos Santos, que ministra cursos na área de manejo de solo e água. “Uma vez que o produtor deixou a erosão acontecer, tem que fazer um tratamento de campo para ver qual estratégia adotar. Não tem solução se não trabalhar em conjunto as dimensões química, física e biológica do solo”, acrescenta.

Segundo o instrutor, que acompanha esse tema desde a década de 1970, o Paraná já foi referência em manejo conservacionista, porém, aos poucos, foi abandonando essa vocação. “Hoje, conservação de solo não é mais ‘murundum’ com dois metros de altura. Temos muito mais informação, existe um conjunto de ferramentas disponíveis”, afirma, referindo-se a técnicas como plantio direto, plantio em nível, rotação de culturas e outros processos que preservam o solo e a água.

A adoção dessas técnicas, aliás, tem impacto direto no valor das terras agrícolas. É isso que demonstram diversos estudos científicos, entre eles o “Effects of no-tillage on agricultural land values in Brazil” (Efeito do plantio direto sobre os preços das terras agrícolas no Brasil), publicado em 2018 na revista Land Use Policy, publicação científica da Elsevier, que tem o pesquisador do IDR–Paraná Tiago Telles entre os autores.

O estudo considerando diversas regiões do Brasil verificou que o hectare de terra conduzido no sistema de plantio direto vale US$ 2.305, valor 43,2% maior em relação a mesma proporção com cultivo convencional, com arado e grade para revolver o solo (US$ 1.609) e 135% superior ao preço da área com cultivo mínimo, somente a gradagem do terreno (US$ 987).

De acordo com o trabalho, o Paraná é o Estado brasileiro com maior percentual (72%) de lavouras manejadas no sistema de plantio direto, conforme o Censo Agropecuário de 2006, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda, as terras paranaenses têm a maior discrepância de preços entre áreas com diferentes sistemas de manejo de solo. A área que utiliza plantio direto teria valor de US$ 4.080 por hectare, 41,42% maior que a manejadas no cultivo tradicional (US$ 2.991/hectare) e 108% mais valiosas que a com cultivo mínimo (US$ 1.960/ha).

De acordo com o instrutor Santos, do Senar-PR, os produtores paranaenses descuidaram principalmente da dimensão física do manejo de solo, que inclui as práticas como terraceamento, plantio em nível, rotação de culturas, entre outras, que conseguem frear a velocidade da água sobre a lavoura e melhorar sua infiltração. “Se houve compactação de terra com entrada de máquinas, essa água vai ter dificuldade de infiltrar. E não infiltrando, vai forçar o escorrimento na superfície levando embora o que encontrar pela frente: elementos químicos e matéria orgânica”, explica. A adoção dessas práticas está diretamente ligada à produtividade das lavouras. “O sujeito que tem problema de erosividade na propriedade nunca vai ser um campeão de produtividade”, sentencia Santos.

Fonte: Sistema Faep/Senar-PR

 

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