quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Agricultura Familiar

Em Guaratuba, mar verde de bananas gera renda no Litoral e supera desafios

banana
Tags: agricultura familiar, agroindustria, Cooperativismo

Nem só do mar salgado vive o Litoral do Paraná. Um dos municípios mais procurados como destino para o veraneio, Guaratuba é também o maior produtor de banana do Estado. O mar verde desce pelos morros e se estende a perder de vista por 3,3 mil hectares plantados. Rende 61,8 mil toneladas ao ano e garante renda e trabalho para 350 famílias locais.

Guaratuba registra uma produtividade acima da média brasileira: 25 toneladas por hectare. Segundo dados do IBGE para a safra 2020, a produtividade do Paraná é de quase 20 ton/ha e a brasileira é de 14 ton/ha.

A engenheira agrônoma Elaine Cristina Stolf Correa é a segunda geração a cuidar dos atuais 80 hectares do bananal plantado a partir de 1987 pelas mãos diligentes do pai, João Stolf. Ela conta que as bananeiras encontradas naturalmente ali, tinham seus cachos colhidos por extrativismo e levados de barco pela baía para a venda na região.

Vindo de família experiente no plantio de fumo e de arroz irrigado, João e o irmão deram o impulso para a primeira grande onda da cultura da banana em Guaratuba, que hoje corresponde a mais de 40% do Valor Bruto da Produção (VBP) do município – o que corresponde a aproximadamente R$ 63,4 milhões ao ano, conforme dados da Secretaria estadual da Agricultura e Abastecimento.

Elaine e a irmã – engenheira agrônoma e engenheira ambiental, respectivamente – deram sequência às ondas verdes de uma Guaratuba que se acessa por estradas de pedra, pontes e onde se pisa e se pensa na terra.

Acompanhar o pai desde os 4 anos, fez brotar em Elaine o interesse pelo cultivo da terra: cursou Agronomia em Florianópolis, voltou com um olhar apurado para o manejo e a defesa sustentável do bananal e hoje une forças com 55 produtores como responsável técnica da Associação Pró-Agricultura Sustentável de Guaratuba (APASG).

“A minha filha de 7 anos não trabalha ainda, mas é o controle de qualidade das nossas bananas”, brinca.

Produção familiar

Pai, filha e neta. A estrutura familiar é a base para a continuação da bananicultura na maioria das propriedades e é também a analogia com que se configura o bananal. O sistema chamado “mãe, filha, neta” garante a produção de bananas ao longo de todo o ano.

“Tem a mãe, que seria a primeira planta, que já colhemos o cacho”, ensina Nilton Natal Fedalto. “E a filha e a neta, que são a continuação”, continua Grilo, como é conhecido, em referência ao segundo e terceiro troncos em ordem decrescente de espessura. O que é externo a esse núcleo familiar é cortado.

Cada planta dá um cacho só, o que explica o ditado “bananeira que já deu cacho”. Carlos Henrique Andrade, técnico em agropecuária do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater (IDR-Paraná), explica essa organização. “A planta que já deu cacho não absorve mais nutrientes do solo. A filha dela, que vai produzir no próximo ano, começa a absorver os nutrientes da planta-mãe até começar a formar o novo cacho, e assim sucessivamente”, explica.

A parte do tronco que vai ao solo sofre decomposição e a renovação é contínua, com as “novas gerações”. Para produzir esse único cacho, a planta leva um ano e meio em média – um ano para emitir a flor que vai dar origem ao cacho e mais outros quatro a sete meses para “engordar” as bananas, dependendo da temperatura.

“Sai um botão e depois vai abrindo folha por folha, cada folha tem uma penca. E vai abrindo até que no final só tem as que são de flor masculina e não dão mais fruto”, afirma a produtora e agrônoma Elaine.

O cacho depois é ensacado em plásticos, que podem ter diferentes cores para identificar mais facilmente quais estão na mesma fase de maturação.

Mercado

Com as bananas ainda verdes, os cachos colhidos são levados às etapas de lavagem, despenca e embalagem. No barracão da empresa Banaze, localizado na comunidade Caovi, em Guaratuba, Vagner Souza da Silva dispensa em poucos segundos um cacho que pesa, em média, 35 quilos para a caturra e 25 quilos para a prata, ficando apenas o engaço – suporte que sustenta os cachos. Habilidade de quem trabalha há sete anos na área.

Destinada ao mercado interno e ao consumo in natura, a produção da maioria dos bananicultores de Guaratuba é repassada a um intermediário da Ceasa de Curitiba e vendida direto no box ou ainda na pedra, que é quando o produtor transporta e vende seu produto diretamente em uma unidade da Ceasa.

Há também venda para a merenda escolar. No caso da produção da família da Elaine, 90% vai para o Rio Grande do Sul, por meio de um atacadista, onde fica na estufa até amarelar por uns três ou quatro dias e daí segue para os supermercados.

A banana, aliás, é a fruta mais consumida pelos brasileiros: em média 16,3 gramas ao dia por pessoa, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2017/2018. O caminho até o consumidor, porém, envolve muito trabalho, dedicação e superação.

Desafios

Um desafio recente para toda a cadeia produtiva da banana em Guaratuba é a recuperação após a destruição causada pelo ciclone-bomba de 2020, que praticamente dizimou as áreas da espécie caturra (ou nanica) no município, e prejudicou bastante as de banana-prata, porém com perdas menores.

André Fagundes Resende, com 22 anos de trabalho nos bananais, presenciou os efeitos da tempestade. “Derrubou quase tudo aqui, o que não derrubou o vento rasgou e caíram as folhas. A gente foi colhendo os cachos da banana-prata, que é mais resistente”, relembra ele, que é funcionário na Banaze.

Além de fatores e desastres climáticos e da lida diária para manter o bananal nutrido, os produtores lutam diariamente contra pragas. Para combater a Sigatoka-negra, doença da bananeira temida em todo o mundo, os bananicultores de Guaratuba contam com o monitoramento da equipe do IDR Paraná.

“Toda semana visitamos o bananal em algumas plantas previamente estipuladas e verificamos a ocorrência, ou não, da doença. Esse monitoramento acontece para que os produtores possam visualizar se há a entrada da doença e então fazem a aplicação dos defensivos recomendados pela pesquisa”, explica Nilo Bragagnolo, engenheiro agrônomo do IDR Paraná.

Puxado pela região de Guarapuava, Paraná lidera produção nacional de cevada
A pulverização dos fungicidas costuma acontecer de 6 a 8 vezes ao ano em Guaratuba, uma média bem abaixo da praticada em muitos países produtores.

Fonte: AEN

 

 

 

 

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