Alexandre Nepomuceno
Hoje estreio aqui esta coluna com o objetivo de trazer e discutir as inovações tecnológicas que já estão entre nós, e as que estão a caminho para garantir a sustentabilidade da agricultura brasileira, em seus três eixos, o social, o ambiental e o econômico. Vivemos várias revoluções tecnológicas no momento, algumas já impactaram consideravelmente nossa agricultura, e muitas, por vir, certamente também irão impactar também. Mas nesta primeira coluna quero falar de como chegamos aqui.
Nas última 5 décadas o Brasil tornou-se um dos maiores produtores de alimentos, fibras e biocombustíveis do mundo. Topicalizamos a soja, e com isso conquistamos o cerrado, trazendo em seguida o milho, o algodão, a produção de carnes e as indústrias ligadas ao agronegócio, transformando a região no maior celeiro do mundo. Somos também uma potência em biodiversidade de onde vários novos produtos e soluções para a agricultura, medicina e indústria podem ser tirados. Em torno de 25% da biodiversidade do planeta está no Brasil e temos que aproveitar mais isso.
Nosso país é hoje o único com capacidade de produzir produtos agropecuários 365 dias ao ano, com aptidão para ter 2 a 3 safras/ano na mesma área em boa parte do país. Isto tudo se deve ao investimento em ciência e tecnologia que ocorreu neste período. A criação da Embrapa, que este ano faz 50 anos, assim como, o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, que envolve nossas universidades, órgãos estaduais de pesquisa, empresas privadas, e principalmente nossos produtores agrícolas, com seu espírito empreendedor, são os principais responsáveis por esta revolução.
O mundo olha para o Brasil como um potência agrícola, mas por outro lado, também como um grande competidor. É importante continuarmos nossos investimentos em tecnologia nacional para o setor, para que boa parte de nossos ganhos no agronegócio não “fujam” do país na forma de royalties. Que estes recursos fiquem aqui sustentado nossa balança comercial, gerando empregos e qualidade de vida para os brasileiros. É estratégico também que mostremos que a agricultura brasileira é solução, e não problema no que diz respeito as mudanças climáticas globais. Ao produzir o ano todo, nossas culturas fazem fotossíntese, sequestrando carbono da atmosfera ao mesmo tempo que produzem alimentos, fibras e biocombustíveis.
As emissões de gases efeitos estufa de agricultura brasileira são mínimos quando comparados com as emissões que ocorrem na produção de energia a base de petróleo e carvão de países desenvolvidos. Somos líderes mundiais no uso do plantio direto, assim como, na fixação biológica de nitrogênio, para citar somente duas práticas agrícolas que ajudam muito no sequestro de carbono, e na redução das emissões de gases efeito estufa. Temos problemas pontuais no uso da terra onde o desmatamento ilegal é um fato, por outro lado, temos talvez o código florestal mais rigoroso do mundo. Se somarmos todas as áreas, que por lei nosso produtores são obrigados a preservar, a área total é maior que a Europa. No sul do Brasil é obrigatório a preservação de 20% da propriedade, enquanto que no Norte, 80% deve ser preservado.
O que falta sim, é um maior rigor e fiscalização no cumprimento da lei. As revoluções tecnológicas da transformação digital e da genética já chegaram no campo, mas foi somente o começo. Muita coisa vem pela frente e para que continuemos competitivos nas próximas décadas é estratégico que ciência e tecnologia continue sendo a base de nossa agricultura. Nosso grande “cliente”, a China tem investido muito em desenvolver infraestrutura e tecnologias para os países da África subsaariana. O potencial desta região para produção agrícola passa dos 200 milhões de hectares, em condições edafoclimáticas muito próximas das brasileiras. Certamente, mesmos com as dificuldades políticas atuais na região africana hoje, nas próximas décadas a África produzirá grãos em condições muito semelhantes a brasileira. Nossa saída é agregar cada vez mais valor. Já fazemos isso, ao usar nossa soja, milho, por exemplo, para produzir frangos, suínos, peixes, leite, ovos, etc. Mas precisamos fazer mais.
O mundo se move de uma economia fóssil, para uma economia de química verde. Os produtos agrícolas com óleos, extratos e metabólitos vegetais serão a base química para produção de bioplásticos, biocombustíveis, borrachas, etc. Hoje já pneus de veículos estão sendo produzidos a base de óleo de soja. O mesmo óleo que após transformações químicas na indústria começa a ser utilizado na produção do VHO (Vegetable Hidrogenated Oil) e do SAF (Sustainable Aviation Fuel), biocombustíveis para motores de combustão de veículos de uso rodoviário e da aviação. Com investimento pesado em ciência e tecnologia e na formatação de uma base industrial que agregue mais valor a matéria prima sendo produzida pelo nosso agronegócio, poderemos, se soubermos nos organizar e agir com estratégia, ser não somente uma potência agrícola, mas também um país desenvolvido com um qualidade de vida melhor para nosso povo.
Alexandre Nepomuceno,
Chefe-geral da Embrapa Soja
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