A tecnologia Bt contribuiu para o crescimento da produtividade da soja no Brasil, mas o produtor rural precisa adotar boas práticas agrícolas, como Manejo Integrado de Pragas e áreas de refúgio, para maior eficiência do controle de insetos, como as lagartas da soja. Ao negligenciar essas práticas, o produtor compromete sua lavoura, o que pode vir a custar caro no futuro.
No Brasil, pelo menos 85% das áreas plantadas com grãos e cereais
utilizam a tecnologia Bt, que age como inseticida natural contra as
principais pragas que atacam as lavouras, tornando-a um grande aliado do agricultor.
Componente do Manejo Integrado de Pragas, o refúgio consiste em reservar, na lavoura, com tecnologia Bt, áreas cultivadas com plantas não Bt da mesma espécie.
O pesquisador Entomologista da Embrapa Soja, Daniel Ricardo Sosa-Gomez, recomenda que 20% da área total de plantio seja destinada ao refúgio (área não Bt), com distância máxima de 800 metros entre as culturas Bt e não Bt. Essa distância máxima possibilita o acasalamento das mariposas e permite a manutenção de populações de lagartas suscetíveis.
Com isso, cria-se uma população de insetos não resistentes que irão se acasalar com outros insetos de fora do refúgio, expostos à BT e já resistentes a ela. “Essas áreas são justamente para garantir que as pragas resistentes da lavoura Bt possam acasalar com os insetos suscetíveis às proteínas, gerando uma nova geração de indivíduos que não apresentam resistência”, acrescenta o entomologista.
Ele reforça que o uso das áreas de refúgio é essencial para manter a
eficiência e os benefícios da tecnologia Bt, mas para isso é necessário um conjunto de técnicas que garanta a eficiência da tecnologia e traga o aumento de produtividade, sem colocar a lavoura em risco.
Nos primeiros anos da adoção das plantas Bt, o controle de pragas se mostrou muito eficiente, mas, conforme as safras passam, a eficiência do controle pode diminuir exatamente pelo rápido aparecimento de insetos resistentes, devido às falhas no manejo.
Um dos fatores que pode levar a seleção de populações resistentes, está relacionada ao uso abusivo de inseticidas, principalmente em locais de agricultura mais intensiva.
É possível aplicar controle químico, em doses corretas, nas áreas de
refúgio, mas isso deve ocorrer somente quando o nível de dano
econômico indicado para a cultura for atingido. No entanto, o uso abusivo pode eliminar a maioria dos insetos suscetíveis e comprometer a finalidade dessa estratégia em evitar ou retardar a resistência. “Ao longo das safras, com o uso repetido da mesma tática de controle, os insetos que eram minoria podem se multiplicar, tornando-se a maioria da população, se o manejo não for realizado corretamente”, enfatiza o pesquisador.
Para evitar ou retardar a resistência é importante aplicar inseticidas
apenas quando necessário, adotando os níveis de ação e sempre
rotacionar os inseticidas com diferentes modos de ação entre as
aplicações. “O que ocorre é que muitas vezes é feita a aplicação de inseticidas e, por alguma razão, não se tem o controle esperado, aí se aplica novamente o mesmo produto com doses mais altas. Isso é negativo porque favorece a seleção das resistências”, acrescenta Sosa-Gomez, reafirmando que a rotação de produtos é a alternativa para enfraquecer as populações resistentes.
Deste modo, o entomologista alerta que é importante focar em boas práticas como um bom Programa de Manejo Integrado de Pragas (MIP) e, principalmente, no manejo de resistência de insetos.
“Na área usada como refúgio o produtor tem que fazer o MIP,
monitorando a população de insetos para saber o momento certo de agir e aplicar os inseticidas. No caso da soja, por exemplo, o monitoramento deve ocorrer quando a planta está mais sensível, na fase reprodutiva”, diz.
O mais importante, segundo o pesquisador, é alertar o produtor para o uso de todas as ferramentas que estão disponíveis para o manejo de pragas, além de usar inseticidas seletivos, aplicando somente quando necessário e em doses apropriadas, bem como adotar o refúgio que tem um efeito importantíssimo no retraço de populações resistentes.
Entenda a tecnologia Bt
Para entender o que é a tecnologia BT, o pesquisador entomologista da
Embrapa Soja, Daniel Ricardo Sosa-Gomez, explica que o termo Bt refere-
se ao nome científico da bactéria Bacillus thuringiensis, que produz cristais de proteína, os quais apresentam propriedades tóxicas a muitos insetos
agrícolas, principalmente as lagartas (lepidópteros).
Provenientes de Bacillus thuringiensis, as toxinas denominadas “Cry”, após serem isoladas e manipuladas geneticamente, são introduzidas ao DNA
das plantas como soja, milho e algodão.
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