O consórcio de árvores frutíferas em pequenas propriedades pode contribuir para a superação de dois desafios da agricultura mundial nas próximas décadas: a degradação do solo e o aumento da temperatura global. O primeiro é um obstáculo para a segurança alimentar. O aquecimento do planeta também põe em risco a produção de alimentos para uma população mundial de 10 bilhões de habitantes até 2050.
O engenheiro agrônomo e pesquisador colombiano Eduardo Perilla mora há 13 anos no Brasil. Nos últimos três anos, implantou uma estação experimental de frutas em sua propriedade, a chácara Vila Anamaria, na região de Guaravera, a 50 quilômetros de Londrina (PR).
Na área de 20 mil metros quadrados, Perilla desenvolve pesquisas para encontrar alternativas econômicas sustentáveis ao pequeno produtor, que também podem contribuir para a superação dos dois grandes desafios da agricultura mundial.
As pesquisas são desenvolvidas na plantação de 1.700 mudas de lulo, uma fruta colombiana, também conhecida como naranjilla, consorciada com melancia e espécies de abóbora.
Também fazem parte desse laboratório a céu aberto outras variedades de frutas como physalis, mirtilo, amora, morango, framboesa, abacate, araçá, longan – uma versão asiática da lichia que, no Brasil, é conhecida por pitomba.
“Recentes estudos demostram, que as árvores podem fazer a captura maior de gás carbônico, quando em consórcio de diferentes tamanhos, as que temos aqui, por exemplo, o tomate de árvore, o lulo ou espécies de grande porte. O agricultor, que tem uma área pequena, pode fazer a sua parte na redução dos gases do efeito estufa e também ganhar dinheiro com a venda da produção de frutas”, afirma Perilla.
Numa área da propriedade, que antigamente era usada para pastagem, o pesquisador plantou 400 plantas pés de lulo. Perilla diz que pretende demostrar com o experimento, como o pequeno produtor também pode diminuir os impactos do solo com o consórcio de plantas.
“A partir dos dados obtidos nessa área experimental, queremos que o agricultor consiga entender como pode recuperar o seu solo e sua diversidade genética, a partir da fruticultura. Uma coisa muito importante é que essa área experimental vai sendo substituída, paulatinamente, com outras espécies frutícolas. Temos lulo, este ano, que já vai produzir comercialmente. Gradativamente, vamos tirando as plantas existentes e substituindo por outras florestais, como graviola, jabuticaba e araçá. A intenção é criar neste espaço um modelo de evolução ecológica com fruticultura, que permita ao pequeno agricultor recuperar áreas degradadas e transformá-las em produtivas”, explica Perilla.