sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Agronegócio

SRM lamenta decisão do Paraná de antecipar retirada da vacinação contra febre aftosa

A  Sociedade Rural de Maringá (SRM) se posiciona contrária à antecipação da retirada da vacinação contra febre aftosa no Paraná. Em nota enviada à redação a entidade diz: “A Sociedade Rural de Maringá, que luta pela melhoria e fortalecimento dos  diferentes  segmentos do agronegócio, entre eles a bovinocultura de qualidade, é veementemente contrária à retirada antecipada da vacinação contra a febre aftosa no Paraná. A decisão dos estados que pertencem ao bloco 5 do Pnefa (Plano Nacional de Erradicação da Febre Aftosa) de apoiar o fim da imunização no Estado a partir deste ano,  em reunião na última quarta-feira (24) na sede da Ocepar, em Curitiba, é considerada um equívoco e irá afetar profundamente produtores e todos os setores que dependem da entrada de animais de outros estados para as suas atividades”.

De acordo ainda com a nota, o Paraná conta com um rebanho de aproximadamente 10 milhões de cabeças de bovinos, sendo cerca de 50% animal de corte. Mais de 2% desses bovinos que são destinados ao abate chegam de outros estados. Com a barreira criada no Paraná para a entrada de novos rebanhos, haverá uma defasagem prejudicando toda a cadeia produtiva de carne, incluindo-se os frigoríficos, curtumes, processadoras de ossos e até mesmo a indústria de biodiesel proveniente da gordura animal. Havendo redução de abate, haverá falta de matéria-prima para todos os setores. Esse quadro afetará até mesmo os empregos nestas unidades, prevendo-se um corte de 30 a 40% da mão-de-obra hoje efetiva, conforme as indústria frigorífica.

PARANÁ ISOLADO

“O Estado,  que estava no bloco 5 do Pnefa e deveria parar de vacinar só em 2021, poderia se adiantar, mas sair junto com o bloco 2 ou 3, cuja suspensão da imunização está programada para o próximo ano. Seria a forma de não ficar isolado”, diz a nota.

E prossegue: “A cadeia produtiva/industrial da carne de bovinos do Paraná, importante elo entre o produtor e o consumidor, também se colocou contrária à decisão. É importante atentar que enquanto as cadeias produtivas de aves e suínos estão sob controle das indústrias e são concentradas em aproximadamente  20 mil propriedades de produção de aves comerciais e em torno de 6 mil propriedades de produção de suínos comerciais, em regiões com alta concentração, a cadeia da carne de bovinos está distribuída em todo estado (algo em torno de 180 mil propriedades) com grande variação de qualidade de carcaças, transporte distante e oneroso, e raras propriedades são da própria indústria”.

“Portanto, os cenários diferentes merecem tratamento e análises diferenciados. O abastecimento para o abatedouro de carne bovina  não é arbitrado pela Indústria, como é nos suínos e nas aves. É disperso e incerto, requer organização e planejamento de longo prazo, o que reforça a tese de que a alteração do cronograma para o fim da vacinação no estado irá prejudicar o setor”.

A SRM apresenta ainda um estudo encomendado por entidades do setor,  realizado pela Athenagro,que diz que  os benefícios com o fim da vacinação seriam colhidos pela suinocultura, enquanto os riscos seriam todos da bovinocultura. A tese do benefício, no entanto, baseia-se na premissa que haja retorno econômico com as exportações de carne suína, caso o estado deixe de vacinar. Entretanto, Santa Catarina que atingiu o status livre de aftosa sem vacinação em 2007, não confirmou a expectativa de aumentar suas exportações para países com melhor remuneração.

“Mesmo sendo o Estado de maior produção e exportações de carne suína no Brasil, apenas 6% do total exportado seguiu para mercados considerados mais restritivos em relação à vacinação, como Estados Unidos, Japão e Singapura. Em 2006, antes de atingir o status, 7% do total exportado pelo vizinho atingiu os mercados restritivos”.

Segundo ainda a entidade, a  carne suína paranaense também acessou mercados restritivos. Em 2018, o Paraná exportou 18,6 mil toneladas métricas de carne suína para Singapura, equivalente a 17% do total exportado pelo Estado.  No mesmo período, Santa Catarina exportou 13,6 mil toneladas para o mesmo mercado, ou 4% do total. O restante exportado por Santa Catarina aos mercados restritivos soma 6,4 mil toneladas em 2018, destinadas ao Japão e Estados Unidos. Mesmo responsável por 51,4% de todas as exportações de carne suína em 2018, Santa Catarina enviou 19,9 mil toneladas aos mercados considerados mais restritivos. O Paraná, que respondeu por apenas 16,8% das exportações brasileiras de carne suína, enviou 18,7 mil toneladas nos mercados restritivos. É conclusivo que a diferença do status não representa vantagem competitiva alguma para atender os mercados, destaca o documento.

A entidade diz ainda que a análise das séries históricas de volume e preços de exportações e mercado interno, tanto para carne suína como bovina, são mais contundentes. Comparando o desempenho do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, não há sinais de que Santa Catarina ganhe espaço ou benefícios com relação às exportações ou valorização do mercado interno. “Não há dúvidas que a retirada precipitada das campanhas de vacinação represente mais riscos do que benefícios para ambas as carnes. A expectativa de benefícios não se confirmou em Santa Catarina, nem mesmo nos momentos mais complicados para a suinocultura”, frisa o estudo.

“Com a crise da peste suína na China e vizinhos, é esperado um rearranjo em todos os players do mercado global. A oportunidade para o Brasil é inquestionável. Será que interessa ao Paraná aumentar os riscos sanitários em um momento tão importante para a consolidação dos mercados? O status livre sem vacinação deve ser buscado, mas não a qualquer custo. Aguardar mais um ano ou dois anos seria o mais prudente para todos”, finaliza a nota.

 

Fonte: Assessoria de imprensa da Sociedade Rural de Maringá

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