As incertezas sobre o Moderfrota, principal linha de financiamento de máquinas e equipamentos, não diminuiu o otimismo dos fabricantes, que reforçaram o portfólio de lançamentos na Agrishow 2019, que terminou nesta sexta-feira (3) em Ribeirão Preto (SP). A expectativa positiva reflete a percepção do mercado, que aposta em um produtor igualmente otimista e disposto a fechar negócios com os bons resultados da safra de grãos 2018/2019, que deve alcançar 235,3 milhões de toneladas.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) projeta um crescimento para o setor de 10% em 2019. Porém, os números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) hoje (3), último dia da Agrishow, mostram que a produção industrial brasileira caiu 1,3% em março. A industria automotiva é uma das que registrou os maiores impactos e fechou o mês com queda de -3,2%.
Jair Bolsonaro participou da abertura oficial da Agrishow no começo da semana, antes que esses números do IBGE fossem divulgados. O presidente anunciou que Banco do Brasil vai liberar mais de R$ 1, bilhão em financiamento e R$ 1 bilhão para o seguro rural do Plano Safra 2019/2020.
A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina, que integrou a comitiva presidencial, também fez o anúncio da destinação de R$ 500 milhões, no atual Plano Safra ao Moderfrota. Os recursos tinham esgotado em dezembro.
Para o presidente da Agrishow 2019, Francisco Matturro, existem alternativas de negócios para o agricultor, como o barter, que é o pagamento pelo insumo, através da entrega de grão na pós-colheita, sem intermediação monetária. Porém, não deixou de cobrar mais previsibilidade para o mercado agrícola.
“A Agrishow foi marcada pelo mesmo espírito das eleições 2018, que é o de ver a economia estabilizada. Não devemos viver de sobressaltos. Tem que ter previsibilidade. É importante lembrar que o crédito oficial nunca é oferecido à indústria, mas para o produtor”, afirmou Matturro.
A fabricante de tratores alemã Fendt, que acaba de chegar ao mercado brasileiro com uma fábrica instalada em Sorriso (MT), incluiu o país na ambiciosa expectativa de produzir, mundialmente, 20 mil máquinas até 2020. A gigante investiu R$ 150 milhões no projeto com planos de expansão para a América Latina, começando pela Argentina.
Os fabricantes, que já estão acostumados com a instabilidade da economia brasileira, têm cautela ao avaliar a realidade brasileira.
A Valtra, uma das maiores fabricantes e exportadoras de máquinas do Brasil, produz equipamentos para as principais culturas e commodities. A fabrica analisa a possibilidade de realizar negócios na modalidade barter, sendo que 40% das vendas realizadas são através de bancos.
“Os consórcios têm crescido bastante , sendo uma modalidade que os brasileiros gostam. Vemos ainda que tanto o barter como o consórcio podem crescer mais, como uma forma dos produtores se blindarem contra os juros. Porém, o Plano Safra pode ter impacto nesse crescimento. Há uma escassez de recursos públicos. Precisamos trabalhar com criatividade, criando novas ferramentas e dividir com o agricultor novas possibilidades de financiamento”, avaliou José Carlos Carramate, diretor Comercial da Valtra.
Para o diretor Comercial para o Brasil da New Holland, Alexandre Blasi, o setor precisa de subsídios em um cenário previsto para 2019 com inflação abaixo da meta e estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), que reduziu em 0,4 ponto percentual sua previsão para o crescimento da economia, estimando uma expansão de 2,1% para o país este ano.
Ele exemplifica que governos de países como a Rússia oferecem subsídios de 5%, China 15%, Estados Unidos 17%, União Europeia 34%, enquanto o Brasil apenas 3%.
“O mercado agrícola necessita de suportes tradicionais, como são os subsídios, para continuar sendo propulsor do PIB”, afirmou Blasi.
A Caterpillar fabrica máquinas de atividades de apoio à agricultura. Diretores da fabricante consideraram tímidos os recursos anunciados pela ministra Tereza Cristina para o Moderfrota.
Já o diretor de vendas da Massey Ferguson, Eduardo Nunes, vê um mercado cauteloso, acreditando que, o anúncio de Bolsonaro na Agrishow, poderia aquecer as vendas na feira.
“É verdade que estamos ainda cautelosos, mas ficamos otimistas com a expectativa da divulgação do Plano Safra, dia 12 de junho”, afirmou Nunes.
*Repórter viajou à Agrishow a convite do pool de imprensa dos expositores da feira