Pesquisadores do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) desenvolvem pesquisas com variedades de café que combinem, além de alta produtividade, qualidade de bebida especial diferenciada e resistência às pragas e doenças.
Segundo a pesquisadora Patrícia Santoro, líder do Programa Café do IAPAR, o consumo de cafés especiais está em plena expansão no mundo, tanto para consumo doméstico, quanto em cafeterias.
“No Brasil, o consumo de cafés superiores e gourmets já chega a quase 20% do total consumido, com um crescimento de mercado superior 100% nos últimos três anos”, salienta a pesquisadora. Ainda de acordo com ela, o consumidor que busca um café de melhor qualidade está disposto a pagar um preço diferenciado, o que pode ser um bom negócio para o cafeicultor, que vai receber mais pela sua mercadoria.
Um bom resultado desse trabalho foi a caracterização do café do Norte Pioneiro para a obtenção de Indicação Geográfica, uma das cinco existentes no Brasil. “A Indicação Geográfica atribui identidade própria ao café, agregando valor ao produto e dando visibilidade à região”, salienta Santoro. O pesquisador do IAPAR Gustavo Sera explica que existem cultivares de café reconhecidas no mercado consumidor, mas são pouco produtivas. “Nosso objetivo é desenvolver variedades que tenham um diferencial de preço devido à qualidade de bebida superior e além disso combine boa produtividade”, salienta Sera.
Para atingir esses objetivos, o IAPAR vem trabalhando em algumas frentes, como em sistemas agroflorestais com a junção de cafés e árvores, como a seringueira. Esse consórcio busca melhorar a qualidade física dos grãos e da bebida por meio de mudanças no microclima, com redução da temperatura por causa do sombreamento. “Estes estudos, além do clima, envolvem avaliações sobre a nutrição e fisiologia das plantas, fertilidade do solo, incidência de pragas e doenças, fatores que podem ter influência direta ou indireta sobre a qualidade final do café”, explica a pesquisadora do IAPAR Maria Brígida Scholz.
Sera vem trabalhando no melhoramento genético convencional por meio do cruzamento. “Dentre os cafeeiros que estamos utilizando para transferir a qualidade de bebida especial e diferenciada estão cafeeiros silvestres da Etiópia e do grupo Sarchimor (Villa Sarchí x Híbrido de Timor)”, salienta o pesquisador. O objetivo, de acordo com ele, é desenvolver variedades no IAPAR que unam atributos desejáveis para qualidade de bebida como aroma, sabor e acidez com sabores e aromas exóticos como cupuaçu, jasmim, mirtilo, morango e maracujá. “Estamos desenvolvendo uma cultivar com sabor de cupuaçu, limão siciliano e jasmim derivada da famosa cultivar Geisha, que possui um preço de mercado de cinco a dez vezes mais caro do que os cafeeiros arábicos tradicionais”, explica Sera. Ele ressalta, entretanto, que essa futura variedade teve ter 40% do potencial produtivo de uma cultivar tradicional, o que deve ser compensado pelo alto preço da saca.