quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Agroecologia

Morre, aos 99 anos, Ana Primavesi, pioneira da agroecologia no Brasil

Morreu hoje, aos 99 anos, a engenheira agrônoma Ana Maria Primavesi, pioneira da agroecologia e responsável por avanços no campo de estudo das ciências do solo em geral, em especial o manejo ecológico do solo. Nascida na Áustria em 1920 e formada pela Universidade de Ciências Rurais (Boku), em Viena, Primavesi chegou ao Brasil em 1948.

Aqui, Ana Primavesi trabalhou com o solo, sua paixão, a vida toda. Foi uma das pioneiras na preservação e recuperação de áreas degradadas, abordando o manejo do solo de maneira integrada com o meio ambiente. Suas pesquisas apontam para uma agricultura que privilegie a atividade biológica do solo com um alto teor de matéria orgânica, evitando o revolvimento do mesmo, e substituindo o uso de de insumos químicos pela aplicação de técnicas como a da adubação verde, controle biológico de pragas, entre outros. A compreensão do solo como um organismo vivo e com diversos níveis de interação com a planta foi uma das contribuições de Primavesi para a agronomia.

Foi professora da Universidade Federal de Santa Maria , onde contribuiu para a organização do primeiro curso de pós-graduação voltado para a agricultura orgânica. Aposentada, tocou por muitos anos sua própria propriedade agrícola em Itaí, no estado de São Paulo, onde colocou em prática os conceitos da agricultura orgânica. Foi também fundadora da Associação da Agricultura Orgânica (AAO), uma das primeiras associações de produtores orgânicos do Brasil. Seu livro “Manejo ecologico do solo: a agricultura em regioes tropicais” é considerado uma obra de referência nas ciências agrárias.

Ao longo de sua carreira,  escreveu vários livros e recebeu diversos prêmios, como o One World Award, da Federação Internacional dos Movimentos da Agricultura Orgânica (IFOAM), além de títulos Doctor honoris causa em diversas universidades brasileiras.

Hoje, 5 de janeiro, foi publicada a  seguinte nota no facebook de Ana Primavesi

Um jatobá que tomba, centenário
 Nossa querida Ana Maria Primavesi faleceu hoje, aos 99 anos de idade. Quase um século de vida, cerca de 80 anos dedicados à ciência do campo. Descansa uma mente notável, uma mulher de força incomum e um ser humano raro.
 Afastada de suas atividades desde que passou a morar em São Paulo com a filha Carin, Ana recolheu-se.
 Quase centenária, era uma alma jovem num corpo envelhecido que, mesmo se tivesse uma vitalidade para mais 200 anos, não acompanharia uma mente como a dela.
 Annemarie Baronesa Conrad, seu nome de solteira, desde pequena apaixonou-se pela natureza, inspirada pelo pai. Naturalmente entrou para a faculdade de agronomia, mesmo Hitler tentando fazer com que as “cabeças pensantes” desistissem de estudar. Ela não só era uma das raras mulheres na faculdade como também aquela que destacou-se por seu talento natural em compreender o invisível: a vida microscópica contida nos solos.
 Nestes 99 anos de vida, enfrentou todas as perdas que uma pessoa pode sofrer: irmãos, primos e tios na Segunda Guerra. Posteriormente, pai, mãe, marido. E seu caçula Arturzinho, a maior das chagas, que é perder um filho. Sua morte hoje, causada por problemas relacionados ao coração, encerra uma vida de lutas em vários âmbitos, o principal deles na defesa de uma agricultura ecológica, ou Agroecologia, termo que surge a partir de seus estudos e ensinamentos. Não parece ser à toa que esse coração, que aguentou tantas emoções (boas e ruins) agora precise descansar.
 Nosso jatobá sagrado, cuja seiva alimentou saberes e por sob a copa nos abrigamos no acolhimento de compreendermos de onde viemos e para onde vamos, tomba, quase centenário. Ele abre uma clareira imensa que proporcionará ao sol debruçar-se sobre uma nova etapa, a da perpetuação da vida. E dos saberes que ela disseminou.
 Antes de tombar, nosso jatobá sagrado lançou tantas sementes, mas tantas, que agora o mundo está repleto de mudas vigorosas, prontas a enfrentar as barreiras que a impediriam de crescer. Essas mudas somos todos nós, cada um que a amou em vida, cada um a seu modo.
 Nossa gratidão pelo legado único que nos deixa essa árvore frondosa, cuja luta pelo amor à natureza prevaleceu. A luta passa a ser nossa daqui em diante, uma luta pela vida do solo, por uma agricultura respeitosa, por uma educação que se volte mais ao campo e suas múltiplas relações.
 Ana Primavesi permanecerá perpetuamente em nossas vidas.
 Como diz nosso querido amigo Fabio Santos, parafraseando Che Guevara:
“Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a Primavesi inteira.”
Banner Conexão Agro Anúncio 728x90

Compartilhe

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

Podcast

Coluna Podcast

Paraná suspende queima controlada no campo - Conexão Agro
Coluna 205 - Paraná suspende queima controlada no campo
11/09/2024

Paraná suspende por 90 dias queima controlada no campo para prevenir incêndios; pesquisador da Embrapa Soja orienta produtores como enfrentar o clima seco e os efeitos da La Niña na safra 2024/25. Confira as notícias do campo no podcast “Conexão Agro”.

Cotações

Resumo Técnico fornecido por Investing.com Brasil.

News Letter

Calendário

Calendário