sábado, 21 de setembro de 2024

Agronegócio

Abelhas aumentam produtividade da soja, mas são ameaçadas por agrotóxicos

Os humanos têm habilidades exclusivas, mas o título: o ser mais importante do mundo pertence às abelhas. A declaração é da Royal Geographical Society de Londres e não é só uma grande deferência. O inseto é estratégico para a economia global, especialmente o agronegócio.  

Resultados do estudo liderado pelo pesquisador da Embrapa Soja, Décio Gazzoni, mostram que, quando existe uma quantidade de abelhas adequada na lavoura de soja, consegue-se um ganho de 10% na produtividade do grão, o que surpreende produtores agrícolas e pesquisadores, porque não é isso que consta nos livros clássicos da oleaginosa.     

 “O tema ‘abelha’ está na pauta da imprensa, dos formuladores de políticas públicas e dos consumidores. A Europa é o grande ícone da discussão. O Brasil, como um grande exportador mundial, o maior exportador de soja em grão e do complexo soja, precisa atentar para isso se quiser atender o mercado externo”, afirma Décio Gazzoni. Autor do livro “Soja e Abelhas”, o pesquisador foi assessor da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, e lidera projeto de pesquisa, que estuda as relações entre os insetos polinizadores e a produção de soja. 

Filosofa de formação com doutorado pela Universidade de Coimbra, Flávia Quintanilha tem um olhar especial para as abelhas. Ela desenvolve o projeto de extensão “Jardim Amigo das Abelhas”, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR-Londrina). O objetivo é criar um ambiente propício para a reprodução e desenvolvimento dos insetos. 

 “Calcula-se que a riqueza gerada com a ajuda dos polinizadores é de US$ 577 bilhões no mundo. Não podemos fechar os olhos para isso. São 20 mil espécies de abelhas conhecidas, que polinizam 90% das 107 principais culturas do planeta. Setenta e cinco por cento da alimentação humana depende direta ou indiretamente da ação desses insetos. Quando se diz que, se erradicarmos as abelhas, não teremos condições de vida humana, não é exagero”, afirma Flávia. Os números do cálculo citado pela pesquisadora são da Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), uma iniciativa da qual o Brasil é um dos 124 países signatários.  

Com a expansão de área do grão no país, chamou a atenção dos pesquisadores a visita, cada vez maior, das abelhas às lavouras. O estudo de Gazzoni busca entender o que significam o aumento da presença dos insetos na soja e a aproximação das fronteiras entre a oleaginosa e os apiários. 

“Os produtores de soja estão percebendo que o grão é um bom pasto para abelhas, fornecendo néctar aos insetos em um período em que é pouca a oferta de outras plantas floridas. Procuramos entender, o que leva as abelhas para a soja. Sabemos que o que orientam insetos, em geral; são a forma, cor e substâncias voláteis emitidas. Também queremos compreender melhor como ações fitossanitários na soja impactam as abelhas e como podemos ter esquemas e tratamentos que impactem menos possível os polinizadores”, destaca Gazonni. 

O estudo está trazendo para o agronegócio novas informações sobre a relação das abelhas e a produtividade na soja. 

“São dados que nos ajudarão a desenvolver variedades de soja, que necessitem de um menor uso de inseticida, principalmente, durante a floração e de maneira a diminuir os impactos dessas ações fitossanitárias sobre as abelhas. São quatro anos de estudo. Acabamos de completar o terceiro. Vamos para o quarto ano na safra 2019/2020. Os pesquisadores se surpreendem com os dados porque os livros clássicos dizem que, quando a flor de soja abre, já está polinizada e fecundada e não teria mais o que ser feito. Porém, os nossos estudos demostraram que não é bem assim. Existe uma margem de ganho entre uma condição ideal e a ausência de abelhas”, aponta o pesquisador. 

O projeto de Flávia Quintanilha atravessa a ponte na mesma direção, quanto à preservação das abelhas. A pesquisadora lembra que, há mais de 10 anos, foi realizada uma pesquisa, no Brasil, sobre o uso de fertilizantes e a agressão à vida dos polinizadores. 

“No Brasil, a condição é muito grave. Nós permitimos coisas que em outros países, há décadas, não são permitidas e, com isso, estamos dando um ultimato para as abelhas. A motivação nossa é mostrar para o público leigo a importância desses polinizadores e tentar fazer com que essas pessoas possam aderir a esse movimento para propiciar ambiente favorável à vida  dos polinizadores, ressalta a pesquisadora.  

Seguindo essa filosofia, Flávia tem uma produção inicial de abelhas jataí na Chácara São Francisco, em Curitiba, em parceria com outro projeto da pesquisadora, o Quintal pelo Mundo (site www.quintall.eco.br). A intenção é sensibilizar a sociedade sobre a importância das abelhas. 

“A questão é o que está sendo desenvolvido para a preservação dessas espécies devido à alta quantidade de herbicidas nas lavouras. No mundo existem várias iniciativas para isso. O Canadá adotou um sistema para proteger as abelhas. Em outubro do ano passado, Londres também lançou uma rede internacional de colmeias conectadas, que são monitoradas com tecnologia da Oracle. Há produtos químicos contaminam as abelhas e, quando voltam para a colmeia, causam a extinção de toda uma comunidade de insetos. Acompanhamos notícias diárias sobre a morte de milhões de abelhas em regiões de grande cultivo agrícola”, alerta Flávia. 

Novas regras – Décio Gazzoni, por sua vez, diz que é preciso entender que: inseticida mata inseto e, abelha, é um inseto. Portanto, todo inseticida mata abelhas. 

O resultado dessa conta é exato, mas o pesquisador afirma que, o que se pretende criar é um conjunto de regras para agricultores e apicultores e diminuir o problema. 

“Não é impossível evitar a aplicação de inseticida durante a floração da soja. Os trabalhos que temos feito, tanto da Embrapa, quanto os que fazemos junto com a Emater e outros parceiros, mostram que a floração é um período perfeitamente tranquilo, tendo a possibilidade de atravessar aqueles 20 dias sem utilização de inseticidas. Por que isso? As abelhas só vão na soja durante o período de floração. Elas não têm o que fazer se não tem flores na soja. Antes da floração, nem depois da floração, elas vão para a lavoura. O grande risco está aí”, assegura o pesquisador. 

Gazonni acrescenta que, se eventualmente, for necessária a aplicação de inseticida, é preciso seguir uma série de recomendações. 

“Do ponto de vista do agricultor: aplique no final da tarde ou à noite. Nós vimos que as abelhas preferem ir para soja de manhã. O agricultor deve seguir todas as técnicas de aplicação: bico bem regulado, não aplicar com vento ou alta temperatura, evitar toda e qualquer deriva, deixando sempre uma margem entre a ponta da barra e a vegetação nativa. Se for aplicação de avião sempre abrir os bicos depois que entrou na lavoura e fechar ao sair. Evite também aplicar em cima de mato. Do ponto de vista do apicultor, não pode colocar as suas caixas perto de lavoura sem avisar o produtor rural. Já o agricultor precisa avisar o criador de abelhas sobre a intenção de fazer pulverização. Quando se atende algumas regras não existe mortalidade de abelhas”, conclui Gazzoni. 

Confirma mais sobre o assunto na coluna Conexão Agro, Rádio UEL FM

 

   

 

 

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Paraná suspende queima controlada no campo - Conexão Agro
Coluna 205 - Paraná suspende queima controlada no campo
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