quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Agricultura Familiar

Acesso à alimentação saudável, um direito que não chega em todas as mesas

 

Evento de inovação e criatividade, que acontece em São Paulo, vai abordar da ocupação de espaços ociosos ao resgate da agricultura familiar

O direito a uma alimentação saudável e como ela consegue se desenvolver sem o respaldo governamental e em meio a vários desafios. Este entre outros temas serão discutidos no Festival Path, evento de inovação e criatividade que terá sua sexta edição nos dias 19 e 20 de maio, no bairro de Pinheiros, em São Paulo.

Atuando como permacultor, educador e articulador cultural Jaison Pongiluppi tem suas raízes literalmente fincadas na A.P.A Bororé-Colônia, extremo sul de São Paulo. Com a família na região há mais de 70 anos, ele observava o avô plantar e colher seu próprio alimento, algo comum na roça.

Com o tempo passando e os costumes mudando, notou que a produção local, da Cooperapas — Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais e de Água Limpa, ia parar não nas casas de quem vive por lá, mas em gôndolas superfaturadas dos bairros mais nobres da cidade, como Pinheiros. Para reverter esse cenário, implantou no centro eco-cultural Casa Ecoativa o contato entre agricultores do sítio Paiquerê e moradores, que podem comprar de forma acessível uma cesta semanal de orgânicos. Assim formou-se um grupo de consumo responsável nos arredores do Grajaú.

É um ponto importante discutir para onde vai a alimentação orgânica. Batemos no ponto dessas práticas serem elitizadas. Há muito tempo essas tecnologias são das bordas e quando algum grupo começa a cooptar esse tema e elitizar ou ‘gourmetizar’, isso é uma estratégia que afasta outras pessoas que poderiam estar junto nesse discussão. E mais uma vez esbarramos na desigualdade”, apontou .

Mas o ativista acredita que a questão vai além da demografia e até mesmo do poder aquisitivo. “A gente sabe que é muito mais difícil o acesso ao alimento em alguns bairros periféricos, mas não necessariamente a pessoa que mora numa região central vai comer melhor. A cidade está comendo mal de maneira geral pelo modelo de vida desgastante do sistema. A vida está em baixa qualidade. Para mim, deserto alimentar é a cidade de São Paulo inteira, porque uma cidade que não apoia e não investe em agricultura, em agroecologia, é propensa a tal condição, seja na periferia ou no centro”, afirmou. Ele vai falar sobre “Deserto Alimentar: o desafio do acesso à comida”, que acontece no Festival Path.

A Segurança Alimentar e o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) deveriam ser garantidos segundo o artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), de 1948. No Brasil, a Constituição reforça a ideia a partir da Emenda Constitucional nº 64, aprovada em 2010, comprometendo o poder público a arcar com as demandas, seja por meio de programas, ações e políticas que dão acesso à qualidade e quantidade suficiente de alimentos saudáveis.

“Na ótica da natureza, o Brasil é extremamente rico na produção de alimentos. Ao mesmo tempo que produz, desperdiça isso tudo”, observa Jailson.

A produção de alimentos no mundo todo é suficiente para 12 bilhões de pessoas. Temos 7,6 bilhões de habitantes compartilhando o planeta Terra e um desperdício de 35% do que é produzido. Ou seja, a logística não tem colaborado com a erradicação da fome. Quando a comida vira especulação e poder, fica difícil distribuí-la corretamente e de maneira justa.

A bióloga Luisa Haddad é a idealizadora do Pé de Feijão, negócio social que faz uso de hortas urbanas em São Paulo para aproximar pessoas do alimento, entre outras funções. Para ela, o acesso à alimentação saudável é um propósito de vida, do qual o brasileiro precisa se apropriar. “Chegam alimentos ultraprocessados, como refrigerante e salsicha onde não chegam frutas, legumes e verduras, onde não chega nem a água potável”, contestou, complementando que “por muitas vezes as pessoas não comem bem por falta de informação, tem família que sabe onde conseguir o arroz, o feijão, a mandioca, mas acredita que o macarrão instantâneo irá alimentar a família bem”. No Festival Path, Luisa participa da mesa “Alimentando as mudanças no mundo”.

Como solução, a especialista aponta que uma das ferramentas para ampliar o acesso é a alimentação escolar e equipamentos públicos de alimentação. “Mas ambos precisam estar muito atentos ao movimento do campo a mesa e de realmente fortalecer a compra de alimentos direto dos produtores familiares, para que não só se garanta que a comida chegará em quem passa fome, mas que a qualidade de comida que está chegando seja adequada.”

Expandir conceitos como economia solidária, consumo consciente, agroecologia, permacultura, educação alimentar e ocupação de espaços ociosos com a criação de hortas urbanas se faz necessário para que o ciclo de alimentação adequada se concretize, de fato, reduzindo assim os vergonhosos desertos alimentares. “A gente vai apostando nessas tecnologias novas ou talvez seja o momento de voltar um pouco para trás e considerar a sabedoria ancestral como uma tecnologia. Coisas que servem para democratizar o acesso à alimentação, à informação, aos recursos tecnológicos, à oportunidades. Vamos apostando nas novas velhas práticas”, argumentou Jaison.

Uma das grandes apostas dos entusiastas pela alimentação saudável e adequada nas mesas dos brasileiros é o fomento à agricultura familiar. E não é apenas achismo. Os dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) indicam que a atividade ocupa apenas 24,3% da área agricultável brasileira, correspondendo a 38% da renda bruta do campo e a 10% do PIB brasileiro. Mas a produção é bastante significativa: 70% dos alimentos consumidos diariamente pelos brasileiros provêm do cultivo familiar. Já a grande indústria aplica seus investimentos na produção de soja e de milho.

“O principal meio de fazer a comida chegar em escala é fortalecer a agricultura familiar, que é quem efetivamente coloca a comida na nossa mesa, abastecendo o mercado doméstico. Defendemos que a produção de comida seja descentralizada, utilizando todos os recursos e espaços disponíveis, rurais ou urbanos, o que faz com que as produções subam telhados e ocupem todos os espaços ociosos”, diz Luisa Haddad.

Fonte: Festival Path

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Paraná suspende queima controlada no campo - Conexão Agro
Coluna 205 - Paraná suspende queima controlada no campo
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