A China, Nosso Agro e a África
Nunca exportamos tanto quanto em 2023. Até o momento as exportações do Brasil já alcançam mais de US$ 310 bilhões, deixando nossa balança comercial no positivo. O principal produto de exportação continua sendo a soja, com produção este ano de 156 milhões de ton. Mais de 60% do volume de soja produzido foi exportado, e deste percentual mais de 70% foi exportado para a China. Seca na Argentina, guerra na Ucrânia, relações EUA-China em constante estresse, entre outros fatores, acabaram beneficiando as exportações brasileiras do Agro, em especial a soja.
É muito bom termos um comprador tão ávido por nossos produtos agrícolas, por outro lado, essa situação cria uma dependência muito grande pelo mercado chinês. E, por parte dos Chineses, há também preocupação com a dependência em alimentos de uma fonte tão distante quanto a América do Sul.
A crise de abastecimento que ocorreu na pandemia deixou muito claro a necessidade da China de mudar de uma estratégia de “Just in Time” para “Just in Case”. Ou seja, uma estratégia de “importamos quando necessário”, para “melhor termos nossas fontes de alimento mais perto”. Por esta razão a China tem investido pesado em sua “Nova rota da seda”, e em aprimorar tecnologias agrícolas para áreas tropicais.
Em visita a China entre 09 a 18 de outubro de 2023, presenciamos as comemorações dos 10 anos deste grande plano sendo implementado pelo presidente Chinês, Xi Jinping, de criar grandes infraestruturas de transporte e comunicação na Ásia, África e Europa. Presidentes de vários países europeus, asiáticos, e principalmente africanos estavam presentes discutindo e apresentando os avanços alcançados no desenvolvimento de ferrovias, rodovias, aeroportos, portos e outros meios de transporte de carga, bens e pessoas, além de estratégias de mercados comuns de comercialização.
Sessenta por cento dos créditos disponibilizados pela China para a construção de infraestrutura estão indo para a África, principalmente para os países da África subsariana, região que possui condições edafoclimáticas muito semelhantes as regiões produtoras de grãos do Brasil, com potencial de produção que ultrapassa os 200 milhões de hectares.
Apesar da África ainda enfrentar desafios complicados em termos de organização política, social e de enfrentamento a extrema pobreza, a criação de infraestrutura para produção, armazenamento e escoamento de safras, e a chegada de pessoal treinado em agricultura tropical está levando avanços.
O desenvolvimento, já em curso por instituições chinesas, de variedades de milho, soja, algodão, etc, adaptadas a estas regiões tropicais colocará, nas próximas décadas, o fornecimento de grãos para a China a meio caminho de distância, quando comparamos com o fornecimento que hoje está situado nas américas.
Em nossa visita participamos também do Workshop conjunto China-Brasil de Pesquisa e Inovação para Produção de Soja Sustentável. O evento ocorreu na cidade Sanya, localizada na Ilha de Hainan, extremo sul da China, onde o governo criou um dos maiores centros de inovação tecnológica em agricultura tropical do mundo.
Estivemos reunidos no Yazhouwan National Laboratory participando do Workshop "China-Brasil em pesquisa, desenvolvimento, e inovação em sistemas sustentáveis", junto com a Academia Chinesa de Ciências, e o Ministério de Ciência e Tecnologia Chinês. Aprofundamos as bases de cooperação técnica em sistemas de produção sustentáveis. Com uma classe média jovem, maior que a população brasileira, e preocupada com o meio ambiente, nosso principal cliente busca cada vez mais a sustentabilidade em suas cadeias de fornecimento.
Também visitamos o novo complexo de laboratórios da empresa de Biotecnologia DBN (Da Bei Nong Group; DBN-BC). Construídos numa área de seis hectares, em Beijing, a empresa criou uma estrutura de pesquisa e desenvolvimento utilizando estado-da-arte em equipamentos e biotecnologia agrícola.
A DBN-BC é uma empresa jovem de biotecnologia focada no Agronegócio. Assim como a gigante chinesa de sementes, Long Ping, também abriu recentemente escritório no Brasil e Argentina, onde já está começando a disponibilizar no mercado cultivares de soja e milho com características de interesse para a agricultura. Certamente serão importantes players no mercado de sementes nos próximos anos.
Ao visitar a China pela décima vez em 20 anos, e ver as estratégias sendo implementadas por nosso maior cliente na compra de nossa soja e outros produtos agrícolas, fica a sensação de que, urgentemente, temos que começar a agregar valor aos nossos produtos agrícolas. Já fazemos isso ao utilizar nossos grãos para produzir carnes de aves, suínos, bovinos, etc, Mas precisamos mais do que isso. O grande momento que vivemos no mundo com a transição de uma economia fóssil para uma economia da química verde, é uma enorme oportunidade de agregação de valor para o Brasil.
Será que nossa indústria está se preparando como deveria para utilizar os produtos de nossa agricultura para produção de biocombustíveis, bioplásticos, nanocompostos, etc? Se não estivermos preparados, daqui a alguns anos poderemos não ter o volume de demanda que temos hoje, pois talvez nosso principal cliente poderá ter uma fonte, mais próxima e mais barata de fornecimento grãos.
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