quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Como a agricultura do Rio Grande do Sul poderá estar preparada face às mudanças climáticas
Alexandre Nepomuceno
27/10/2024

Como a agricultura do Rio Grande do Sul poderá estar preparada face às mudanças climáticas

 

Alexandre Nepomuceno, PhD, Chefe-Geral Embrapa Soja

Das últimas cinco safras gaúchas de verão, quatro passaram pelo forte impacto das mudanças climáticas globais com secas extremas ou excessos hídricos nunca vistos em 100 anos de história. Por exemplo, na safra 21/22, tivemos a maior seca dos últimos 93 anos na região sul do Brasil e, somente no Rio Grande do Sul, as perdas na cultura da soja foram estimadas em mais de U$ 6,6 bilhões em grãos não colhidos. E quando esperávamos, na safra 23/24, um recorde de produtividade no estado tivemos a catástrofe das enchentes, com prejuízos imensos e incalculáveis para a agricultura e economia gaúcha. Quando eventos climáticos extremos ocorrem, as perdas são inevitáveis.

Somente uma preparação adequada, anos antes, pode auxiliar na redução de prejuízos. Uma série de práticas agrícolas como o plantio direto, a rotação e a diversificação de culturas, além da constante cobertura do solo com espécies que respeitem a aptidão agrícola da área, estão entre as principais estratégias de ação. Estas técnicas auxiliam principalmente na melhora do perfil do solo, facilitando a absorção e a retenção de água e nutrientes. Assim, quando as secas ocorrem, estes elementos ficam mais facilmente disponíveis às plantas.

Sãos estas as mesmas técnicas que impedem o escorrimento imediato da água e solos para córregos e rios, quando ocorrem chuvas excessivas, reduzindo as chances, a intensidade e a velocidade com que os alagamentos acontecem. Fazer com que a água da chuva penetre de forma adequada, ficando retida em várias camadas, pela matéria orgânica e outros componentes do solo, ou fazer com que seja captada em reservatórios como açudes, represas, lagos e até bacias de contenção, certamente auxiliarão tanto em eventos de seca quanto de excesso hídrico. Mas, além das técnicas já conhecidas, é necessário manter o avanço científico, trazer novas soluções. Por isso, o papel chave de se investir em instituições que conduzem pesquisa e desenvolvem estratégias de prevenção e mitigação de efeitos advindos das mudanças no clima.

A preparação contra situações extremas não acontece do dia para a noite, leva tempo. São várias ações que se complementam e que podem ser feitas de preferência de forma conjunta, entre elas: implementação de práticas de manejo adequado dos solos, das culturas e das paisagens; monitoramento agrometeorológico preciso e correto, antecipando eventos; desenvolvimento de variedades de plantas e animais mais resistentes e tolerantes; identificação da aptidão de uso para cada área/região, impedindo situações de risco, mas oferecendo opções de uso que permitam aos produtores ganhos de renda.

Difundir estas práticas agrícolas, criando mecanismos de capacitação, financiamento e até de persuasão ao uso destas tecnologias poderão amenizar os impactos das mudanças climáticas cada vez mais frequentes e intensos em todos os níveis de nossa sociedade e economia. Plataformas regionais como a criada pela EMBRAPA envolvendo vários centros de pesquisa, principalmente os localizados no sul do Brasil, já estão trabalhando não apenas no desenvolvimento de novas tecnologias para recuperar o Rio Grande do Sul, mas principalmente na capacitação e transferência de protocolos e tecnologias que auxiliem os produtores do sul do Brasil a suportar de forma mais assertiva as dificuldades climáticas.

Desenvolver medidas de prevenção, mitigação e mesmo readequação de sistemas de produção em risco não estão somente na mão da pesquisa científica. Políticas públicas, de estado, devem ser criadas que incentivem a adoção das melhores práticas e os melhores sistemas de produção específicos para cada característica regional, levando em conta tipos de solo, clima e características culturais da população.

É importante, também, estar claro para toda a sociedade que o setor público sozinho não consegue cobrir todas as ações necessárias para que estejamos prontos para lidar com as mudanças climáticas globais. Como em qualquer país desenvolvido, o setor privado, principalmente através de parcerias público privadas, tem que unir forças visando a proteção do sistema produtivo e da qualidade de vida da população.

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