O mercado de trabalho no meio rural
A expansão da agropecuária que a cada ano registra novos recordes, vem atraindo profissionais de diferentes áreas do conhecimento e contribuindo para superar antigos e novos desafios da produção agropecuária nacional. Tecnologias como o uso de drones e imagens de satélite, a agricultura de precisão, a conectividade e a chamada “internet das coisas” (IoT), entre outros, vem invadindo o campo e contribuindo para uma especialização ainda maior do setor.
Paradoxalmente, apesar da grande visibilidade, em muitas regiões produtores enfrentam dificuldades em relação à escassez e a qualificação da mão de obra, até mesmo em atividades manuais e menos tecnificadas. Os elevados custos de produção e a natureza das atividades, que na maioria das vezes é tomadora de preços à mercado, exigem uma ampla profissionalização na gestão das atividades agropecuárias, de difícil aderência nas pequenas e médias propriedades, onde se enquadram a maioria dos imóveis rurais no país. A complexa equação entre oferta e demanda por mão de obra, agrava ainda mais esse quadro, influenciado por questões como a sazonalidade das diferentes culturas (e das receitas), a aptidão agrícola e cultural dos trabalhadores, das condições de trabalho, tais como: acesso, moradia, educação, saúde, segurança (laboral e patrimonial), entre outros. Ainda com relação aos trabalhadores rurais, o censo agropecuário de 2017 mostrou uma redução de 1,5 milhões de trabalhadores em dez anos (9%). Especialistas apontam a mecanização como a principal causa, e a qualificação como alternativa, mas o setor como um todo ainda precisa se reinventar para superar alguns paradigmas.
Criada em 2005 a Norma Regulamentadora – NR 31, tem por objetivo estabelecer os preceitos a serem observados no planejamento e no desenvolvimento das atividades do setor com atenção à prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho rural. O volume e a complexidade das exigências, fez com que o documento até hoje, em muitas regiões do País, tivesse pouca aplicação prática, expondo empregadores e trabalhadores. Normas complementares e revisões extremamente necessárias ao texto original foram feitas e especialistas relatam avanços, mas assim como a própria reforma trabalhista, pouco contribuíram para que as relações de trabalho no campo melhorassem significativamente. Os episódios recentes de trabalhadores flagrados em condições análogas à escravidão, em regiões produtoras desenvolvidas, reascendem a importância do tema.
ESG, modelos de trabalho, diversidade e Inclusão, são os temas mais presentes na agenda dos líderes de RH e CEOs de todo o mundo, inclusive das grandes empresas do Agro, mas ainda estão longe de serem compreendidos em muitas regiões produtoras, dificultando a comunicação e uma aproximação maior do setor com a sociedade. Com a especialização cada vez maior das atividades agropecuárias e das unidades produtivas, é urgente que a especialização da mão de obra seja de fato reconhecida e valorizada, especialmente por empregadores.
Que a revolução tecnológica que invade o campo possa trazer respostas também no campo das relações de trabalho, em um processo inclusivo e participativo, que beneficie especialmente produtores e trabalhadores, mas também toda à sociedade.
Arthur Piazza Bergamini
Engº Agrônomo.
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