sábado, 07 de setembro de 2024

Reunião de Pesquisa de Soja dá início às comemorações dos 50 anos da Embrapa Soja
Alexandre Nepomuceno
13/07/2024

Reunião de Pesquisa de Soja dá início às comemorações dos 50 anos da Embrapa Soja

Na última semana do mês de junho, Londrina-PR sediou a 39ª edição da Reunião de Pesquisa de Soja (39ª RPS), organizada pela Embrapa Soja, o Centro Nacional de Pesquisa de Soja da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O evento, ao longo de sua quase quarenta edições, tem contribuído para a evolução dessa cultura no país, sendo um dos principais fóruns de debate dos problemas e das oportunidades da cadeia produtiva da soja. Também, a 39ª RPS abriu as comemorações do aniversário dos 50 anos da Embrapa Soja que acontecerá em 2025. As celebrações se encerrarão em julho de 2025 no 10º Congresso Brasileiro de Soja que ocorrerá na cidade de Campinas-SP.

No seu segundo ano em novo formato, a 39ª RPS ampliou a aproximação da pesquisa com a cadeia produtiva, trazendo mais dinamismo e encurtando cada vez mais a distância entre a ciência básica/aplicada e a inovação no campo. Responsável pela principal fonte de proteína de baixo custo no planeta, matéria-prima base na produção de rações e vários outros produtos, a soja é uma cultura democrática, sendo produzida por grandes produtores, mas, também, por médios e pequenos, principalmente nos estados do sul do Brasil.

Esta constatação foi um dos pontos altos da Reunião, quando foi lançada a Circular Técnica n° 204 da Embrapa Soja, mostrando que, apesar da percepção contrária da maioria das pessoas, a soja é também uma cultura de pequenos produtores familiares. Segundo essa publicação, mais de 70% dos produtores de soja do Brasil não são grandes produtores. Dos mais de 236 mil produtores de soja brasileiros, 160 mil são produtores com menos de 50 ha, nos estados do PR, SC e RS. A cadeia produtiva da soja é um dos alicerces da economia brasileira e importante fonte de renda para muitos agricultores familiares. Em 2023 a produção de soja brasileira foi responsável por quase 6% do PIB brasileiro e mais de 2,2 milhões de empregos, segundo dados da ESALQ-CEPEA.

Ao completar 50 anos de existência, a Embrapa Soja busca trazer ao setor uma visão não apenas de curto prazo, mas também de médio e longo, em que a sustentabilidade da cadeia seja ambiental, mas também econômica e social.

A agregação de valor aos produtos advindos da cadeia produtiva da soja é crucial e foi um dos temas de debate na 39ª RPS. Da soja já produzimos carnes e biodiesel, mas é preciso fazer mais. É estratégico estimular a indústria brasileira a acreditar e investir na transição da economia fóssil para a economia da química verde.

É preciso aumentar a demanda, por exemplo, para o uso de soja para produção de biocombustíveis mais avançados como o Diesel Verde (HVO) e o Combustível Sustentável para Aviação (SAF), ou mesmo para o uso na confecção de produtos inovadores como bioplásticos e materiais vulcanizados. Pode até parecer algo novo, mas não é. A ideia do uso da soja para produção de bioplásticos já vem dos anos 40, quando Henry Ford apresentou o primeiro carro feito de bioplástico de soja. Infelizmente, a Segunda Guerra Mundial acabou levando o mundo para o uso maciço de metais e petróleo na indústria armamentista, e consequentemente na automobilística. Uma visão do que poderia ter sido o uso da soja como matéria prima na indústria automobilística pode ser visto neste vídeo https://youtu.be/kS6e797W4iA, de pouco antes dos EUA entrarem na guerra.

Certamente, a evolução tecnológica ao longo das últimas décadas trouxe ainda mais possibilidades de usos da soja na indústria química. Sendo o Brasil uma potência agrícola, temos que estar atentos a estas oportunidades, mas também aos riscos. Exportamos, em 2023, 60% de nossa produção em grão, mais de 70 milhões de toneladas (80% das exportações de grãos) foram para a China. O que acontecerá nas próximas décadas se a China realmente tiver sucesso em comprar soja de países africanos que estão na metade do caminho entre Brasil e China? Buscar novos mercados pode ser uma estratégia, mas agregar valor internamente certamente é a melhor alternativa de médio e longo prazo.

Existe um conceito equivocado de que o aumento do uso da soja para a indústria química de biocombustíveis e outros materiais oriundos do refino de óleos vegetais como o da soja iria competir com a produção de alimentos. Certamente vários interesses estão por detrás desta alegação, mas na prática, hoje, poderíamos dobrar a área de plantio de soja somente em cima de pastagens degradadas, sem derrubar nenhuma árvore. Num dos painéis da 39ª RPS foi lembrado e discutido que ao mesmo tempo que produzimos óleo de soja, estamos também produzindo proteína em grandes volumes. Ou seja, manteríamos o atendimento à demanda mundial por proteína vegetal, além de produzirmos óleo para refino na indústria química.

Foi lembrado também que conseguimos produzir soja em todo o Brasil, pois dominamos o manejo da cultura, os tratos culturais, o controle de pragas e doenças, além de já termos toda uma infraestrutura de transporte e armazenamento, diferentemente de outras culturas candidatas ao uso na indústria química. O Brasil é rico em alternativas para produção de óleo, como dendê, macaúba, babaçu, pinhão manso, entre outras, mas, sem dúvida, por todo o know-how e a capacidade de produção, certamente o óleo de soja será a porta de entrada do uso de óleos vegetais em larga escala na indústria química mundial.

Nos próximos meses, nas comemorações dos 50 anos da Embrapa Soja, estaremos trazendo o debate sobre temas importantes como os descritos acima, discutidos na 39ª RPS. A economia brasileira e, consequentemente, a qualidade e o padrão de vida dos brasileiros depende muito do setor agrícola nacional. Não somente da cadeia produtiva da soja, mas de todo o sistema de produção envolvendo culturas como o milho, o algodão, o trigo e outros cereais de inverno, além da produção pecuária. Como será nossa agricultura nos próximos 50 anos? Nosso país não pode trabalhar exclusivamente com a estratégia atual e continuarmos sendo somente exportadores de matéria-prima bruta. Vamos pensar grande.

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