Em cenário de mudanças climáticas globais, os atuais níveis de produtividade da agricultura serão afetados com temperaturas mais quentes. Mas a boa notícia é que é possível minimizar os impactos por meio de ajustes que possam controlar o ambiente e o uso de produtos que protegem as plantas. “O que vai ocorrer daqui a 100 anos é difícil prever mas, neste cenário, a tendência é continuar aumentando a emissão de gás de efeito estufa e, consequentemente, a elevação da temperatura”, afirma professor e pesquisador Paulo César Sentelhas, especialista do Departamento de Agrometeorologia da Esalq/USP.
Ele proferiu a palestra “Mudanças Climáticas e seus Impactos na Agricultura”, durante a Conferência Internacional promovida pela Santa Clara Agrociência, entre 18 e 20 de junho, em Ribeirão Preto (SP). Na ocasião foi inaugurada a fábrica de fertilizantes especiais da Santa Clara, em Jaboticabal, interior de São Paulo.
Cerca de 80% da variabilidade da produção agrícola no mundo se deve à variabilidade das condições climáticas ao longo do ciclo das culturas. Porém, os impactos não são apenas sobre o crescimento e desenvolvimento da cultura, mas também nas atividades de manejo e na ocorrência de pragas e doenças.
“A elevação da temperaturas influencia diretamente no processo de fotossíntese, respiração de crescimento e de manutenção, duração do ciclo, além de injurias foliares, ou seja, problemas fisiológicos que afetam adversamente o crescimento e o rendimento das culturas”, explica o especialista”.
De acordo com Sentelhas, é preciso buscar alternativas para tentar minimizar esses impactos, por meio de ajustes que possam controlar o ambiente. “Não vamos conseguir mudar as condições de temperatura, mas podemos adaptar e manejar a época de semeadura, a região de cultivo, a altitude onde se vai plantar e ainda a fazer a irrigação para reduzir a temperatura da superfície vegetal. Além de fazer uso de produtos que refletem a radiação, alterando a condição térmica da superfície das folhas e dos frutos”, sugere.
O que os estudos mostram é que ao haver o aquecimento, o café, por exemplo, vai encurtar o ciclo e a produção poderá cair num período que talvez seja desfavorável para cultura. Haverá muito problema de abortamento floral, o que prejudica o processo de formação de frutos e provoca a quebra na produção.
Nesta situação, prossegue ele, é preciso buscar desenvolver novas cultivares, que possam enfrentar condições de temperaturas mais elevadas. “Não só o café, mas todas as culturas sofrem influencia das condições térmicas, em razão da temperatura interferir no metabolismo das plantas. Sob condições de temperaturas maiores, o metabolismo acelera e o ciclo encurta. Em temperaturas menores ocorre o oposto”, avalia.
Ele sugere o melhoramento genético e o desenvolvimento tecnológico como ações de mitigação para os impactos na agricultura. “Se pegarmos o material genético que existe hoje e continuarmos cultivando ‘ad eternum’, obviamente a gente vai perder em produtividade”, afirma Paulo César Sentelhas.
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