terça-feira, 12 de novembro de 2024

Ajustes minimizam impactos das mudanças climáticas na agricultura

Em cenário de mudanças climáticas globais, os atuais níveis de produtividade da agricultura serão afetados com temperaturas mais quentes. Mas a boa notícia é que é possível minimizar os impactos por meio de ajustes que possam controlar o ambiente e o uso de produtos que protegem as plantas. “O que vai ocorrer daqui a 100 anos é difícil prever mas, neste cenário, a tendência é continuar aumentando a emissão de gás de efeito estufa e, consequentemente, a elevação da temperatura”, afirma professor e pesquisador Paulo César Sentelhas, especialista do Departamento de Agrometeorologia da Esalq/USP.
Ele proferiu a palestra “Mudanças Climáticas e seus Impactos na Agricultura”, durante a Conferência Internacional promovida pela Santa Clara Agrociência, entre 18 e 20 de junho, em Ribeirão Preto (SP). Na ocasião foi inaugurada a fábrica de fertilizantes especiais da Santa Clara, em Jaboticabal, interior de São Paulo.
Cerca de 80% da variabilidade da produção agrícola no mundo se deve à variabilidade das condições climáticas ao longo do ciclo das culturas. Porém, os impactos não são apenas sobre o crescimento e desenvolvimento da cultura, mas também nas atividades de manejo e na ocorrência de pragas e doenças.
“A elevação da temperaturas influencia diretamente no processo de fotossíntese, respiração de crescimento e de manutenção, duração do ciclo, além de injurias foliares, ou seja, problemas fisiológicos que afetam adversamente o crescimento e o rendimento das culturas”, explica o especialista”.
De acordo com Sentelhas, é preciso buscar alternativas para tentar minimizar esses impactos, por meio de ajustes que possam controlar o ambiente. “Não vamos conseguir mudar as condições de temperatura, mas podemos adaptar e manejar a época de semeadura, a região de cultivo, a altitude onde se vai plantar e ainda a fazer a irrigação para reduzir a temperatura da superfície vegetal. Além de fazer uso de produtos que refletem a radiação, alterando a condição térmica da superfície das folhas e dos frutos”, sugere.
O que os estudos mostram é que ao haver o aquecimento, o café, por exemplo, vai encurtar o ciclo e a produção poderá cair num período que talvez seja desfavorável para cultura. Haverá muito problema de abortamento floral, o que prejudica o processo de formação de frutos e provoca a quebra na produção.
Nesta situação, prossegue ele, é preciso buscar desenvolver novas cultivares, que possam enfrentar condições de temperaturas mais elevadas. “Não só o café, mas todas as culturas sofrem influencia das condições térmicas, em razão da temperatura interferir no metabolismo das plantas. Sob condições de temperaturas maiores, o metabolismo acelera e o ciclo encurta. Em temperaturas menores ocorre o oposto”, avalia.
Ele sugere o melhoramento genético e o desenvolvimento tecnológico como ações de mitigação para os impactos na agricultura. “Se pegarmos o material genético que existe hoje e continuarmos cultivando ‘ad eternum’, obviamente a gente vai perder em produtividade”, afirma Paulo César Sentelhas.

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