sábado, 07 de setembro de 2024

Agronegócio

Chefe da Embrapa Soja aposta em parcerias público-privadas para alavancar pesquisa agrícola

Tags: cadeia produtiva da soja, ciência, Embrapa Soja, inovação

Visto como protagonista para suprir a demanda de alimentos no mundo nos próximos anos, o Brasil depende de dois fatores: aumento da produtividade e adequação de áreas para produção agrícola, que envolvem exclusivamente os  avanços da pesquisa.
No entanto, a pesquisa pública passa por momentos difícieis e de orçamento restrito, além do domínio de grandes multinacionais do setor. Esses fatores comprometem o trabalho de instituições públicas importantes como a Embrapa, que continua desempenhando seu trabalho, mas dentro dos limites impostos por orçamentos cada vez mais curtos e pela perda de pesquisadores para o setor privado e para outros países.
O chefe geral da Embrapa Soja, em Londrina (PR), Alexandre Nepomuceno, que assumiu o cargo no início de outubro, fala das dificuldades orçamentárias, mas aposta nas parcerias público-privadas para ajudar a reverter este cenário de escassez de recursos e alavancar a pesquisa.
Recursos – “Assim como em várias áreas do governo federal, nosso orçamento também foi reduzido consideravelmente. Existe um esforço de chefes de unidades da Embrapa para tentar reverter isso junto ao Governo Federal e Congresso. Por outro lado, o setor público não consegue arcar com tudo, por isso, as parcerias público-privadas serão cada vez mais fundamentais para que o Brasil se mantenha atualizado no tocante à inovação e tecnologia para o campo”.
Setor privado – Segundo Nepomuceno, nos países, desenvolvidos o setor privado investe 60% em ciência e inovação, enquanto o setor público em torno de 40%. “Hoje, o Brasil está investindo em torno de 1% do Produto Interno Bruto (PIB), o que é muito pouco se comparado aos Estados Unidos, Japão, Alemanha e Israel, que investem cerca de 3% do PIB. No Brasil, o empresário do agronegócio tem muito que avançar. O governo federal tem que repor os investimentos, mas os empresários do agro precisam ter esta visão de que é necessário investir em Ciência e Tecnologia”.
Soja – Para Nepomuceno, todo desenvolvimento tecnológico para produção agrícola pode ser creditado aos significativos investimentos públicos realizados em décadas passadas às instituições públicas. “A soja, em conjunto com outras cadeias produtivas, é o principal alicerce do agronegócio brasileiro, que vem mantendo a balança comercial, principalmente no momento de crise”.
Tecnologia – “Nos últimos 40 anos, houve um aumento de 500% na produção de soja com um aumento de área entre 100% a 200%. Isto significa alto nível tecnológico para gerar todo esse ganho de produtividade, mas infelizmente, pouco retornou para o reinvestimento em pesquisa, quase nada. Uma pequena parte até volta, na forma de impostos, para manter entidades como Embrapa, mas não como custeio de pesquisa”, afirma Nepomuceno.
Na opinião dele, é preciso haver uma mudança de cultura no Brasil para que o empresariado do agro brasileiro reserve parte dos seus ganhos para investir nas parcerias publico-privadas. “Se não vamos ficar sempre brigando com grandes grupos internacionais para não pagar royalties”.
Incentivos – Os Estados Unidos, diz Nepomuceno, apresentam um sistema chamado check off, criado na década de 1990, que a cada saca de soja vendida, 0,5% do valor retorna para um fundo de pesquisa gerenciado por produtores e a comunidade científica. “Esse sistema americano tem alimentado um mundo de inovações tecnológicas nos EUA, que acabam chegando no Brasil por meio das empresas americanas. Precisamos de um sistema semelhante para que jovens brasileiros recebam investimentos para suas startups. É preciso investir em know how nacional”.
Nepomuceno destacou que a Embrapa tem papel importante nas parcerias com universidades, de onde vão sair os novos pesquisadores com know how nacional, porém muito vem se perdendo porque não existe nenhum mecanismo de incentivo para reter jovens pesquisadores no Brasil.”Tem que ter algum tipo de sistema, de incentivo aos cientistas brasileiros, nos EUA eles chamam de seed money.”

Genoma – O chefe da Embrapa destaca as transformações digitais que vêm ocorrendo como o uso de drones e aplicativos nas lavouras; a internet das coisas, com seus sensores para maquinários de última geração. Entretanto, alerta para uma outra transformação que está passando despercebida que é a da genética. “Se investe muito em startups da área digital e não da genética. Na Embrapa já estamos desenvolvendo plantas de soja com genoma editado, sem utilizar a tecnologia dos transgênicos, que ficou cara. Na edição de genoma conseguimos alterar os genes da própria especie imitando o que a natureza faz. É uma revolução que vem por aí. Startups argentinas já estão usando essas tecnologias. Está se abrindo um mercado para soluções do agronegócio e o Brasil infelizmente não está investindo muito nisso”.

Parcerias – A Embrapa tem várias parcerias em andamento, uma delas é com uma empresa que apresenta tecnologia com potencial para substituir o uso de defensivos agrícolas – o RNA interferente. “São tecnologias que mostram quebras de paradigmas e o Brasil precisa estar antenado para este ganho não ir pra fora”, alerta.
Outro exemplos de parcerias  da Embrapa são na área de bioinsumos. “O Brasil tem um grande potencial. A maior biodiversidade do planeta, ou seja, 25% biodiversidade, está no Brasil.Temos muito microoganismo, bactérias, fungos, patógenos que podem ser utilizados no controle de insetos e outras doenças”.

Chefe da Embrapa Soja, Alexandre Nepomuceno

Cadeia produtiva da soja está centrada em sustentabilidade

Alexandre Nepomuceno ressalta a relevância da cultura da soja para o agronegócio brasileiro, que representa 21% do Produto Interno Bruto (PIB). O Brasil tornou-se um importante player, sendo atualmente o maior produtor mundial de soja com aproximadamente 120 milhões de toneladas e maior exportador do grão. Cerca de 80% da soja brasileira é destinada para a China.
“Aquele chavão de que o Brasil é o celeiro do mundo nunca foi tão verdadeiro. Nenhum outro país no mundo consegue produzir três safras anualmente na mesma área. É o único que consegue aumentar em até 10 milhões de hectares, nos próximos anos, sem invadir áreas de preservação, usando pastagens degradadas e outras áreas que não impactam o meio ambiente”.
Sustentabilidade – A cadeia produtiva da soja está centrada na sustentabilidade com tecnologias como o desenvolvimento de cultivares adaptadas, o manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas, o uso de biotecnologia pelo melhoramento genético, assim como técnicas de manejo e conservação de solo, como o Plantio Direto. Outra tecnologia sustentável, a Fixação Biológica de Nitrogênio, tecnologia que ao usar bactérias para fixar nitrogênio, dispensam o uso de adubos nitrogenados.
A exemplo da embrapa Gado de Corte, no Mato Grosso do Sul, que lançou o selo da Carne Carbono Neutro, a ideia agora é desenvolver um selo para mostrar a sustentabilidade da soja. Para isto, serão criados parâmetros quantificáveis de práticas conservacionistas, que já começam a ser estudados.

Cerrado – Os desafios tecnológicos para a cadeia produtiva da soja e a busca por soluções sustentáveis para melhoria da eficiência e da rentabilidade no campo iniciaram na década de 1970 com a Embrapa. Levar a soja para o Cerrado naquela época era algo inimaginável. Hoje está se fazendo isso com o trigo num processo de tropicalização do cereal.
“A empresa pública tem uma visão de futuro. Se hoje temos este agronegocio é porque a soja foi o grande pilar, depois vieram o milho e o algodão no Cerrado, contribuindo para que aquela região tenha um dos maiores Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil”.

Mercado – A Embrapa já chegou a ter 80% do mercado de variedades de soja, mas hoje  quem domina este mercado é o setor privado. “A Embrapa, na minha opinião, não tem que disputar o mercado de sementes. Ela criou o mercado de sementes de soja. Com outras instituições de pesquisa, ela teve papel preponderante na criação do agronegócio da soja. Não estamos preocupados com uma grande fatia de mercado, mas com a sustentabilidade ao longo do tempo. Nosso papel é com base na ciência, é garantir que a produção brasileira da soja e as cadeias produtivas da soja se mantenham sustentáveis. Entendo que o setor privado é que deve se desenvolver. Eu gostaria de ver mais empresas nacionais participando do mercado de sementes, por exemplo”.

Colaborou Francismar Lemes e Marilayde Costa

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