A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) prevê para 2020 uma alta do Valor Bruto da Produção (VBP), crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, maior possibilidade de financiamento privado para o setor e maior atuação da entidade na área internacional.
As estimativas foram apresentadas na quarta (4) pela CNA, em Brasília, que divulgou o balanço de 2019 e as perspectivas para o ano que vem do setor agropecuário.
De acordo com a CNA, a expectativa para o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP), que mede a receita do setor “dentro da porteira”, é de uma alta de 9,8% em 2020 em relação a 2019. Assim, o faturamento do setor pode chegar a R$ 669,7 bilhões.
O resultado será puxado pela pecuária, que deve crescer 14,1% e alcançar o valor de R$ 265,8 bilhões, o que indica que 2020 será o ano do setor, com perspectivas de aumento da produção. Para a carne bovina, a estimativa é de expansão de 22,2% no VBP do próximo ano na comparação com 2019, atingindo uma receita de R$ 129,1 bilhões.
Também há previsão de alta para o VBP de outras proteínas animais, como os suínos (9,8%), pecuária de leite (7,5%) e frangos (7,1%). Já a agricultura, que teve queda em 2019, terá recuperação em 2020 e o VBP deve subir 7,2%, alcançando R$ 403 bilhões.
O principal destaque do VBP agrícola será a soja, com alta de 14,1%. A oleaginosa deve encerrar 2020 com faturamento de R$ 165,2 bilhões, impulsionada pelo aumento dos preços e da produção. O milho também terá crescimento (3,3%), por causa da valorização dos preços, assim como a cana-de-açúcar (7,1%).
Para 2019, a expectativa é de estabilidade no VBP em relação a 2018, encerrando o ano em R$ 609,7 bilhões, com a pecuária em crescimento (7%) e a agricultura com previsão de queda de 4%.
PIB – O Produto Interno Bruto do agronegócio deve crescer 3% em 2020 em relação a 2019. Apesar da maior estimativa de produção agropecuária para o ano que vem, há uma tendência de alta dos custos de produção, o que poderá impactar a renda do produtor rural em 2020.
Os custos de produção da soja, por exemplo, devem ter elevação recorde na safra 2019/2020, entre outros motivos porque grande parte dos fertilizantes foi negociada a preços acima do que em safras anteriores. Em 2019, o PIB deve crescer 1% em relação a 2018.
Safra – A expectativa da CNA para a safra 2019/2020 é de produção recorde de grãos e fibras devido às condições climáticas normais sem a incidência dos fenômenos El Niño e La Niña. Este fator traz mais ânimo aos produtores, pois em períodos com essas características dificilmente há perdas de produção provocadas por estiagem ou excesso de chuvas.
Carne – Os preços da arroba bovina tiveram um pico em novembro, chegando ao recorde de R$ 230 em São Paulo. Entre os motivos estão a estiagem prolongada, que reduziu a oferta de pasto nas propriedades, e o aumento das exportações para a China, que enfrentou problemas de abastecimento com a Peste Suína Africana (PSA) e foi obrigada a importar proteínas animais de vários outros países, incluindo o Brasil.
Por outro lado, o consumo doméstico apresentou sinais de recuperação em função da melhoria da economia e proximidade das festas de final de ano.
Crédito e política agrícola – Para 2020, a expectativa de melhoria dos indicadores macroeconômicos pode alavancar o financiamento privado para o agro. O comportamento da taxa Selic e da inflação podem criar um ambiente favorável para o setor e estimular maior concorrência entre as instituições de crédito.
Neste contexto, a CNA também vai apresentar em 2020 uma proposta de Plano Plurianual Agropecuário para auxiliar o governo a construir uma estratégia de planejamento de médio prazo para a política agrícola brasileira. A ideia é dar mais previsibilidade ao setor, aprimorar os instrumentos de gestão de riscos como o seguro rural e dar mais segurança jurídica com a melhoria do ambiente de negócios para proporcionar a melhoria de renda ao produtor rural.
Balança comercial – China, União Europeia, Estados Unidos, Japão e Irã foram os principais destinos para as exportações do agronegócio brasileiro em 2019. Esses cinco mercados responderam por 63% das vendas externas do setor.
O maior aumento observado foi para o Japão. Entre janeiro e outubro de 2019, o país importou do Brasil US$ 913,9 milhões a mais do que no mesmo período de 2018. Houve aumento nas vendas de milho, carne de frango in natura, farelo de soja, café verde e outros produtos menos tradicionais como os amendoins, as lagostas e as ceras de abelha.
Em 2020 a Ásia continuará como um importante parceiro do agro brasileiro, com aumento de exportações e inclusão de novos produtos na pauta de comércio, como frutas, lácteos, produtos apícolas, cafés especiais e pescados.
Em 2019, a soja em grão liderou o ranking das exportações brasileiras para o mundo, com US$ 23,2 bilhões em vendas. Em seguida vieram a celulose (US$ 6,56 bilhões), o milho (US$ 5,92 bilhões), a carne de frango in natura (US$ 5,5 bilhões), e a carne bovina in natura (US$ 4,98 bilhões).
A China é já o principal importador de carnes de frango, bovina e suína do Brasil. Em 2019, o país aumentou suas importações desses três tipos de carnes brasileiras na comparação com 2018.
Internacional – A CNA vai intensificar sua atuação internacional com escritórios na China, já em funcionamento em Xangai, e em Singapura, na busca pela ampliação de mais espaço no continente asiático para os produtos do agro brasileiro. Entre as cadeias produtivas consideradas prioritárias estão: aquicultura, mel, lácteos, café, frutas, flores e hortaliças.
Também está prevista a abertura de quatro escritórios regionais de promoção comercial do agro brasileiro na Rede Agropecuária de Comércio Exterior (InterAgro), que vão atuar em parceria com as representações da CNA na Ásia. A iniciativa é uma parceria com a Apex-Brasil para inserir cada vez mais produtores rurais no processo de exportação.
Há, ainda, a perspectiva de aumento das exportações do agro com os acordos Mercosul-União Europeia e Mercosul-EFTA (Suíça, Liechtenstein, Noruega e Islândia), fechados em 2019, e de conclusão das negociações com Canadá e Coreia do Sul. A Confederação também defende a ampliação do acordo comercial com o México e o início das negociações com o Japão.
Um dos destaques de 2019, o programa “Do Rural à Mesa” estará presente no almoço para os jornalistas com produtos que vieram de uma propriedade em Alexânia (GO).
O programa é uma parceria entre Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) para levar Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) às propriedades rurais para diversificar a produção, melhorar a produtividade e a renda, além de proporcionar canais de comercialização direta de produtos.
O “Do Rural à Mesa” já beneficiou produtores do Distrito Federal e Goiás, que já ofertaram 220 toneladas de alimentos que são vendidos para os 17 restaurantes-escola do Senac no DF, o que movimentou mais de R$ 1,3 milhão. A meta para 2020 é contemplar 6 Unidades da Federação.