quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Agricultura Familiar

Com produção agroecológica, chácara Pacha Mama aumenta a diversidade de plantas

Imaginar a agricultura inserida em florestas pode ser algo difícil para algumas pessoas, mas é isto que o agrônomo e agricultor Onaur Ruano vem realizando com ótimos resultados na sua chácara Pacha Mama Agroecologia, no Condomínio Itaúna, Estrada do Limoeiro, em Ibiporã (PR). Em 2 hectares, ele mostra que os sistemas agroflorestais são possíveis e convivem em harmonia com uma série de plantas aromáticas, medicinais e condimentares, foco principal da Pacha Mama. 

Com essa nova abordagem da agricultura que integra diversos aspectos agronômicos, ecológicos e socioeconômicos, Ruano trabalha com uma coleção de pelo menos 130 plantas diferentes, algumas com variedades das mesmas espécies, as quais propõem um passeio pela diversidade de cheiros e gostos pelo viés sensorial. 

O horto, logo na entrada da chácara, é um verdadeiro banco de germoplasma, onde ficam as matrizes de plantas. “É daqui que saem as sementes, mudas e hastes para a produção em pequenos vasos. Ou colhe as sementes, ou corta um ramo, uma haste, para enraizar e formar outras plantas”, ensina Ruano, que é certificado como produtor rural de orgânicos pela Rede Ecovida. Isto significa que toda produção respeita os preceitos da agroecologia, não utilizando nenhum tipo de fertilizante industrializado e agrotóxico. Todo solo é coberto por palhada e como fertilizante só entra o esterco rastreado. 

Comercialização 

Ruano trabalha com duas linhas de comercialização: vasinhos vendidos nas feiras de orgânicos e as espécies reproduzidas em maior escala, como flores de calêndulas e lavanda, que são desidratadas para atender farmácias e biocosméticos.  “A flor de calêndula, por exemplo, é excelente para pomada cicatrizante para afecções da pele. O chá de mil-folhas tem propriedades para dor de cabeça e também é usado macerado para problemas de pele. A losna tem ativo hepático”, informa. 

 

Entre as espécies presentes no horto há coentro, carqueja, bardana, piperita, sete-sangria, arruda, alfavaca-cravo, erva-doce e, algumas inusitadas, como ora-pro-nóbis, capuchinha, peixinho, as chamadas Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs), que eram usadas rotineiramente na culinária há algumas décadas. 

Para quem não está acostumado com o sistema agroecológico, que se parece mais com uma área cheio de mato, Ruano logo avisa: “é assim mesmo, faz parte do sistema e da estratégia utilizada na produção orgânica, agroecologia e agroflorestal que convivem com a maior diversidade possível em meio à palhada, ao contrário da monocultura, cuja suscetibilidade à praga e doenças é altíssima”,  explica. 

“Essa convivência entre várias espécies e o mato faz com que qualquer praga que venha para esta área, entre num processo de confusão e não ache sua presa por conta dos aromas e cheiros. Um vento que bate na arruda espanta a mosca branca”, exemplifica. 

O processo de reprodução das mudas, hastes e sementes se dá numa segunda etapa. Antes de serem levadas aos vasos, é preparado um substrato com esterco do minhocário, solo comum e calcário dolomítico.  “Esse substrato preenche os vasos. Depois de reproduzidas, as plantas levam entre dois a três meses para serem comercializadas nas feiras”, conta. 

Sistema Agroflorestal 

Com o objetivo de recuperar áreas degradadas, Onaur Ruano está produzindo, na parte baixa da chácara, próximo à mata nativa, o Sistema Agroflorestal (SAF) com uma variedade de árvores como os eucaliptos, frutíferas, arbóreas, flores tropicais e bananeiras. A produção espaçada, característica das agroflorestas, vai abrigar plantas aromáticas, medicinais e condimentares. 

Esse tipo de floresta planejada é o que mais se aproxima ecologicamente da floresta natural, de acordo com as regras do SAF. “É uma floresta que está sendo reconstituída e não apenas vamos deixar o mato crescer. Então você traz plantas como os eucaliptos, moringa (árvore arbórea), bananeiras, algumas frutíferas, flores tropicais, outras ornamentais e vai introduzindo estrategicamente neste espaço”, explica Ruano, acrescentando que a bananeira é uma planta obrigatória num sistema agroflorestal, pois armazena muita água, forma massa verde rápido e serve como cobertura de solo. 

Para o pequeno agricultor, que não pode esperar entre um ano e meio a dois anos para ter retorno com a agrofloresta, Ruano recomenda plantas de ciclo curto. No curto prazo, ele já fez uma colheita de calêndula, que tem valor agregado alto, se comparado com verduras. 

Já quem quer ainda mais rapidez, ele sugere hortaliças como a rúcula, que em 30 dias está pronta para a venda, ou tomatinhos rústicos que levam 45 dias para colher. Outra alternativa são as flores tropicais que em 8 meses já estão dando corte. 

“Ao mesmo tempo em que o agricultor vai montando as arbóreas para implantar o sistema, ele pode ir fazendo o canteiro de hortaliças”, comenta.  A sustentabilidade do sistema florestal é de médio e longo prazo. “Só que até lá o agricultor familiar pode ter um conjunto de desenho de produção de curto ciclo que vai entrando enquanto as árvores estão crescendo e, ao mesmo tempo, trazendo retorno financeiro”. 

Políticas públicas 

Sob o ponto de vista da política pública, a execução de alguns programas como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) tem permitido avanço na adoção de SAFs. Após 11 anos atuando na Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Secretaria da Agricultura Família do Governo Federal, Onaur Ruano diz que a agricultura familiar tem figurado como importante componente para o desenvolvimento da economia brasileira, mas os rumos das políticas públicas são incertos. 

“Nesses últimos anos não se acabou com os programas criados, mas retiraram-se os recursos. Por outro lado, estão surgindo outros mecanismos como editais para projetos em agroecologia”. 

Só para ter ideia, Ruano lembra que mais de 70% do alimento que vem à mesa é da agricultura familiar; 54%, da pauta de exportação tem componente da agricultura familiar e 80% dos agricultores, segundo o último Censo de 2006, são da agricultura familiar. 

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No vídeo, Ruano explica como funciona o Sistema de Agrofloresta (SAF):

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Paraná suspende queima controlada no campo - Conexão Agro
Coluna 205 - Paraná suspende queima controlada no campo
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