Construção do Perfil do Solo, ferramenta importante para enfrentar o déficit hídrico e estresse térmico

Tendo em vista a ocorrência de déficits hídricos e estresse térmico cada vez mais frequentes e a intensificação dos cultivos, existe uma urgência em desenvolver estratégias que possibilitem mitigar o efeito destes fenômenos sobre os cultivos. O alerta é do professor e pesquisador, reconhecido nacionalmente por seu trabalho voltado à fertilidade e conservação do solo, agricultura de precisão, dinâmica da matéria orgânica, agricultura regenerativa e saúde do solo, Telmo Amado. A construção do perfil do solo é uma das estratégias eficazes apontada por ele para amenizar o efeito desses estresses e será tema de sua palestra nesta quarta (1’) e quinta (2 de fevereiro), às 15 horas, no Belasafra, evento realizado pela Belagrícola de 31 de janeiro a 3 de fevereiro, na Unidade de Desenvolvimento Tecnológico da empresa, em Cambé (PR).
“A Construção de Perfil do Solo favorável ao enraizamento profundo é uma necessidade para estabilizar a produção ao longo dos anos. Estudos sobre estresse hídrico e térmico de cultivos têm reportado que o estímulo ao enraizamento das plantas é uma das estratégias mais eficientes e econômicas a serem adotadas pelos agricultores”, destaca o pesquisador.
Segundo ele, embora a absorção de nutrientes pelos cultivos seja preferencialmente de uma camada superficial, a aquisição de água pelas plantas depende de uma camada mais profunda que deve ser explorada pelas raízes. Portanto, destaca, estimular o aprofundamento do sistema radicular é uma estratégia que pode mitigar o efeito de perda de produtividade por déficit hídrico. “Evidentemente, que o efeito de mitigação dependerá das práticas de manejo adotadas e da severidade do estresse ao que os cultivos estão submetidos. Venho estudando o tema há mais de uma década e publicamos um artigo no qual foi possível mitigar de 30 a 50% o efeito de estresse hídrico na produtividade de soja”, informa.
O pesquisador informa que há muitos casos de produtores que resolveram investir na melhoria da qualidade do seu solo em camadas de 0-40 cm, 0-60 cm e 0 -1,0 m com resultados animadores quanto ao aumento da produtividade e a estabilidade ao longo de várias safras.
Estratégias a serem adotadas
Amado ressalta que existem várias estratégias para se construir um perfil favorável ao enraizamento dependendo do tipo de solo, clima, tempo demandado e condições do agricultor. Porém, os princípios são basicamente os mesmos.
“Primeiramente, faz-se necessário superar limitações como a presença de camadas compactadas subsuperficiais e a presença de alumínio associada à baixa disponibilidade de cálcio. Depois, a necessidade da construção de bioporos que serão caminhos preferencias para as camadas mais profundas do solo e a melhoria da estrutura do solo. Este processo é físico-biológico e muito relacionado à rotação de culturas e culturas de cobertura adotada. Finalmente, destacaria a necessidade de recuperar o estoque de matéria orgânica e a atividade biológica do solo. Todo este trabalho de solo ainda pode ser completado pelo estímulo fisiológico à planta para enraizamento e a proteção do sistema radicular quanto ao ataque de patógenos”, esclarece.
Etapas
O diagnóstico, planejamento e acompanhamento são etapas fundamentais, de acordo com o pesquisador. Ele ressalva que o processo de construção de um perfil favorável ao enraizamento profundo é gradual, porém, uma vez construído poderá perdurar por muitos anos, desde que o processo de reacidificação seja controlado e a compactação evitada de modo a preservar a estrutura de solo construída.
“Particularmente, como pesquisador, acredito que é uma estratégia de manejo que irá agregar muito à qualidade do sistema plantio direto e ao desempenho econômico de nossas lavouras. Sempre procuro estimular os agricultores a investirem no seu bem mais valioso que é o seu solo agrícola”, destaca.