A agropecuária está em constante evolução e a preocupação com o meio ambiente tem ganhado espaço nos últimos anos, não só tendo em vista a preservação dos recursos naturais, como também para atender novas exigências do mercado. Os extensionistas do IDR-Paraná atuam junto aos agricultores familiares para que as propriedades rurais se tornem sustentáveis, equilibrando o crescimento econômico, o respeito pelo meio ambiente e o bem estar social. A partir do segundo semestre deste ano, o Instituto retoma os trabalhos de conservação de solos em microbacias, já que se tem verificado em todo o estado o retorno de problemas antigos como a erosão, o assoreamento de rios e a baixa infiltração de água no solo.
O diretor de Extensão Rural do IDR-Paraná, Diniz D’Oliveira, destacou que a intenção é, inicialmente, desenvolver uma ação mais intensa de conservação do solo em microbacias onde é feita a captação de água para o abastecimento da população. “O estado, junto com a sociedade, tem que ter bem claro o que deve ser feito para preservar o meio ambiente. Isso passa pela recuperação de nascentes, preservação das matas ciliares, aumento da infiltração de água no solo e recuperação da vazão dos rios, córregos e riachos”, observa. Segundo Diniz, a implantação do plantio direto, o cultivo sem o revolvimento do solo, fez com que muitos produtores deixassem de lado práticas conservacionistas como a manutenção da cobertura do solo e da palhada nas áreas de lavoura. “Nessas áreas de plantio direto parece que não tem erosão ou assoreamento dos rios, mas tem. Os extensionistas devem mostrar aos produtores as práticas conservacionistas que estão a sua disposição para manter os recursos naturais”, conclui o diretor.
Richard Golba, coordenador estadual de Sustentabilidade Ambiental do IDR-Paraná, reconhece que o manejo de solos e águas evoluiu bastante no Paraná nos últimos anos, mas apresenta sinais de um retrocesso. Segundo ele, em 90% das propriedades hoje se verifica a perda de qualidade do solo. “É preciso retomar esse trabalho de conservação, com um olhar não só na produção, mas também na preservação dos recursos naturais. O produtor precisa conhecer e entender quais são as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo e, com o técnico, conceber um modelo agrícola mais resiliente. Queremos um desenvolvimento que não esgote os recursos naturais no futuro”, afirma Golba.
Microbacia – A ação dos extensionistas deve atingir todo o estado. “A médio prazo cada município que tiver um escritório do IDR-Paraná terá uma microbacia, com propriedades que serão referência em manejo conservacionista integrado de solos e água. Como as bacias onde se capta água para o abastecimento da população têm preferência, a Sanepar deve ser parceira nesse trabalho”, explica Golba. Serão definidas 23 microbacias, uma para cada região do estado, onde os extensionistas vão atuar.
Os produtores que participarem desse trabalho serão orientados a atender as exigências da legislação ambiental, como a manutenção das áreas permanentes de preservação e matas ciliares. Também serão tratados outros assuntos como a rotação de culturas, a proteção de nascentes e o uso adequados dos agrotóxicos. Golba acrescentou que uma atenção especial será dada às estradas rurais. “Antigamente se falava em readequação de estradas, mas sabemos que é preciso fazer o manejo das áreas de lavoura para que a água não escorra para as estradas. Então estamos chamando esse trabalho de proteção das estradas rurais e ele tem que ser feito por toda a comunidade”, destaca Golba.
Para que esta ação chegue aos resultados esperados, Golba informa que serão recuperados os comitês de bacias hidrográficas para que seus integrantes discutam a influência e responsabilidade de cada um na qualidade final da água que deve servir como parâmetro de qualidade ambiental no meio rural. “Vamos levar em conta a multifuncionalidade da propriedade rural, ou seja, além da função econômica, é preciso destacar a função social e ambiental das propriedades. Precisamos investir na educação continuada dos produtores por meio da ação dos extensionistas que, convivendo com eles, podem melhorar a adoção das práticas nas bacias piloto. No planejamento conservacionista da microbacia hidrográfica o extensionista deve considerar os recursos naturais como um todo. Ele deve ampliar a visão para além das lavouras e pastagens”, ressalta.
Uso de agrotóxicos – Quase tudo é complexo quando se trata de meio ambiente. Uma ação num segmento frequentemente reflete em diversos outros. Por isso, um tema que deve ser abordado nos encontros com agricultores será o uso dos agrotóxicos. Golba lembra que os casos frequentes de mortalidade de abelhas no estado, por intoxicação, demonstram que o uso desses insumos está sendo feito de maneira inadequada. O coordenador de Sustentabilidade lembra que em fevereiro deste ano uma só propriedade, em Mauá da Serra, perdeu oito milhões de abelhas. “As análises indicaram a presença de resíduos de até nove produtos químicos diferentes nas abelhas. Isso mostra que tem algo errado. E a situação só vai melhorar se houver uma harmonização do cultivo de lavouras com a manutenção dos polinizadores naturais. Já existem trabalhos comprovando que é possível ter uma alta produção de mel e de soja na mesma área. Para isso, é preciso adotar boas práticas como o MIP (Manejo Integrado de Pragas), MID (Manejo Integrado de Doenças) e o manejo correto das colmeias”, ressalta Golba. A ação dos extensionistas contará com o apoio da pesquisa da área de solos do IDR-Paraná, dando suporte qualificado para propor soluções, fazer diagnósticos e planejar o trabalho de conservação de solo e dos recursos naturais no estado. O IDR-Paraná pretende estabelecer parcerias com cooperativas, instituições que representam os produtores e profissionais da área agronômica para levar adiante essa proposta de trabalho.
Fonte: IDR-Paraná