sábado, 07 de setembro de 2024

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Dia Mundial do Solo: reflexão sobre a importância desta data

Tags: conscientização, degradação, dia mundial do solo, eflexão

Um estudo produzido pela FAO revela que 33% dos solos do mundo estão degradados. Somente a erosão elimina 25 a 40 bilhões de toneladas de solo por ano, reduzindo significativamente a produtividade. Perdas de produção de cereais devido à erosão foram estimadas em uma diminuição total de mais de 253 milhões de toneladas de cereais em 2050. Cerca de 50% dos solos latino-americanos estão sofrendo algum tipo de degradação. A perda de solos produtivos prejudica gravemente a produção de alimentos e a segurança alimentar, amplifica a volatilidade dos preços dos alimentos e, potencialmente, mergulha milhões de pessoas à fome e à pobreza.

Estes são os cenários atuais e futuros caso não façamos nada. Nossos solos pedem socorro. Será que estamos prontos para ouvi-los?

Se um viajante temporal e espacial visitasse nosso planeta há cerca de 60 mil anos, não seria capaz de imaginar que uma espécie de hominídeo insignificante e habitante de algumas poucas regiões e que tinham hábitos nômades e de caça e coleta se tornariam a espécie dominante em poucos milênios.

No calendário do tempo universal proposto por Carl Sagan, onde o ano começa com o big bang e termina na era contemporânea, o ser humano aparece apenas às 22h30min do dia 31 de dezembro. Nesse calendário cósmico, nossa existência é irrelevante. Contudo, essa existência irrelevante tem o poder de dizimar a si próprio e a outros habitantes desse minúsculo pálido ponto azul.

Mas como isso foi possível? Nós realmente somos o nosso próprio lobo, como dizia Thomas Hobbes? O que nos torna tão especiais a ponto de acreditar que o mundo é uma simples praça de guerra ou uma fonte inesgotável de recursos?

Segundo o historiador Yuval Noah Harari em seu livro Sapiens: Uma breve história da humanidade, o ser humano passou por duas revoluções que mudaram totalmente o mundo. A primeira foi a revolução cognitiva que, entre outros benefícios, nos trouxe a capacidade de cooperar de maneira flexível. A segunda foi a revolução agrícola, que ocorreu por volta de 12 mil anos atrás, onde o ser humano desenvolveu técnicas de cultivo e, assim, trouxe a possibilidade de abandonar o estilo nômade e se tornar sedentário.

Esse é o nosso pano de fundo. Mas, será que é imoral culpar alguém que não está aqui para se defender? Objetivamente, quem seria esse “alguém”? Talvez não sejamos capazes de responder a essas perguntas. A espécie humana é o centro do holofote, para bem ou para mal.

Por vezes achamos que defendemos ideais magnânimos, mas ficamos inertes esperando que o outro, que alguém, que as autoridades ou alguma entidade metafísica resolva nossos problemas. Mas o tempo não espera. Ao mesmo tempo que esperamos, o relógio do juízo final foi ajustado para a marca 100 segundos para a meia-noite, no dia 23 de janeiro deste ano. E pela primeira vez o Brasil foi incluído como um dos culpados pelo avanço do ponteiro. Este relógio simbólico foi criado em 1947 para medir o risco de uma guerra nuclear, porém em 2007 ele passou a pesar os efeitos ambientais do aquecimento global.

Hoje, dia 5 de dezembro, é o dia mundial do solo. Após essas pesadas reflexões ainda pode ter quem pergunte, “mas por que precisamos de um dia para o solo?” ou, “mas por que devo me preocupar com o solo?”.

Tentaremos sintetizar as funções do solo partindo do proposto pela FAO: 95% de nossos alimentos vêm do solo; sequestro de carbono e regulação do clima; purificação da água; ciclagem de nutrientes e ciclos biogeoquímicos; habitat para inúmeros organismos; regulador de inundações; fontes de fármacos; fundação para infraestruturas humanas; provisões de recursos para a construção de materiais; herança cultural e registro histórico; fonte de fibra e combustíveis.

Dentre esses, no cenário atual que demanda tecnologias de mitigação e controle do aquecimento global, o solo tem uma função muito importante para sequestro de carbono. Sendo as tecnologias de plantio direto e sistemas integrados de produção as principais ferramentas agrícolas para contribuir para a redução do efeito estufa. Desta forma, o correto manejo do solo em áreas agricultáveis se torna imprescindível.

Com o avanço das pesquisas científicas sobre a agricultura, temos acesso ao conhecimento que anteriormente não tínhamos e que nos empurrou para o precipício da degradação dos solos. Se antes, por falta de conhecimento, produzíamos de maneira insustentável, hoje já não temos mais essa desculpa como benefício. Contudo, ainda há um vácuo entre o conhecimento científico e o produtor que, devido à uma cultura de “meus avós e meus pais faziam assim”, acaba por optar em não adotar práticas conservacionistas.

Não estamos propondo de maneira utópica que o futuro seja a agricultura orgânica. Propomos que o caminho deve passar pela quebra da dificuldade do acesso ao conhecimento, quebra de dogmas e paradigmas e pela ruptura com a cultura que acredita que os recursos são inextinguíveis. Não precisamos de debates acalorados e ideologizados, não precisamos politizar as pautas ambientais. O fomento à educação e ao diálogo sadio são nossas únicas armas para nos salvarmos de nós mesmos, visto que a salvação não virá de outro lugar.

Enfim, com esse texto provocativo e reflexivo, buscamos trazer à luz do debate o problema em todas as suas nuances e apontar que precisamos tratar desse assunto de maneira responsável. Sabemos que para o produtor a solução precisa trazer viabilidade econômica, do contrário se torna impraticável. Já há muitos textos e estudos que descrevem o problema e apontam caminhos possíveis. Desta maneira, precisamos encurtar o caminho entre o conhecimento e quem produz.

Nossa postura ante a realidade beira ao imutável. Quando apontamos o culpado como o “outro” e não como nós, nos eximimos da responsabilidade. Sendo assim, cada um deve assumir uma posição ativa. Parafraseando Jean Vien Jean, que se encaixa muito bem no contexto, “se cada um varresse a calçada da sua casa, no fim do dia a rua toda estaria limpa”. E mais, como apontou Abraham Lincoln, se destruirmos as cidades e conservarmos os campos, as cidades ressurgirão, mas se destruirmos os campos e conservarmos as cidades, estas sucumbirão.

E para finalizar, propomos a busca e divulgação sobre as ciências dos solos. Inclusive, indicamos os documentários produzidos pela Netflix “Solo fértil” e “David Attenborough e o nosso planeta”. Conversem com os amigos, professores e produtores sobre o tema, alimentem nossas crianças com a esperança e a educação. Se nos permite apenas mais uma reflexão, caro leitor, vamos citar a grande Ana Primavesi, “o homem é o que o solo, ou a terra, faz  dele”.

 

Artigo: Jonatas Firmino Langame, estudante do Curso de Agronomia da Unopar/Piza

 

 

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