O Brasil é um player importante nos estudos de biopesticidas, pondendo também ocupar posição relevante no mercado mundial. Para contribuir com a superação desse desafio, a própria pesquisa brasileira reúne informações sobre um dos mais significativos agentes biológicos no controle de doenças em diferentes culturas agrícolas. O compêndio, Trichoderma – uso na agricultura, lançado pela Embrapa, é a maior publicação de conhecimentos do agente biológico com textos de 99 autores.
O livro foi organizado pelos pesquisadores, Maurício Conrado Meyer (Embrapa Soja) Sérgio Miguel Mazaro (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) e Juliano Cesar da Silva (Biotrop).
O mercado global de biofungicidas ou bioinsumos está em expansão, o que abre oportunidades para a pesquisa e a produção de produtos brasileiros.
De acordo com os autores da publicação, a partir de dados da consultoria Markets & Markets, o mercado mundial de biopesticidas cresce 15% ao ano. Em 2017, a comercialização global ficou em torno de U$ 6,4 bilhões. A expectativa é que até 2024, os valores cheguem a U$ 16,7 bilhões.
Hoje existem, pelo menos, 246 produtos biológicos à base de Trichoderma registrados em diferentes países. Entre as várias espécies presentes na natureza, o Trichoderma harzianum é a mais empregada no controle biológico de doenças de plantas, presente em 38% dos produtos.
O Trichoderma é um fungo habitante de solo, que está presente tanto em regiões de clima temperado quanto tropical. O fungo pode colonizar madeira em decomposição, cogumelos e orelhas de pau. Também parasita outros fungos que representam ameaça para diferentes espécies de plantas.
No Brasil, o mercado de biológicos também está em crescimento. As vendas saltaram de R$ 262,40 milhões, em 2017, para R$ 464,5 milhões, em 2018, o que representou um avanço de 77%, segundo levantamento feito pela CropLife Brasil. Apenas o mercado de biofungicidas cresceu 148%, em 2018, comparado ao ano anterior. Esse mercado em expansão está posto, mas para conquistá-lo, o Brasil precisa enfrentar desafios.
Um dos autores do livro, Juliano Cesar da Silva, aponta pelo menos três gargalos para a adoção dos produtos pelos produtores brasileiros.
“Um deles é a produção em escala comercial, fornecendo produtos com qualidade. Por outro lado, é preciso logística e transporte dos produtos, não podendo esquecer que o Brasil é um país de dimensão continental. Existe a necessidade de distribuição dos produtos biológicos de forma adequada para manter sua qualidade e eficiência. Do ponto de vista da pesquisa e desenvolvimento, é preciso novos projetos com foco em formulações, pensando na estabilidade dos produtos biológicos e melhoria da aplicabilidade do Trichoderma no campo. Do ponto de vista da extensão rural, a recomendação técnica tem que ser assertiva”, destaca o autor.
Os produtos à base de agentes de biocontrole, registrados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), subiu de 27, em 2011, para 200, em 2019. Na avaliação dos editores, o fato de haver registro de produtos à base de Trichoderma para culturas importantes no Brasil, como a soja, algodão, milho, café, entre outras, colabora para o crescimento do mercado, assim como os avanços na legislação brasileira, que favorecem os registros.
O autor do livro, Sérgio Mazaro destaca que – na perspectiva de desenvolver a pesquisa e a produção de produtos à base de Trichoderma – o livro integrou conhecimentos de norte a sul do país, reunindo pesquisadores que trabalham, desde culturas de clima tropical ao subtropical temperado, entre outras.
Além de apresentar um cenários mundial do uso, a publicação traz informações sobre a biologia do fungo, como se comporta e se multiplica; qualidade da produção de formulações comerciais e aplicação prática no controle de 14 culturas.
“O grande desafio é para quem produz os produtos. Realmente , essa questão de logística, estabilidade de formulações e qualidade é muito importante para que o produto chegue viável e em condições completas e plenas de uso pelo produtor no campo. Na soja, a gente fala muito isso. Não adianta você aplicar com solo seco e descoberto. Existe toda uma condição, um condicionamento de solo para que funcione e promova o controle que se espera. Essa é uma das preocupações que estão colocadas no livro com todas as informações sobre o uso correto e a melhor forma de aplicar para ter essa resposta. Trabalhamos com micro-organismo vivo. Ele tem que chegar viável no campo para uma aplicação assertiva”, explica Mazaro.
O produtor não tem uma ferramenta única no manejo das culturas. O Trichoderma soma-se a outras estratégias, que agricultor deve levar em consideração no cômputo geral do custo-beneficio.
O Trichoderma é um dos principais biopesticidas contra o mofo-branco da soja. A Embrapa estima que aproximadamente 10 milhões de hectares do cultivo do grão estejam infectados pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, causador da doença.
“No caso do mofo-branco da soja, por exemplo, não existe uma ferramenta única que se adote. É preciso sempre integrar medidas de controle, recorrendo aos químicos e biológicos. Ao longo do tempo, esse benefício vai retornar para o produtor”, destaca o pesquisa, dor da Embrapa, Maurício Conrado Meyer.