“Mundialmente, estamos perto do próximo passo. De alguma forma, o conceito da Revolução Verde está no fim. Precisamos buscar outra forma”. As palavras do suíço Ernst Götsch decretam ares de mudança. Pai da agricultura sintrópica, o pesquisador foi venerado por admiradores e seguidores da agroecologia no 3° Conexão Agro – Agricultura Sintrópica, que aconteceu de 28 a 30 de novembro em Londrina e Sabáudia. Realização Conexão Agro.
A palestra de abertura do evento dia 28, no Recinto Milton Alcover, Parque Governador Ney Braga, contou com a presença de mais de 250 pessoas. O evento registrou participantes de 20 municípios paranaenses, seis estados do Brasil (Maranhão, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), Estados Unidos e Alemanha.
Participaram ainda da abertura, o extensionista do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Felipe de Freitas, que apresentou um panorama da agrofloresta no Paraná, e Felipe de Freitas, e o agricultor Eduardo Carriça, que falou sobre sua experiência na sistema agroflorestal
Além da palestra, 50 pessoas aprenderam e conviveram por dois dias com Ernst Götsch na Terra Planta – Fazenda Santa Rosa, em Sabáudia. O pesquisador e produtor agrícola ficou admirado com a disponibilidade e o interesse dos presentes. “Um público aberto para escutar e para colocar as ideias em prática.”, afirmou.
Ernst é o pai do modelo de agricultura sintrópica. A sintropia na produção representa uma prática de preservação, organização, equilíbrio e sustentabilidade no plantio. O sistema é utilizado sem desmatamento ou uso de qualquer agrotóxico.
Em termos de Brasil, Ernst acredita na mudança de mentalidade e na agricultura sintrópica como aposta de modelo alternativo. “A técnica vai mudar a partir do momento em que o passo filosóficos e éticos forem mudados. A técnica é consequência. Estamos em uma terra muito fértil. Penso que somos capazes de dar o próximo passo. Não é por causalidade.”, proferiu.
Abalo na vida e pensamento dos participantes
O técnico em eletromecânica e produtor, Dheyson José do Santos, de Jaraguá do Sul (SC), nasceu em Petrolândia, interior catarinense. A família tem um sítio com plantios de subsistência. Os ensinamentos de Ernst impactaram seu pensamento ainda durante o curso. “Anotei tudo. Eu entendi muita coisa que eu fiz errado. Estou tentando decidir como consertar. Eu mudei como pessoa, isso é fato.”, disse
Cristão, Dheyson visualizou traços da fé cristã na carga filosófica da agricultura sintrópica do suíço. “A analogia de Ernst com a minha forma de ver o Cristianismo tem tudo a ver. Eles entendem que Deus é a natureza. Eles usam uma frase que eu gosto: ‘eles destroem um Deus e destroem a natureza sem se dar conta que a natureza é o próprio Deus’. É sentir a dor daquele capim quando alguém pisa. Entender que aquilo é vida”, afirmou.
Rosana de Andrade começou a trabalhar com orgânicos em 2005 e atuou na área por nove anos. No curso, o contato com a agricultura sintrópica trouxe reflexões. “Eu pretendo aplicar as técnicas no paisagismo, minha atuação. Estou tentando detectar quais são as dificuldades que vou ter para a implantação”. Rosana carrega o mesmo pensamento e admiração escancarada nos olhares de outros participantes do curso. “Muitos de nós que estamos aqui temos o Ernst como um mestre – mesmo que ele não goste de ser chamado assim”, conclui.
Tratador de animais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Maringá, Leandro Inácio Thomas, é mestre em Agroecologia e trabalha com animais silvestres e o resgate de animais de rua feridos.
Ele foi chef de cozinha em Portugal e contou que comprava produtos orgânicos para o seu restaurante e começou a ter contato com movimentos slow food. O curso com Ernst Götsch trouxe subsídios para colocar em prática a agrofloresta. “Já temos ideia de tentar replicar isso, em Maringá, em hortas comunitárias. É muito interessante na área de reflorestamento”, disse.
O evento teve o apoio da Terra Planta Orgânicos – Fazenda Santa Rosa, Movimento de Agroflorestores de Inclusão Sintrópica (MAIS), Sociedade Rural do Paraná (SRP), Sindicato Rural Patronal de Londrina, Sistema FAEP/Senar, Maxorgan, Domene Agro, Emagritec Sul, Unifil e Rádio UEL FM.