quarta-feira, 18 de setembro de 2024

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Estudo global comprova importância da cultura de cobertura

 

Recentemente, foram divulgados os resultados do projeto OSCAR (sigla em inglês para Optimising Subsidiary Crop Applications in Rotations), cujo objetivo foi avaliar, em diversas partes do mundo, trabalhos conduzidos com a intenção de otimizar o uso de culturas de cobertura em rotação de cultivos. Em linhas gerais, o que se observou – e não chega a ser surpresa para quem já está envolvido com a agricultura conservacionista – é que as culturas de cobertura em rotação sempre melhoram as condições físicas, químicas e biológicas do solo em qualquer parte do mundo onde sejam utilizadas. Além disso, promove também a redução na utilização de insumos, como fertilizantes e agrotóxicos, com consequente redução dos custos de produção.

De acordo com a pesquisadora do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), na área de Nematologia Agrícola, Andressa Zamboni Machado, na prática o estudo consolida a recomendação da cobertura constante do solo através da utilização das plantas de cobertura em rotação de culturas, especialmente adotando-se outras práticas conservacionistas, como a diversificação de cultivos, o sistema de semeadura direta, sem revolvimento do solo ou cultivo mínimo, uso de terraços na lavoura para evitar a perda de solo por erosão e o monitoramento constante de pragas e doenças dentro do manejo integrado, reduzindo-se a utilização de agrotóxicos e dando-se preferência aos produtos naturais, como o controle biológico.

Além da pesquisadora, foram muitas as instituições de pesquisa e universidades envolvidas: Universidade de Kassel na Alemanha, o Centro de Pesquisa Orgânica no Reino Unido, a Estação de Pesquisa Agroscope na Suíça, o Instituto Norueguês para Pesquisa Agrícola e Ambiental (BIOFORSK) na Noruega, o Centro Internacional para Pesquisa Agrícola em Áreas Desérticas (ICARDA) no Marrocos, o Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica (INRA) também no Marrocos, o Instituto de Ciência do Solo e Cultivo de Plantas (IUNG) na Polônia, a Universidade Sueca de Ciências Agrícolas na Suécia, a Escola Superior Sant’Anna na Itália, a Universidade Técnica de Munique na Alemanha, a Universidade de Copenhagen na Dinamarca, a Universidade de Pisa na Itália, a Universidade da Toscana na Itália, a Universidade de Wageningen na Holanda, a Ferrari na Itália e, no Brasil, o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR).

“O projeto teve início em 2012, como uma iniciativa da Universidade de Kassel, na Alemanha, para desenvolver novos sistemas de cultivo baseados em plantas de cobertura. A ideia principal do OSCAR era otimizar a utilização de culturas de cobertura em rotação de cultivos, visando aumentar a duração da cobertura do solo pelas plantas, introduzir diversidade na rotação de culturas e reduzir a necessidade e a intensidade de utilização de insumos na lavoura”, explica Andressa.

A pesquisadora acompanhou um experimento realizado no sul do estado do Paraná e conduzido por 30 anos, e diz que se surpreendeu com a melhoria da qualidade do solo da área experimental, “mesmo nas áreas em que o cultivo convencional continuou sendo utilizado como comparativo ao sistema de plantio direto. Nesse caso, fez muita diferença a utilização das plantas de cobertura em rotação de culturas com a soja e o milho, culturas principais cultivadas no verão. Mesmo sem a adoção do SPD, a rotação de culturas, a longo prazo, proporcionou um resultado bastante positivo”.

“No meu caso, minha linha de pesquisa foram as comunidades de nematoides, organismos presentes nos diferentes solos e que podem parasitar plantas ou se alimentar de fungos, bactérias e matéria orgânica no solo. O impacto causado nestas comunidades pela adoção de diferentes sistemas de cultivo e diferentes espécies de plantas de cobertura foram estudados no projeto OSCAR. Então, plantas tidas como culturas-armadilhas ou resistentes aos nematoides parasitas de plantas foram incluídas no estudo, visando reduzir essa comunidade de nematoides prejudiciais à agricultura. Além disso, o efeito do acréscimo de matéria orgânica pelo cultivo dessas plantas de cobertura nas comunidades de nematoides benéficos, ou seja, aqueles que se alimentam de fungos e bactérias, fazendo parte da cadeia alimentar do solo, também foi verificado. Utilizamos basicamente os chamados adubos verdes, plantas que têm a capacidade de aumentar a capacidade produtiva do solo, recuperando solos degradados, além de suas características recicladoras, recuperadoras, protetoras, melhoradoras e condicionadoras do solo. Várias espécies podem ser utilizadas, mas a preferência é pela utilização de leguminosas, que também apresentam a capacidade de fixar nitrogênio no solo”, detalha a pesquisadora.

Engajamento

Ao se deparar com estudos de diversas origens mundo afora, foi possível acessar uma visão mais panorâmica das preocupações globais das frentes de pesquisas e, portanto, do que está efetivamente norteando as linhas do trabalho da porteira para dentro. Em sua experiência pessoal, Andressa explica que o estudo oportunizou o contato com pesquisadores de várias partes do mundo, o que a levou a perceber que a preocupação é realizar uma agricultura mais conservacionista, lançando mão de práticas consagradas há muito tempo, mas pouco utilizadas pela agricultura atual, baseada na utilização intensiva do solo. Dessa forma, várias espécies vegetais têm sido pesquisadas para aumentar a oferta de espécies que atendem diferentes demandas e que possam ser cultivadas em diferentes locais. Além disso, práticas de agricultura orgânica têm sido cada vez mais utilizadas e difundidas, especialmente entre os países europeus.

“Tive a oportunidade de visitar algumas áreas de cultivo na Alemanha, quando a equipe do projeto OSCAR se reuniu para discutir a respeito de resultados, e notei que os agricultores de lá estão bastante engajados em adotar práticas conservacionistas, especialmente a rotação de culturas e o cultivo orgânico. No Brasil, ainda temos poucos agricultores que adotam práticas conservacionistas, como a rotação de culturas, e menos ainda que estão trabalhando na linha de orgânicos. O produtor no Brasil basicamente faz a sucessão de cultivos (soja-milho ou soja-milho-algodão) e, apenas quando a situação já está bastante complicada, com perdas econômicas consideráveis, é que ele busca alternativas para melhoria da produtividade. Ainda temos muito a trabalhar para levar o conhecimento e a conscientização ao produtor brasileiro”.

Os estudos, em inglês, podem ser acessados através do site do projeto.  Há também o livro Advances in Conservation Agriculture Volume 2: Practice and Benefits, de Amir Kassam, com resultados e outros assuntos correlacionados,

 

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