O Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) desenvolveu em parceria com a agtech Agropixel de Londrina um sistema que contribui para o gerenciamento de máquinas agrícolas, sobretudo para propriedades que produzam grãos. Foi criada uma plataforma web gratuita para os agricultores acrescentarem dados que podem ajudá-los a controlar os gastos e aumentar a rentabilidade.
O Sistema de Gestão de Máquinas Agrícolas (Sigma) analisa se o investimento em máquinas e a produtividade da lavoura cobrem os custos operacionais e a capacidade de pagamento das máquinas adquiridas. “Se o produtor paga, por exemplo, R$ 150 mil em um trator, essa máquina tem que gerar trabalho para pagar o próprio custo e ainda criar uma renda extra para possibilitar a compra de outro trator no futuro. O Sigma calcula muitas dessas variáveis”, explica o pesquisador do IAPAR Anderson de Toledo. Ainda de acordo com ele, o produtor geralmente tem uma visão parcial da propriedade, sem dimensionar o uso das máquinas face ao investimento aplicado e aos custos da atividade. “Se no final do mês sobrou dinheiro, tá bom. Muitas vezes é assim que o agricultor pensa”, diz.
A avaliação do Sigma baseia-se nos dados que os agricultores devem inserir na plataforma. “Ele vai informar, por exemplo, quanto gastou com combustível, manutenção, mão de obra para operar a máquina, e até depreciação. Quanto mais informações sobre a operação da máquina, melhor”, salienta Toledo. A partir dos números, o Sigma informa a Viabilidade de Negócio, variável criada pelo sistema. Se o indicador for positivo, significa que as áreas cadastradas e a produção do local são suficientes para cobrir os custos de produção e ainda o investimento feito nas máquinas. Se for negativo, o produtor está tendo prejuízo.
Os cálculos do algoritmo criado para o Sigma baseiam-se em dados que o pesquisador do IAPAR Hevandro Delibera coletou desde 2006, quando ainda era estudante da graduação. Delibera criou inicialmente planilhas no Excel, as quais serviram de base para a formação de parâmetros do software. Contudo, ainda era preciso fazer novos testes para aprimorar o algoritmo porque os números mudam ao longo do tempo -valor do litro do diesel, por exemplo. Recentemente o pesquisador do IAPAR Dimas Soares Júnior orientou um trabalho de pesquisa do estudante de agronomia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Lucas Martins para validar a ferramenta e ajustar a base cadastral das máquinas. Foram inseridos dados das propriedades rurais das Redes de Referência para Agricultura Familiar, coletados pela Emater e o IAPAR. Os resultados bateram em 90% dos casos.
Conforme o proprietário da Agropixel Francisco Nogara, a plataforma está disponível na internet para que produtores possam verificar a eficácia da ferramenta. “Estamos buscando mais produtores rurais que queiram testar a plataforma. Nós vamos ajudar a acrescentar os dados e acompanhar os resultados”, acrescentou Nogara. Segundo Toledo, a Agropixel é uma das startups parceiras do IAPAR em projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P&D&I). “A ideia é que tenhamos um espaço para essas startups no IAPAR, para que possamos trabalhar de forma mais próxima”, acrescenta o pesquisador. Ainda de acordo com ele, a parceria com startups e o desenvolvimento do Sigma faz parte do esforço do IAPAR em desenvolver inovação para uma agricultura mais moderna, digital e altamente tecnológica.
O Sigma é um sistema aberto e gratuito, inédito no Brasil. “Algumas entidades têm sistemas semelhantes, mas eles são fechados para membros ou cobram pelo acesso”, assegura Toledo. Ele também afirmou que há planos para melhorar a interface e ampliar o sistema quando aumentar o número de usuários. “Escolhemos inicialmente os grãos pela maior quantidade de dados públicos disponíveis. Quando mais agricultores inserirem dados na plataforma, pretendemos ampliar o Sigma para culturas perenes”, salienta Toledo.
O agricultor Leandro Mineo de Apucarana, norte do Paraná, vai testar o Sigma na próxima safra de verão. Ele vai receber ajuda para inserir os dados no sistema de Toledo e de Nogara, que vão acompanhar o produtor rural ao longo de toda a safra para verificar a eficácia da nova tecnologia. “Gostei do Sigma. Achei mais fácil para o uso do dia a dia porque um outro sistema que me foi apresentado era mais complicado”, relata Mineo. Ele acredita que o sistema vai ser bastante útil para gerenciar a manutenção das máquinas. “Espero reduzir meus custos”, acrescenta Mineo. (As informações são do Iapar)