A Emater está incentivando produtores adotarem tecnologia de monitoramento da qualidade do manejo dos solos e o uso de plantas de adubação verde como estratégia para conter a erosão e aumentar a infiltração de água no solo. Essa técnica de conservação de solo é resultado de pesquisa da Embrapa, Iapar e universidades, recomendada desde o início da década de 1980 no Paraná, mas que está ganhando impulso neste ano em algumas regiões do estado.
O Noroeste e Sudoeste do Estado foram escolhidos para serem os primeiros a adotar a tecnologia. O monitoramento de parâmetros indicadores de qualidade do manejo de solos e águas, adotado nas propriedades, tem chamado a atenção de produtores e profissionais, culminando com a adoção de técnicas de uso de adubos verdes consorciados ou solteiros no período de inverno.
A adubação verde pode ser feita com braquiária ou outras culturas como aveias, nabo, milheto e crotalárias, por exemplo, que devem ser plantadas de forma solteira ou intercalar ao milho de segunda safra – conhecida como consórcio.
Segundo o engenheiro agrônomo da Emater, de Maringá, Celso Daniel Seratto, essa técnica ajuda o solo a absorver e armazenar água depois que está encharcado entre outros efeitos positivos no sistema de produção. Com isso, consegue-se a recomposição da estrutura do solo das propriedades e melhoria na cobertura do solo – tudo isso contribui para minimizar os riscos de erosão.
A eficácia dessa técnica de manejo de solos já foi comprovada. Na produção de soja, o produtor consegue obter um adicional de 20 a 30 sacas a mais por alqueire. “Isso significa que nos períodos de estiagem as perdas são bem menores quando comparadas a áreas onde não se faz o manejo podendo chegar a um ganho relativo de até 40 sacos por alqueire”, diz Seratto.
Na produção de milho da segunda safra, o aumento de produção pode chegar entre 10% e 20% a mais na safra seguinte. De acordo com o técnico, há um conjunto de fatores que auxiliam o procedimento de conservação de solos. Entre eles está o plantio de adubo verde durante o período da entressafra das culturas anuais. Esse adubo ajuda a quebrar a camada compactada e injeta mais matéria orgânica no perfil do solo, o que auxilia na infiltração de mais água e o armazenamento desta por mais tempo.
Ervas daninhas – Segundo Seratto, a técnica ajuda ainda no controle das ervas daninhas. Contudo, o técnico alerta para o risco de se perder produção de milho segunda safra por conta da eventual competição com a braquiária – que podem alcançar ao redor de 8% em anos mais secos, mas ressaltou que elas serão compensadas pelos ganhos de matéria orgânica que vão elevar a produtividade na safra seguinte e melhorar a estabilidade na produção nas safras subsequentes.
“A quantidade de água infiltrada no solo ajuda na sustentabilidade agrícola e tem impacto direto no bolso do produtor”, diz Seratto. Isso porque se houver excesso de chuvas, cuja água não infiltra no solo, ela pode escorrer pela lavoura e estourar um terraço, por exemplo, impondo prejuízos severos aos produtores, além de danos ao meio ambiente e estradas e pontes.
Monitoramento – A Emater tem adotado a estratégia de uso de técnicas que avaliam a qualidade da estrutura dos solos e de seu manejo, também utiliza equipamento que mede a capacidade de infiltração de águas nos solos – com uso de um simulador de chuvas portátil, a partir de um protótipo originalmente desenvolvido pela Universidade de Cornell nos EUA.
As avaliações são realizadas em propriedades que estão adotando a técnica e, noutras que não adotam as técnicas preconizadas de manejo, sendo possível comparar os resultados.
A estratégia da extensão rural, realizada em conjunto com órgãos de pesquisa e universidades, de qualificar os profissionais do sistema público e parceiros da iniciativa privada, além do público-alvo, que são os produtores e suas comunidades, com informações qualificadas sobre os padrões de manejo. “Isso encoraja os produtores para a adoção da técnica e também prepara aqueles profissionais que darão o suporte técnico necessário no processo de inovação”, destaca Seratto.
Na região Norte e Noroeste do Estado cerca de 45 propriedades de referência já foram envolvidas, contribuindo com a adaptação e aperfeiçoamento da tecnologia. A tática adotada pela Emater tem sido a de apresentar os resultados locais, aproximando os produtores com o intuído de promover a troca de informações e experiências junto com os profissionais. Os extensionistas colaboram no levantamento das informações e depois apoiam os produtores no suporte técnico.
“É um recurso pedagógico muito eficaz, pois provoca e facilita o aprendizado e a busca por soluções. O uso da braquiária como adubo verde e outras plantas não é novidade na pesquisa pública e privada e entre os órgãos de extensão e cooperativas, cujas tecnologias têm sido objeto de inúmeros projetos ao longo dos tempos. O que temos de novo é o arranjo para promover isso juntando esforços e inovando nas estratégias” afirma Seratto.
Crescimento – A adoção dessa prática ainda não ocupa grandes extensões das lavouras anuais mecanizadas, mas cresceu cerca de 30% na região de Maringá e ao redor de 50% na última safra no município de Sabáudia, na região Norte. Também contribuem para a difusão da técnica os eventos técnicos promovidos pelo governo e pela iniciativa privada.
Microbacia de lageado – Segundo o extensionista da Emater em Sabáudia, Luiz Marcelo Franzin, a técnica de controle da erosão com adubação verde em consórcio com o milho de segunda safra, foi incluída na Microbacia do Lageado, pelo programa de Microbacias, da Secretaria da Agricultura e Abastecimento.
A técnica já vinha sendo testada há cerca de três anos no município, com projetos pilotos desenvolvidos em parceria pela Embrapa, Iapar e Cocamar. Franzin explicou que foi necessário fazer adaptações nas plantadeiras para permitir o plantio da braquiária.
Atualmente cerca de 1.100 hectares de área com milho de segunda safra já são plantados em consórcio com a Braquiária ruziziensis no município, com resultados positivos no controle da erosão. O milho pode perder entre 10% a 15% em produtividade no início do consórcio por causa da competição com a adubação verde. Mas depois de dois ou três anos, com o ganho de matéria orgânica no solo, a produtividade é recuperada, garante o técnico.
Franzin disse que essa técnica vem sendo muito procurada por produtores da região Norte e Noroeste, preocupados com o avanço da erosão em suas propriedades. “Inclusive, esses produtores estão procurando empresas metalúrgicas para fazer as adaptações em suas plantadeiras”, conta Franzin.
Além disso, a técnica reduz os custos de produção porque o produtor não precisa aplicar muito herbicida para o controle de ervas daninhas. “Isso porque em área com braquiária não há infestação de erva daninha”, disse Franzin.