A expansão da produção de trigo nos estados das regiões Norte e Nordeste do Brasil foi tema de audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado Federal.
O assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Tiago Pereira, participou do encontro e afirmou que o trigo é uma cultura tipicamente cultivada no Sul do país, por se adaptar bem ao clima frio, mas recentes pesquisas da Embrapa mostram que é possível a tropicalização do cereal.
“No Cerrado, a produtividade média do trigo pode ultrapassar 8 mil quilos por hectare e o tempo de colheita alcançar quase metade do que o observado na região Sul”, disse.
Na safra 2021, a produção brasileira de trigo atingiu 7,7 milhões de toneladas. Desse total, o Sul foi responsável por 6,7 milhões de toneladas. Para este ano, a previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de uma safra recorde de 8,1 milhões de toneladas.
Apesar da concentração do plantio de trigo no Sul, estimativas da Embrapa indicam uma área superior a 4 milhões de hectares com potencial para o cultivo de trigo no Cerrado. Mas, segundo Tiago, alguns pontos precisam ser avaliados, como as políticas de crédito e seguro voltadas para a cultura, o incentivo a estruturação da cadeia de valor na região, como o fomento de projetos de construção de industrias de beneficiamento nas regiões de expansão.
Na audiência, o assessor apresentou dados sobre a produção e exportação mundial de trigo, além dos impactos do conflito entre a Rússia e a Ucrânia na oferta e preços do cereal. Na safra 2021/2022 foram colhidos mais de 778 milhões de toneladas, com destaque para a União Europeia, China, Índia, Rússia e Estados Unidos.
Com relação às exportações, Pereira destacou que a Rússia aparece na liderança e a Ucrânia em quinto lugar e, juntos, correspondem por 30% da oferta total de trigo no mundo, na média de cinco anos.
“O contexto geopolítico e a guerra entre esses dois países têm demonstrado como o justo balanço de oferta e demanda torna suscetível o abastecimento e os custos de produção e o preço do cereal no país e no mundo. Isso se torna mais grave quando há grande dependência da importação, como é o caso do Brasil”.
Para o representante da CNA, movimentos de alta de preço podem estimular um aumento de área no Brasil, tornando o país menos dependente. “Consumimos em média 12 milhões de toneladas e quase metade importamos de países do Mercosul, da Rússia e dos EUA”.
Tiago Pereira mostrou também que além da alimentação humana, o trigo pode ser usado na nutrição animal e na produção de etanol.
Fonte: CNA