Brasil tem potencial para liderar a transição energética com a bioeconomia da biomassa
04/09/2025
6º Fórum do Agronegócio, realizado em Londrina, reuniu representantes de toda a cadeia produtiva para discutir transição energética, geopolítica, acesso a mercados, produtividade e competitividade
Por: Vera Barão
Biomassa ocupa papel central na transição energética brasileira
A transição energética esteve no centro dos debates desta tarde no 6º Fórum do Agronegócio, que reuniu em Londrina (PR), representantes de toda a cadeia produtiva para discutir geopolítica, acesso a mercados, produtividade e competitividade. Para os especialistas, o Brasil tem potencial para assumir papel de protagonista nesse processo global de transformação rumo a uma economia mais limpa e sustentável.
O pesquisador da Embrapa Agroenergia, Maurício Antônio Lopes, engenheiro agrônomo e geneticista, destacou que o país reúne condições únicas para liderar a chamada bioeconomia, um novo modelo de economia de base limpa e renovável.
Segundo Lopes, o mundo vive uma mudança de paradigma econômico, com a economia tradicional, baseada em petróleo, dando lugar a uma economia mais limpa, alinhada às metas de redução de emissões de gases de efeito estufa. “Temos que buscar um modelo de desenvolvimento que nos afaste do paradigma fóssil, responsável por graves problemas como a crise climática. Uma nova economia está emergindo no mundo, e o Brasil tem um potencial incrível de ser protagonista, se não líder, dessa revolução”, afirma.
Biomassa no centro da transição
Para o pesquisador, a biomassa ocupa papel central na transição energética brasileira. O país é líder na produção desse tipo de energia há décadas, desde a criação do programa do etanol nos anos 1970. Hoje, o etanol e o biodiesel compõem cerca de 17% da matriz energética brasileira, uma das mais limpas do mundo. “A biomassa é um componente muito importante e pode se tornar ainda mais relevante no futuro. Ela não serve apenas para produção de energia, mas também para descarbonizar setores como a indústria química e de materiais, que precisam se afastar do petróleo”, explica.
Além da biomassa, o Brasil tem avançado em outras fontes renováveis, como energia solar e eólica, que devem ganhar participação nos próximos anos. No entanto, para Lopes, a vocação agrícola do país é seu maior diferencial. “O agro brasileiro tem potencial gigantesco para ser protagonista nesse processo. Temos terras abundantes, energia solar, água e tecnologia. É possível produzir alimentos e, ao mesmo tempo, energia e insumos de alto valor agregado para indústrias pressionadas a reduzir emissões”, diz.
Outro ponto destacado pelo pesquisador é o impacto econômico positivo da bioeconomia. Ao contrário da cadeia de petróleo, concentrada em poucos operadores, os biocombustíveis são produzidos de forma descentralizada, envolvendo diferentes regiões e agricultores. “Investir em energia renovável de base agrícola gera renda, novas oportunidades e amplia o desenvolvimento regional. É uma forma de viabilizar mais oportunidades para um número maior de pessoas e territórios”, ressalta.
Lopes também chama atenção para novos mercados, como o de combustíveis sustentáveis para aviação (SAF), que deverão crescer fortemente nos próximos anos. “A aviação é uma das indústrias mais pressionadas para descarbonizar seus processos, e os óleos vegetais são as matérias-primas mais viáveis para produzir querosene de aviação equivalente ao do petróleo. Isso abre oportunidades para a agricultura e para o desenvolvimento de biorrefinarias capazes de produzir, a partir da biomassa, praticamente tudo o que hoje vem do petróleo, de forma mais limpa e inclusiva”, afirma.
A Embrapa Agroenergia tem trabalhado para ampliar as opções de matéria-prima para bioenergia, de olho no crescimento acelerado da demanda. Entre os projetos estão a domesticação da macaúba, palmeira nativa com alto potencial de produção de óleo, e a tropicalização da canola, tradicionalmente cultivada em regiões de clima temperado. “Não podemos depender de poucas fontes de biomassa. Diversificar é estratégico para garantir segurança energética e novas oportunidades industriais”, enfatiza Lopes.
O debate contou também com a participação de Francila Calica, diretora de Assuntos Agrícolas e Sustentabilidade da Bayer Latam. Segundo ela, o país chegou a essa posição graças a um conjunto de fatores: “Temos condições de chegar aqui porque o país se estruturou onde outros não conseguiram: água, terra, sol, um ambiente institucional bem estruturado com marcos regulatórios e políticas públicas, tecnologia avançada e profissionalização da agricultura. Não podemos esquecer desses fatores para não errar no futuro.”
Na mesma linha, Felipe Gonçalves, superintendente de Pesquisa da FGV Energia, lembrou que o Brasil é referência global em energia limpa, com mais de 88% da capacidade instalada proveniente de fontes renováveis. Mas fez um alerta: “O país é visto como hub de sustentabilidade, mas precisamos avançar em políticas para descarbonização.”
A importância de políticas públicas foi reforçada por Ágide Eduardo Meneguette, presidente interino da FAEP, que defendeu mecanismos de incentivo: “Mecanismos que reconheçam a preservação agrícola, como o pagamento por serviços ambientais são essenciais.”
Por fim, Clauber Leite, diretor do Instituto E+ Transição Energética, chamou atenção para o caráter dinâmico do processo: “A transição é um processo em curso. Para manter liderança, o Brasil precisa ser ativo, unindo forças para gerar ganhos ambientais e econômicos.”
Governador - Para o governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Jr, presente ao evento, o país vive um momento estratégico e não pode perder a oportunidade de se tornar uma potência global em energia verde. “Podemos ser a Arábia Saudita da energia limpa”, afirmou. Segundo ele, o Paraná é hoje referência nacional na produção de biogás, concentrando cerca de 500 das 1.600 plantas em operação no país. Para impulsionar esse setor, o governo estadual criou uma linha de fomento com juro zero para apoiar novos projetos- o Fiagro (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais).
A crescente demanda por energia foi apontada como um desafio central para o futuro, especialmente diante da transformação digital. “Para montar um data center de inteligência artificial é preciso gerar alguns megawatts apenas para sustentá-lo. E isso será cada vez mais necessário”, disse o governador.
Desafios e estratégias para o agronegócio paranaense
Durante os debates, o presidente da Sociedade Rural do Paraná, Marcelo Janene El Kadre, que realizou o 6º Fórum do Agronegócio, destacou que os desafios para o produtor vão muito além da porteira. “Hoje, o produtor enfrenta muitas surpresas e intempéries dentro da propriedade, mas os problemas externos, fora da porteira, são ainda maiores. Estamos assistindo a disputas políticas entre China e Estados Unidos, à guerra na Ucrânia e a uma série de outros conflitos que afetam diretamente o mercado”, afirmou.
Marcelo Janene El Kadre, presidente da SRP
Para ele, a estratégia para o Paraná passa pela ampliação do acesso a mercados e pela defesa dos interesses do setor junto ao governo. “Temos que continuar fazendo o que já vem sendo feito - dar voz ao produtor em Brasília, negociar, abrir novos mercados e buscar soluções viáveis para a nossa realidade. Não adianta tentar criar um mundo perfeito. É preciso trabalhar com o que temos e transformar essas discussões em ações concretas”, disse. El Kadre ressaltou a importância da diplomacia e da negociação para enfrentar os desafios geopolíticos. “Se você tem um exército menor, não vai arrumar guerra, vai mandar um negociador. É isso que falta muitas vezes: iniciativa do poder público para negociar. A obrigação do produtor é continuar produzindo, com maior qualidade e maior quantidade, mas precisamos de apoio para colocar essa produtividade em mais mercados no mundo”, afirmou.
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