
O agronegócio já se consolidou como um dos principais pilares da economia brasileira, representando parcela significativa do Produto Interno Bruto (PIB) nacional ao longo dos últimos cinco anos. Em 2024, o setor alcançou PIB estimado em R$ 2,63 trilhões, o que correspondeu a 24,2% do PIB total do Brasil no ano. Esse resultado reflete não apenas o peso econômico do campo, mas também sua resiliência diante de desafios logísticos e climáticos, reafirmando sua importância estratégica para o desenvolvimento sustentável e competitivo do país.
Mas podemos ir muito além. O agronegócio consome apenas 8% da energia elétrica do país, segundo a EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e isto representa um enorme descompasso frente à sua importância econômica. A escassez e a instabilidade no fornecimento de energia têm impactado a atividade e especialmente o Centro-Oeste, celeiro do país. Produtores rurais enfrentam quedas frequentes de energia, comprometendo atividades essenciais como a produção de leite e a avicultura, onde a interrupção no fornecimento pode levar à perda total de lotes. Além disso, a falta de infraestrutura adequada, como redes trifásicas, limita o uso de tecnologias modernas, prejudicando a eficiência e a produtividade no campo. Alguns produtores relatam espera de até 3 anos para ter acesso à rede pública de média tensão.
Segundo o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento o setor perde R$ 10 Bilhões ao ano apenas com os problemas de transporte e armazenagem. A Esalq/USP estima em mais R$ 90 Bilhões anuais as perdas por acesso precário à comunicação (incluindo internet), energia e tecnologias básicas, hoje restritas aos grandes produtores.
Não bastasse a baixa qualidade de energia no campo (observemos os dados do relatório de Desempenho Global de Continuidade (DGC) publicado pela ANEEL. Alguns dos estados mais importantes para o agronegócio apresentaram indicadores abaixo da meta de 100%, indicando que a energia é entregue com baixa qualidade e muitas interrupções. Exemplos: Bahia (71%), Tocantins (67%), Mato Grosso (68%) e Mato Grosso do Sul (74%).
Esta situação precisa mudar. A pesquisa de 2024 sobre infraestrutura do agro, feita pela CNA (Confederação nacional da Agricultura e Pecuária) e FGV Agro indicaram que cada R$1 investido em infraestrutura gera R$ 1,70 em crescimento econômico. O Brasil pode aumentar o PIB do agronegócio em mais de R$ 600 Bilhões no curto prazo.
Mas a falta de qualidade e disponibilidade de energia têm atrasado a transição energética do setor. Fazendas, cooperativas, silos e várias outras indústrias do segmento dependem de energia 24 hs para suas atividades. Muitas delas tem planos para investir em energias renováveis em suas empresas, especialmente a solar. Mas a intermitência da fonte não permite que abram mão de geração térmica, especialmente a Diesel na maior parte das propriedades.
Novas tecnologias têm sido aplicadas como geradores que operam com Diesel/Biodiesel, novas gerações de motores com maior eficiência e mais recentemente a utilização de baterias em sistemas chamados híbridos.
Esta “hibridização” consiste em permitir que estes proprietários possam investir em instalações solares conectadas a sistemas de baterias e geradores ou mesmo à rede pública, se disponível. Com este sistema, as baterias podem ser dimensionadas para armazenar o excedente diurno de produção solar para utilização nos períodos noturnos. A geração térmica ou a concessionária de energia passa a ser utilizada apenas na falta do acúmulo solar ou em caso de emergências. Com esta configuração o consumo de combustível pode ser reduzido em mais de 80% e a energia crítica estará sempre garantida.
Vale notar que, por razões óbvias, o agronegócio brasileiro está localizado em algumas das regiões de maior insolação do país, fazendo com que o aproveitamento energético de fazendas solares híbridas seja ainda melhor.
É necessário trazer ao agronegócio um conjunto robusto de soluções como aquelas que já apoiam setores que também tem acesso restrito à rede pública de energia, como a mineração e o petróleo. Por todas estas razões a “hibridização” tem sido um dos maiores habilitadores da transição energética do campo uma vez que permite a utilização de fontes renováveis intermitentes, mesmo a pequenos produtores, sem renunciar à segurança energética. Atualmente muitos não tem nem uma nem outra.
*Arthur Lavieri é CEO da Tecnogera, empresa brasileira especializada no fornecimento de soluções de energia temporária e inovação na segurança no trabalho em altura
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