quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Agropecuária, Soja
Embrapa apresenta indicadores de manejo do solo para avaliação de risco climático na soja
24/08/2023
Metodologia prevê a adequação de intervalos dos modelos do Zarc, gerando assim riscos hídricos decrescentes do primeiro ao quarto nível
Por: Redação
Plantação de soja com palha - Conexão Agro
Soja em plantio direto na palha
Foto: Arquivo/Embrapa

A Embrapa está propondo indicadores que possam expressar os diferentes níveis de manejo do solo e suas respectivas contribuições no fornecimento de água às plantas de soja e, consequentemente, na redução dos riscos climáticos. O detalhamento da proposta está disponível no Documento 447 - Níveis de manejo do solo para avaliação de riscos climáticos na cultura da soja e foi apresentado durante a Reunião de Pesquisa de Soja, realizada de 23 a 24 de agosto, em Londrina (PR).

Culturas de verão e de sequeiro, como a soja, têm suas necessidades hídricas atendidas pelas chuvas e pela água disponibilizada pelo solo. Práticas de manejo podem contribuir, significativamente, para o incremento da água disponibilizada pelo solo.

No entanto, “o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), que indica onde e quando semear soja para minimizar os riscos de perdas por eventos meteorológicos adversos, atualmente ainda não leva em consideração o manejo do solo”, afirma José Renato Farias, pesquisador da Embrapa Soja. Ele observa ainda que, “desde o início dos trabalhos de zoneamento, ainda no final da década de 90, buscava-se formas de contemplar esse importante transporte de água aos sistemas agrícolas”.

“Entendemos que a qualidade do manejo do solo adotado pelos sojicultores tem enorme potencial em mitigar os riscos de perdas de produtividade por seca, a exemplo das práticas como a adoção plena do Sistema Plantio Direto (SPD)”, explica o pesquisador Henrique Debiasi, da Embrapa Soja. “Nossa proposta é enquadrada nas áreas de produção de soja em quatro níveis de manejo (NMs), segundos indicadores e critérios que refletem os impactos das práticas agrícolas sobre características e processos físicos, químicos e biológicos do solo”, diz Debiasi.

“A matriz resultante das atuais seis classes de água disponíveis (em função da textura do solo) e dos quatro níveis de manejo do solo propostos, resultaria em vinte e quatro valores de água disponíveis à cultura, capazes de expressar, com maior fidelidade, os riscos à cultura”, comenta Farias.

Proposta de níveis de manejo

Em conformidade com a qualidade e o histórico do manejo adotado, a metodologia prevê a adequação de intervalos dos modelos do Zarc que determinam a disponibilidade de água para a cultura, gerando assim riscos hídricos decrescentes do primeiro ao quarto nível (NM1 ao NM4). “Para o enquadramento nos níveis de manejo, foram selecionados sete indicadores que refletem a qualidade do manejo e a fertilidade do solo, sob o ponto de vista de maior disponibilidade de água e crescimento radicular”, afirma Debiasi.

Os indicadores de níveis de manejo sugeridos são: a quantidade de anos sem preparação do solo; uma porcentagem de cobertura do solo na semeadura de soja; a diversificação de culturas considerando nos últimos três anos; as condições gerais de fertilidade do solo pela concentração de magnésio e potássio (saturação por bases); o teor de cálcio e o percentual de saturação por alumínio que revelam a probabilidade de ocorrência de toxicidade de alumínio para as plantas.

De acordo com o pesquisador Alvadi Balbinot três dos indicadores refletem diretamente os pilares que fundamentam o Sistema Plantio Direto – SPD (cobertura do solo, mínimo revolvimento e diversificação de espécies vegetais). “Portanto, o SPD se constitui em uma importante estratégia para mitigar o risco climático relacionado à ocorrência de secas”, explica Balbinot.

O pesquisador afirma ainda que outros indicadores estão relacionados com a acidez do solo em superfície e subsuperfície. “Este fator quando não corrigido planejado pode limitar o crescimento e o funcionamento das raízes, aumentando assim o risco de perdas expressivas de produtividade por seca”, destaca.

Outro indicador relevante é o Índice de qualidade estrutural do solo (IQEs), pelo Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo (DRES). O DRES é um método para qualificar a estrutura da camada superficial do solo, baseado em características excluídas visualmente em amostras dos primeiros 25 cm. “A metodologia apresenta aplicação prática para diagnosticar se o solo apresenta compactação ou ainda se está apresentando melhorias em função das práticas adotadas, quando realizadas de maneira sequencial ao longo do tempo”, diz.

Expectativa com o Zarc NM – Soja

Com a incorporação dos níveis de manejo nos trabalhos de Zarc, “espera-se maior fidelidade na representação dos sistemas produtivos; melhor caracterização e quantificação dos riscos hídricos à cultura; valorização dos bons produtores e indução ao uso de boas práticas agrícolas; redução dos riscos e maior estabilidade da produção, contribuindo para a maior sustentabilidade dos sistemas agrícolas”, destaca Farias.

Desafio na adoção do SPD

A manutenção da cobertura do solo e a preservação ou aumento do teor de matéria orgânica e a melhoria das propriedades (físicas, químicas e biológicas) do solo são, portanto, benefícios que se obtêm mediante a adoção do Sistema Plantio Direto.

“Além desses benefícios, o crescimento do sistema radicular tem grande importância para o aumento do reservatório de água disponível durante os períodos de estresse hídrico”, destaca o pesquisador Júlio Franchini, da Embrapa Soja. “Nesse sentido, práticas de manejo do solo que aumentam a infiltração e a retenção de água no solo e o crescimento das raízes das culturas em profundidade são relevantes para minimizar as perdas por déficit hídrico”, ressalta Franchini.

Segundo a Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto, o SPD está presente em cerca de 33 milhões de hectares no Brasil, porém, a maior parte dessa área não atende de forma integral às instalações do sistema, restringindo-se, à mínima mobilização do solo pela eliminação de operações de preparação do solo.

Papel da água na soja

Em trabalhos conduzidos na Embrapa Soja, em Londrina (PR) ao longo de 15 safras, foram obtidos que os maiores rendimentos de grãos de soja foram obtidos com 650 a 700 mm de água, bem distribuídos ao longo de todo o ciclo. De acordo com Farias, a água desempenha a função de solvente, transportando gases, minerais e outros solutos na planta, além de atuar como regulador térmico, agitou tanto no resfriamento como na manutenção e na distribuição do calor.

“A disponibilidade de água é importante, principalmente em dois períodos do ciclo de desenvolvimento da soja: germinação-emergência e concentração-final de enchimento de grãos”, diz Farias. “Porém, para garantir o máximo rendimento de grãos, a necessidade de água deve ser disponibilizada ao longo de todo o ciclo, a fim de atender às exigências da cultura, podendo ser suprida através da chuva, da precisão ou do armazenamento de água no solo”.

A adoção do SPD de forma isolada não é, na maioria das situações, condição suficiente para o controle eficaz das perdas de água, apenas e nutrientes pela erosão hídrica. “A falta de manutenção ou eliminação parcial ou total dos terraços, sem seleção técnica, associada à realização das operações mecanizadas paralelamente ao declive, pode resultar em elevadas perdas de água, apenas e nutrientes por erosão hídrica, mesmo em SPD, comprometendo a sustentabilidade do sistema de produção de soja”, explica Franchini.

Perdas por seca

De 2013 a 2021, 48% das coberturas prejudicadas por perda no Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) foram motivadas por seca, enquanto as chuvas excessivas e as sofridas representaram perdas de 20% e de 19%, respectivamente. Além disso, a Embrapa Soja fez um levantamento na região Sul do Brasil e Mato Grosso do Sul, confirmando que a seca ocorrida nestes estados, na safra 2021/22, impediu a produção de soja em 403 milhões de sacas.

Soja

A soja é atualmente uma cultura com maior área cultivada (44 milhões de ha) e produção (154 milhões de t) no Brasil, o que torna o país o maior produtor e exportador mundial do grão. As exportações renderam US$ 48 bilhões (40% do total correspondente ao agronegócio).

Fonte: Embrapa

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