Hortifruti/Cepea: O que o tarifaço de 50% dos EUA tem a ver com o gengibre brasileiro?

O Brasil é um dos maiores exportadores de gengibre do mundo, ao lado da China. Vale destacar que não competimos diretamente com os chineses, pois nossas safras não coincidem: quando a brasileira termina, começa a chinesa, e vice-versa.

Para se ter uma ideia da força da cadeia produtiva, em 2024, o Brasil exportou 42,7 mil toneladas de gengibre, movimentando US$ 70,3 milhões (Secex, 2025). Desse total, 50% foi destinado à União Europeia (Países Baixos) e 25% aos Estados Unidos, com o restante distribuído para outros 74 países.
A tarifa de 50% que os EUA pretendem aplicar pode provocar desorganização no comércio internacional de gengibre, com excedentes no Brasil e queda nos preços pagos ao produtor.
Impactos diretos e concorrência
O aumento da tarifa – com previsão de vigência em 1º de agosto de 2025 – pode ter impacto econômico e social expressivo. Os EUA são hoje o segundo principal destino do gengibre brasileiro, e a elevação dos custos com importação pode abrir espaço para outros exportadores.
Um exemplo claro é o Peru, que já concorre com o Brasil nesse mercado e possui vantagens: logística mais ágil (cerca da metade do tempo de navio até os EUA) e uma tarifa, por enquanto, de apenas 10%.
E se o Brasil perder mercado?
Se parte do mercado norte-americano for perdida, o redirecionamento do gengibre para outros países ou para o consumo interno é viável, mas traria consequências. O excesso de produto pressionaria os preços, afetando exportadores e pequenos agricultores.
Armazenar o produto não é uma solução: a cadeia carece de infraestrutura e tecnologias de conservação adequadas.
Espírito Santo: protagonista do gengibre
O Espírito Santo é o maior produtor e exportador brasileiro, responsável por atender mais de 50 países com um produto de qualidade reconhecida. Nos últimos anos, o estado ampliou a área cultivada para cerca de 1.000 ha e atingiu produtividades médias de 60 t/ha, impulsionado pela dedicação da agricultura familiar e pela parceria com exportadores.
Apenas o anúncio do tarifaço já causou cancelamentos e adiamentos de pedidos, gerando apreensão entre produtores capixabas – justamente quando a safra está começando.
“Exportar gengibre nunca foi tarefa fácil: exige vencer barreiras fitossanitárias, lidar com logística complexa e competir com players internacionais fortes.”
Caminhos para o setor
O momento exige adaptação e visão estratégica:
• Diversificação de mercados para reduzir a dependência dos EUA;
• Valorização de nichos como gengibre “baby” e orgânico;
• Investimentos em refrigeração e processamento para ampliar a vida útil e agregar valor;
• Exploração de benefícios à saúde e da crescente popularidade do gengibre na gastronomia mundial.
Considerações finais
A situação do gengibre reforça uma lição importante: produtos agrícolas estratégicos para a economia nacional, que geram renda e empregos, também são vulneráveis às políticas comerciais externas.
Cabe ao setor inovar, qualificar e buscar novos canais, garantindo que o Brasil continue como protagonista no mercado global de gengibre.
O GENGIBRE EM VERSOS
O gengibre – Warley Nascimento*
O gengibre na festa junina,
Aroma e sabor no nosso quentão.
Na saúde pra ficar fina,
Um toque especial na culinária do Japão.
Chá que acalma a dor, alivia a tensão,
E manda pra bem distante até a congestão.
No Natal, pão de gengibre é uma tradição,
Um sabor constante na mesa do alemão.
Muito mais que um condimento,
Não é só requinte ou mera sofisticação.
É fonte de renda e sustento,
Emprego no campo e próspera exportação.
*O gengibre, uma hortaliça originária da Ásia, é consumido e utilizado no mundo inteiro. Neste poema, Warley faz uma reflexão sobre os diferentes usos e as curiosidades desta raiz superversátil.
Warley Marcos Nascimento é Pesquisador da Embrapa Hortaliças e Presidente da Associação Brasileira de Horticultura (ABH); E-mail: [email protected]
Fonte: Extraído do site https://hfbrasil.org.br/
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