
A expansão do mercado de bioinsumos no Brasil ganha um novo capítulo com a inauguração da fábrica da IdeeLab Biotecnologia, realizada nesta quinta-feira (17/07) em Cambé (PR), a 16 quilômetros de Londrina. Especializada no desenvolvimento de soluções biológicas e biotecnológicas voltadas à agricultura sustentável, a empresa passa a contar com uma estrutura industrial própria para produção em escala, com foco no modelo B2B.
Fundada como startup em 2020 por pesquisadores da ESALQ/USP, em Piracicaba (SP) — onde mantém seu centro de pesquisa e desenvolvimento —, a IdeeLab amplia sua atuação e se consolida como uma CDMO (Contract Development and Manufacturing Organization). Isso significa que, além de criar tecnologias por meio de pesquisa científica, a empresa também assume sua produção em larga escala, entregando ao cliente final produtos prontos para distribuição no mercado agrícola.
Formado em biologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), com doutorado em Ciências Naturais pela Universidade Técnica de Munique, na Alemanha, o sócio-fundador e CEO da IdeeLab, Ronaldo Dalio, conta que a decisão de construir a própria fábrica surgiu da necessidade de superar dois gargalos recorrentes: a limitação de espaço nas fábricas parceiras e a dificuldade de adequar as estruturas industriais à alta complexidade dos produtos biotecnológicos de nova geração.
Com investimentos de R$ 30 milhões, a unidade inaugurada tem capacidade de produção inicial de 1 milhão de litros por ano, com possibilidade de expansão para até 6 milhões de litros anuais nos próximos três anos. Segundo Dalio, isso será possível com reinvestimentos em equipamentos, estrutura e qualificação de pessoal. Atualmente, a empresa conta com 25 colaboradores e prevê dobrar esse número até o fim de 2025. No auge da operação, o número de empregos diretos e indiretos pode chegar a 300.
Projetada para atender à chamada “nova onda dos biológicos”, a fábrica está preparada para produzir bioinsumos de alta tecnologia, especialmente os que não dependem de micro-organismos vivos, como na primeira geração de produtos biológicos. A aposta agora são os metabólitos, peptídeos e RNA — moléculas produzidas por cepas microbianas que apresentam vantagens como maior estabilidade, alta eficiência e maior tempo de prateleira, podendo chegar a até três anos, em comparação aos quatro meses de alguns produtos tradicionais.
“A gente acredita que essa será a segunda revolução dos biológicos, com soluções baseadas em moléculas mais estáveis e fáceis de manejar, mas com igual ou até maior eficiência agronômica do que os produtos com micro-organismos vivos”, destaca Ronaldo Dalio. Com esses ativos, a empresa pode tanto exportar como também desenvolver produtos adaptados ao clima brasileiro para multinacionais que desejam comercializar no Brasil.

A IdeeLab atende principalmente as grandes culturas do agronegócio brasileiro, como soja, milho, algodão, feijão, café e citros. Seus produtos incluem inoculantes, biofertilizantes, promotores de crescimento, soluções para tolerância ao estresse hídrico e fixação biológica de nitrogênio, além de defensivos como biofungicidas, bioinseticidas, bionematicidas e bioherbicidas.
Para o CEO, os bioinsumos são peça-chave para uma agricultura mais sustentável. Os biológicos oferecem uma alternativa limpa e eficiente, com menor pegada de carbono e sem deixar resíduos nos alimentos”, pontua.
Segundo ele, entre 60% e 65% dos produtores brasileiros já utilizam algum tipo de bioinsumo, e a taxa de adoção cresce cerca de 16% ao ano. A tendência é que, nos próximos cinco anos, a maioria dos produtores do país esteja utilizando essas tecnologias de forma integrada com fertilizantes químicos, sementes melhoradas, aplicação via satélite e outras ferramentas da agricultura de precisão.
Apesar do crescimento expressivo, a produção de bioinsumos no Brasil ainda enfrenta desafios. A fabricação de biológicos requer ambientes estéreis, processos de fermentação controlados e equipamentos de alta precisão, como biorreatores com sensores que monitoram cada etapa. “Qualquer falha pode levar à contaminação do lote, à baixa performance ou à subdosagem dos ingredientes ativos, comprometendo a eficácia do produto”, explica.
Por esta razão, a Ideelab adota protocolos rigorosos desde a fermentação até o envase final para garantir que os produtos cheguem ao campo com alto desempenho e segurança. Isso é fundamental para preservar a confiança dos produtores. “O maior desafio é entregar produtos consistentes, eficazes e seguros, o que exige rigor técnico e um alto grau de especialização”, afirma Dalio.
Polo de inovação - O CEO destaca que a IdeeLab está posicionada nos dois principais polos de inovação agrícola do país. A escolha pelo norte do Paraná levou em conta fatores estratégicos como a vocação agrícola da região, a logística rodoviária, a proximidade com universidades e centros de pesquisa como universidades e a Embrapa Soja, além do apoio da prefeitura de Cambé.
O prefeito de Cambé, Conrado Scheller, que participou da solenidade de inauguração da empresa, destacou que a chegada da IdeeLab é muito importante, não só pela geração de renda e emprego, mas também para transformar a cidade em um polo de tecnologia em bioinsumos, o que pode despertar o interesse de outras grandes empresas para se instalarem no município.
A IdeeLab Biotecnologia nasceu a partir das pesquisas de Ronaldo Dalio e do professor Sérgio Pascholati, da Esalq/USP. A unidade industrial em Cambé conta com investimentos da WBGI - venture builder sediada em Piracicaba (SP), liderada por Uriel Rotta - e da Inquima Ltda, empresa especializada em adjuvantes e nutrição foliar, que opera ao lado da fábrica da IdeeLab, em Cambé, e é comandada por Santiago Wirsh.
Lynx busca ampliar acesso a tecnologias sustentáveis
Entre os parceiros da nova fábrica da IdeeLab está a Lynx, divisão da Orion Tecnologia e Sistemas Agrícolas. Por meio da parceria, a unidade será responsável pela produção sob demanda de insumos biológicos com a marca própria da Lynx, ampliando o acesso a tecnologias sustentáveis e de alta performance no campo.
“Somos parceiros comerciais e de pesquisa. A IdeeLab fabrica e nós levamos os produtos ao produtor final”, explica o head da Lynx, Wellington Adão. Segundo ele, a estratégia foi pensada em etapas, com foco inicial na produção de inoculantes, como Bradyrhizobium, Azospirillum, solubilizadores de fósforo, indutores de resistência, bioestimulantes e ativadores de rizosfera.
Num segundo momento, a parceria também deve englobar produtos de controle biológico, como bionematicidas, bioinseticidas e biofungicidas. “Esses insumos entram no manejo integrado, substituindo ou complementando os produtos químicos no campo”, afirma.
Com 25 anos de atuação no setor de bioinsumos, o especialista testemunhou de perto a evolução do segmento. “No início, enfrentávamos grandes desafios: baixa performance, dificuldades de formulação e compatibilidade. Um produto biológico entregava 30% de eficácia frente a 80% dos químicos. Hoje, atingimos níveis semelhantes de controle – 80% – graças ao aprimoramento das cepas e das tecnologias de formulação”, destaca.
Além da melhoria técnica, outro fator que impulsiona a adoção de biológicos é a perda de eficiência dos químicos, resultado da crescente resistência de pragas e doenças. “O produtor percebe que os produtos tradicionais já não entregam o mesmo resultado. Com isso, os biológicos ganham espaço no manejo”, analisa.
Esse avanço técnico e a necessidade de soluções mais sustentáveis se refletem em números: o mercado de bioinsumos tem crescido entre 15% e 20% ao ano, há quase uma década, e a tendência é que essa curva se mantenha. “As consultorias projetam que, nos próximos 10 a 15 anos, o mercado biológico alcance o mesmo tamanho do mercado químico – algo em torno de 10 a 12 bilhões de dólares”, projeta Adão.
Para ele, a adoção pelo produtor rural está acontecendo com força. “O mercado já não vê o biológico como coadjuvante, mas como uma solução real, com qualidade e competitividade”, enfatiza.


