Seguros para a saúde e o meio ambiente, os alimentos orgânicos representam um mercado em ascensão, com inúmeras vantagens para quem produz e quem consome. No norte pioneiro do Paraná, pequenos produtores já entenderam os benefícios sociais e econômicos da agricultura orgânica. Nos últimos dois anos, o número de certificações em produtos orgânicos cresceu 62,84% na região.
Em 2022, o norte pioneiro tinha 218 certificações em 19 municípios. Até junho deste ano, o número havia saltado para 355, segundo os dados do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos do Ministério da Agricultura e Pecuária. Esta evolução é resultado do trabalho focado nos produtos diferenciados do agronegócio, desenvolvido por instituições como o Sebrae/PR e o IDR-PR, com apoio das prefeituras locais e do governo estadual.
O consultor do Sebrae/PR, Odemir Capello, conta que os orgânicos, assim como os alimentos com Indicação Geográfica (IG), estão no radar do trabalho do ecossistema de inovação regional, que conta com o apoio do Comitê da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (MPE) e do Comitê Territorial. A primeira ação de conscientização dos pequenos produtores sobre as vantagens da agricultura orgânica.
Em parceria com os municípios, o Sebrae/PR, via Sebraetec, oferece as capacitações dos agricultores interessados na produção de orgânicos, necessárias para a busca da certificação das propriedades. O incentivo contribui para a redução significativa nos custos dos produtores para a adequação de estufas e manejo da terra. Desde 2020, mais de 200 conquistaram o selo com esse apoio.
“O aumento de produtos certificados no norte pioneiro representa um avanço importante e mostra que a proposta de valor, de transformar a região em referência na produção de alimentos diferenciados, está sendo bem trabalhada. A região concentra cerca de 20 mil pequenas propriedades, ou seja, existe um grande potencial de expansão e a oportunidade de produzir orgânicos a um baixo custo para atender um mercado em crescimento”, afirma Capello.
Angélica da Silva Passos comemora a conquista do selo, que veio há cerca de um mês e meio. Engenheira de produção, ela decidiu deixar a carreira de 28 anos na área da confecção em busca de mais qualidade de vida no campo. Ao lado do marido, empreendeu na agricultura orgânica na propriedade familiar localizada em Siqueira Campos, onde já produz tomate, repolho, brócolis, alface, rúcula, cebolinha, salsinha, couve e alho poró.
“Entrei para o projeto, participei das reuniões, que têm muitas orientações sobre o manejo e cuidado com a terra. Paguei apenas 30% dos custos, gastei R$ 540 na conquista do selo. Antes, implorava para vender no mercado local. Agora, as coisas se inverteram e só não vendo mais porque não dou conta de produzir”, conta.
Além do mercado local, a produtora diz que, depois de receber a certificação, conseguiu fazer negócios com uma associação de Uraí e uma empresa de São Paulo para a comercialização dos orgânicos. Hoje, eles representam a principal renda da família. Por enquanto, a propriedade conta com uma estufa de 1 mil metros quadrados, 500 pés de banana e 1,5 mil pés de mandioca, mas Angélica adianta que o projeto é fazer mais duas estufas para aumentar a capacidade de produção.
Assistência técnica e apoio dos municípios
O IDR-PR é o parceiro do projeto responsável por levar a assistência técnica aos produtores sobre o manejo da terra para o cultivo dos orgânicos. O gerente regional do IDR-PR em Santo Antônio da Platina, Maurício Castro Alves, conta que foi criado um plano de desenvolvimento regional da fruticultura e olericultura na região e 17 profissionais foram capacitados para trabalhar com a agricultura orgânica.
“Temos mais de 180 propriedades certificadas recebendo assistência técnica, que precisa ser permanente e continuada, pois a agricultura orgânica exige muito conhecimento, novas tecnologias e inovações. Quando começamos, não existia nenhuma empresa na região que comprava produto orgânico. Hoje, oito empresas de São Paulo frequentam o norte pioneiro toda semana comprando os produtos”, aponta.
Alves diz que o custo de produção de uma estufa no sistema orgânico é muito menor do que no convencional. Segundo ele, enquanto o produtor investe R$ 8 mil numa estufa de 1 mil metros quadrados para produzir alimentos orgânicos, precisa tirar do bolso de R$ 18 mil a R$ 20 mil para trabalhar com o cultivo tradicional. Além disso, a produtividade é igual ou maior que a convencional.
Um dos municípios, onde era considerada improvável a produção de orgânicos, pela força das culturas de commodities, como soja e cana-de-açúcar, que contribuem para a contaminação do solo pelas constantes pulverizações, Cambará entrou para o projeto e deve encerrar 2024 com cinco produtores de orgânicos certificados.
“Fizemos um trabalho de sensibilização e conscientização dos agricultores familiares e mostramos que era possível promover a descontaminação do solo, criar barreiras e estufas para proteger o ambiente de cultivo para a conquista da certificação. Em parceria com uma universidade, conseguimos comprovar a ausência de contaminantes em uma das propriedades”, explica a secretária municipal de Indústria, Comércio, Turismo, Agronegócio e Inovação de Cambará, Angélica Cristina Cordeiro Moreira.
Ela lembra que a transição do cultivo convencional de alimentos para orgânico impacta na saúde dos consumidores e dos próprios agricultores familiares que, por meio do manejo sustentável da terra, deixam de ter contato com agrotóxicos. Diante dos desafios climáticos, como a grave crise hídrica enfrentada pela região, Angélica confirma que esse tipo de cuidado trouxe melhorias para o solo impactando na melhoria da produtividade.
Fonte: Sebrae/PR
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