Assim como o El Niño trouxe mudanças significativas no tempo e na economia brasileira, a expectativa é semelhante com a aproximação da La Niña. Segundo a mais recente estimativa da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), há uma probabilidade de 83% de que o El Niño termine e o Pacífico Equatorial evolua para uma condição de neutralidade no trimestre de abril a junho. Já o MetSul aponta que após o término do El Niño, haverá uma fase neutra no Oceano Pacífico, ou seja, a ausência dos fenômenos. Mas o que muitos não imaginam é que essas mudanças climáticas podem ocasionar impactos econômicos diversos no Brasil.
De acordo com Alysson Wosniak de Mello, Coordenador do curso de agronomia da Faculdade Anhanguera, a transição do El Niño para La Niña pode variar em cada região do país. "A transição do El Niño para o La Niña pode afetar as regiões Norte e Nordeste com chuvas intensas, enquanto as regiões Sul e Sudeste podem ter um período de seca, levando os agricultores a gastarem mais com os custos de irrigação. Além disso, o fenômeno pode afetar a saúde público e o turismo, principalmente, o Pantanal. Por isso, a transição deve ser monitorada para minimizar os riscos”, explica.
Alysson ressalta ainda que a transição para La Niña terá impactos mais significativos em certos estados brasileiros. Segundo dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT), o Rio Grande do Sul e em áreas específicas do Mato Grosso do Sul, onde a redução das chuvas pode representar uma ameaça séria para a agricultura e para os recursos hídricos locais. Enquanto isso, regiões produtoras como Goiás e Mato Grosso, no Centro-Oeste, podem se beneficiar com chuvas mais abundantes, impulsionando a produção agrícola. As temperaturas tendem a ser mais amenas nessas áreas, o que pode reduzir a incidência de ondas de calor intensas, embora não exclua a possibilidade de episódios de calor extremo.
Durante um eventual La Niña no Brasil, a agricultura enfrentará diversos desafios. "A diminuição das precipitações, especialmente no Rio Grande do Sul, pode acarretar condições de seca prejudiciais ao desenvolvimento das culturas. Adicionalmente, a escassez de chuvas no Pantanal, no Mato Grosso do Sul, representa uma preocupação adicional, aumentando o risco de incêndios e afetando a vegetação", explica o especialista. "Durante a primavera, a chance de ocorrência de períodos de temperaturas baixas intensas e geadas tardias também representa um risco para o desenvolvimento das plantações. Isso requer que os agricultores estejam atentos e implementem medidas preventivas para proteger suas culturas e assegurar a produtividade”.
Embora alguns setores enfrentem desafios durante a transição do El Niño para La Niña, a mudança também pode auxiliar em benefícios econômicos em determinadas regiões e indústrias. Segundo Alyson, as precipitações intensas de chuvas podem contribuir para o aumento do volume de água nos reservatórios das hidrelétricas, melhorando a geração de energia hidrelétrica e proporcionando preços mais baixos de eletricidade. "No entanto, é crucial destacar que essas condições climáticas também podem resultar em consequências adversas, como o aumento do fluxo e inundações de muitos cursos d'água, causando enchentes em várias cidades, como observado em anos anteriores, além de ter um impacto negativo na agricultura. Portanto, é essencial implementar medidas de preparação e resposta a desastres para mitigar os efeitos adversos desses eventos extremos".
O coordenador ressalta que há outros aspectos importantes a serem considerados durante a transição do El Niño para La Niña. "Alterações na produção agrícola devido às condições climáticas podem influenciar os preços dos alimentos, tanto no mercado interno quanto externo, refletindo as mudanças na oferta e demanda. Inundações e outros desastres naturais resultantes do aumento das chuvas podem causar danos substanciais à infraestrutura, como estradas, pontes e redes de distribuição de água e energia, demandando gastos adicionais para reparos e reconstrução".
Além disso, as mudanças climáticas podem afetar a saúde das pessoas, especialmente em áreas propensas a doenças transmitidas pela água, tornando essencial a monitorização e resposta a surtos de doenças. “O aumento das chuvas também pode ter impactos significativos em ecossistemas delicados e recursos naturais, enfatizando a importância da conservação e gestão ambiental. Além disso, a transição do El Niño para La Niña sublinha a necessidade urgente de adaptação às mudanças climáticas, com investimentos em infraestrutura resiliente, práticas agrícolas sustentáveis e políticas de mitigação e adaptação em níveis local, nacional e global. Estes aspectos juntos requerem uma abordagem integrada e holística para promover o desenvolvimento sustentável e a resiliência das comunidades afetadas. É importante notar que, embora haja previsões baseadas em eventos anteriores de La Niña, cada evento é único e a intensidade dos seus efeitos ainda é incerta”, conclui.
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