O Paraná se prepara para fechar as fronteiras para bovinos e bubalinos vacinados contra a febre aftosa. Uma das medidas tomadas pelo governo estadual em busca do reconhecimento do status de estado livre da doença, na opinião de lideranças do setor agropecuário, pode prejudicar a genética dos rebanhos, por não permitir a entrada de sangue novo em terras paranaenses. A decisão entra em vigor a partir de janeiro de 2020.
O fechamento das fronteiras é uma das medidas traçadas pela instrução normativa que suspende a vacinação contra a febre aftosa no Paraná, a partir do próximo dia 31 de outubro. A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina, e o governador Carlos Massa Ratinho Júnior assinaram o documento em cerimônia realizada na última terça-feira (15).
O presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Otamir César Martins, comemorou a medida e acredita na abertura do mercado para compras de animais do estado. “O raciocínio lógico é: se você vacina, você diz que pode ter a doença. Com o status de estado livre da aftosa, poderemos acessar os mercados que pagam melhor e que permitem uma remuneração melhor dessa carne. Em consequência, a remuneração do produtor também será melhor”, afirmou.
O presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP) Antônio de Oliveira Sampaio criticou a suspensão da vacina e ressaltou o possível dano sanitário. “A Sociedade Rural do Paraná entende que a medida é contrária aos interesses do produtor rural. O risco sanitário, ao nosso entender, é muito grande. A decisão não será refletida no rendimento do produtor. A questão genética também será prejudicada. Entre outras coisas, o rebanho perde sem a entrada de sangue novo”, disse.
O presidente da Adapar acredita que os reflexos da suspensão na economia do Paraná dependem do setor privado. “Em primeiro momento, é questão de competência para comercializar – o que não cabe ao Governo”, ressaltou. Em contrapartida, Antônio de Oliveira Sampaio não concorda que possíveis avanços da instrução normativa valem o risco: “O governo acredita que ganhar o status de livre aftosa sem vacinação é importante e nós entendemos que não compensa o custo”.
Otamir Martins também avaliou as perspectivas que o anúncio da suspensão traz ao mercado internacional: “Estamos fora de 65% do mercado suíno. Nós não vendemos carne para México, Japão e nem para a China. Para comprar, eles querem o país livre da febre aftosa”. A análise não inclui exigências estrangeiras em relação à situação política do país vendedor. Crises partidárias e políticas, abusos em relação aos Direitos Humanos e descaso ao meio ambiente são fatores que também determinam o aval para novas nações parceiras.
Segundo o presidente da Adapar, a suspensão da vacinação contra a febre aftosa no Paraná foi dividida em cinco etapas: a assinatura da instrução normativa, que suspende o uso e comercialização da vacina; a suspensão da entrada de animais vacinados nas fronteiras, que entrará em vigor em janeiro de 2020, e a sorologia, que é a identificação de animais vacinados. Ainda inclui apresentar o pleito à Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), prevista pelo Mapa para setembro do ano que vem e, por último, em maio de 2021, o Paraná pode receber o certificado da OIE de Estado Livre da Vacinação da Febre Aftosa.
Durante o mês de novembro, o produtor rural deverá realizar o cadastro do rebanho no site da Adapar. O produtor que não realizar o cadastro ficará irregular e não receberá a Guia de Trânsito Animal (GTA).