O abacaxi e a goiaba podem ser uma alternativa às commodities para os pequenos produtores do Oeste do Paraná, principalmente nos municípios lindeiros ao lago da Usina de Itaipu. Essa é a avaliação do pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) Sérgio Carvalho, que há 18 anos estuda a viabilidade da fruticultura na Estação Experimental do Iapar em Santa Helena e em Guaira.
Carvalho salienta que a baixa ocorrência de geadas e a fraca intensidade delas favorece muito o desenvolvimento de frutas tropicais como o abacaxi. “O fato de produzir em um prazo relativamente curto, 18 meses, e ainda em áreas impróprias para agricultura comercial, como declivosas e com muita pedra, torna o abacaxi uma excelente opção, sobretudo para a agricultura familiar”, salienta o pesquisador. Ele justifica a maior relevância do abacaxi para a pequena propriedade pela grande necessidade de mão de obra para o cultivo da cultura. “Mão de obra está escassa no campo, então precisa ser agricultura familiar para ter maior chance de dar certo”, explica. Ele desmistifica a ideia de que a cultura do abacaxi é para solo de baixa fertilidade. “Isso é crendice popular. Abacaxi se adapta a solos ruis, coisas que outras culturas não fazem”, argumenta.
Para o pesquisador, o abacaxi produzido no Oeste do Paraná no verão é um dos melhores no Brasil. “No inverno a qualidade cai um pouco em decorrência da relação entre açúcar e ácidos para o consumo in natura. Se a produção for para indústria ou produção de doces, a diferença não é significativa”, diz. Carvalho está testando o uso de plástico no plantio do abacaxi. Embora não seja nova, ele quer avaliar o quanto o plástico pode ajudar no cultivo e na redução da penosidade do trabalho. “O abacaxi tem espinhos, as plantas são muito próximas, é preciso carpir o mato entre as fileiras, fora o fato de ter que ensacar os frutos. O plástico veio para substituir a capina”, afirma. As pesquisas mostraram que o abacaxi no plástico se desenvolve muito melhor. “Certamente porque aumenta a retenção de água no solo, favorece o desenvolvimento de microorganismos benéficos à planta e durante o inverno o plástico preto absorve mais calor e reduz a chance de perdas por baixas temperaturas”, enumera.
Goiaba – Outra fruta recomendada pelo pesquisador para a região Oeste é a goiaba. “Além de também produzir em um período relativamente curto, o fruto tem grande aptidão para industrialização e comercialização. “Dá para fazer polpa, geleia, suco, compota, doce em pasta em ainda e é muito boa para merenda escolar”, esclarece Carvalho. Ele salienta, no entanto, que o manejo adequado é fundamental. “A goiaba precisa de poda, brota facilmente, mas você não pode descuidar porque ela cresce muito, principalmente no solo fértil da região Oeste”, diz.
O pesquisador também diz que goiaba de mesa, para venda direta ao consumidor final, exige o ensacamento. A técnica consiste em embalar o fruto da goiaba com um recipiente pequeno, como um saco de papel. “Nós temos um bichinho que pica a goiaba e vai causar dano diminuindo o valor comercial da fruta fresca. É o famoso bicho da goiaba”, diz.
Além dos fatores agronômicos, o pesquisador aponta a questão geográfica como determinantes. “Boa parte da goiaba, do abacaxi e de outras frutas consumidas na região Oeste são provenientes de outras regiões e até de outros estados. “Fora o fato de que a cidade de Foz do Iguaçu recebe turistas do mundo todo e tem grande demanda por frutas. É uma grande mercado inexplorado”, reforça Carvalho.
Santa Helena – O servidor e ex-secretário de Agricultura de Santa Helena José Carlos de Oliveira acompanha há 17 anos as pesquisas do Iapar na região. Para ele a goiaba e o abacaxi são opções mais rentáveis que a soja, o milho e outras commodities plantadas na região. “O pequeno agricultor pode ganhar cinco, seis vezes mais se fizer um bom trabalho”, salienta. Oliveira acredita que a falta de mão de obra atrapalha o crescimento da fruticultura na região, mas o fator cultural também é um empecilho. “O produtor muitas vezes não tem conhecimento do quanto as frutas podem ser melhores que outras culturas. Por isso é fundamental levar essas informações ao homem do campo”, sugere.