Pesquisa da Embrapa Pecuária Sudeste (SP) sobre o perfil do consumidor brasileiro mostra que mulheres com mais de 50 anos, renda elevada e grau de escolaridade superior são as que mais se preocupam com práticas sustentáveis relacionadas à criação de animais na hora de comprar carne. Trata-se de um nicho de mercado que valoriza a qualidade do produto em detrimento do preço e dá alta atenção às informações contidas nos rótulos. Grupos de consumidores como esse são capazes de motivar a expansão de práticas pecuárias sustentáveis que demonstrem cuidados com os animais, com o ambiente e com os trabalhadores envolvidos da produção.
O estudo, coordenado pela pesquisadora Marcela Vinholis com a participação dos pesquisadores Waldomiro Barioni Júnior e Renata Tieko Nassu, foi apresentado durante a 64ª Reunião Anual da Região Brasileira da Sociedade Internacional de Biometria e 18º Simpósio de Estatística Aplicada à Experimentação Agronômica (RBras-Seagro), em Cuiabá (MT).
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores aplicaram 634 questionários, que resultaram em 402 respostas válidas. A sistematização e publicação foram realizadas recentemente. “Essa pesquisa pode representar uma oportunidade para a indústria de alimentos comunicar melhor o uso de práticas de produção ambientalmente mais sustentáveis como estratégia de diferenciação do produto no mercado brasileiro”, afirma Vinholis.
A pesquisa reconhece os consumidores como potenciais agentes de mudança. “Um comportamento mais responsável pode contribuir para o desenvolvimento sustentável”, explica a pesquisadora, lembrando que é importante continuar monitorando o comportamento dos consumidores para verificar se essas características se mantêm ao longo do tempo.
Rótulos estimulam consumo responsável
O estudo revela também que os consumidores buscam nos rótulos informações sobre a origem do produto. “A indústria que produz carne diferenciada precisa estar atenta para não poluir os rótulos com excesso de informações”, destaca a pesquisadora.
Resultados sugerem que os consumidores são receptivos a mensagens da indústria sobre os benefícios ambientais na compra de produtos oriundos de práticas de produção ambientalmente mais sustentáveis. “O uso de selos e certificações nos rótulos é uma das possíveis estratégias para sinalizar atributos diferenciais e estimular um comportamento de consumo mais responsável”, acredita a pesquisadora. Um eventual excesso de informações pode gerar confusão e tornar-se um obstáculo para a mudança de comportamento..
Produção sustentável é tendência no exterior
A pesquisadora Renata Nassu trabalha diretamente com a qualidade da carne. Engenheira de alimentos, além do conhecimento, ela desenvolveu uma curiosidade natural pelo assunto. Sempre que viaja, gosta de visitar supermercados e observar os padrões de compra de consumidores. Segundo ela, nos Estados Unidos, na Europa e na Austrália, os consumidores se preocupam com a rastreabilidade e valorizam carne sem antibiótico e sem hormônios. Redes de supermercados especializados em produtos diferenciados se multiplicam e ganham cada vez mais adeptos na busca por produtos mais sustentáveis. Renata Nassu relembra um fato curioso que notou em suas viagens: a venda em supermercados da carne moída “de um boi só”, o que permite ao consumidor saber de onde veio o produto que está comprando. “No Brasil o padrão é misturar carnes de vários indivíduos, mas lá eles estão agregando valor com essa identificação. É uma questão de transparência”, conta. Em São Carlos (SP), de acordo com a pesquisadora, já é possível encontrar prateleiras inteiras de produtos diferenciados nos supermercados. “É um nicho em crescimento no Brasil”, revela.
Produção integrada para a pecuária
De acordo com os pesquisadores, o fato de o Brasil ser um importante exportador de carne bovina gera demandas por adoção de práticas de produção mais sustentáveis e que minimizem o impacto ambiental associado à produção pecuária convencional e extensiva. O estudo cita como exemplo os sistemas integrados de produção, aqueles que situam em uma mesma área a pecuária, a lavoura e, em alguns casos, a floresta.
“A adoção dos sistemas de produção integrados tem sido recomendada e estimulada para a recuperação e renovação de pastagens degradadas”, frisa a pesquisadora. Ela conta que esse modelo ajuda ainda na manutenção e reconstituição de cobertura florestal, pois prevê o uso de boas práticas agropecuárias, adequação da unidade produtiva à legislação ambiental e maior diversificação da renda.