A Rede de Avaliação de Fungicidas para Controle de Doenças na Cultura da Soja apresentou em Londrina (PR) os resultados dos ensaios cooperativos realizados na safra 2018/19 em diferentes regiões produtoras (Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia, Minas Gerais e Distrito Federal) por 30 instituições de pesquisa públicas e privadas. O tema também está sendo apresentado no painel sobre a sumarização dos resultados dos ensaios cooperativos de controle de doenças da soja, durante a Reunião de Pesquisa de Soja, que termina hoje (27), em Londrina (PR).
O objetivo desta Rede, que realiza experimentos desde 2003, é comparar a eficiência de fungicidas em diferentes alvos: ferrugem-asiática da soja, mofo-branco e mancha-alvo. No caso da ferrugem da soja, foram realizados cinco experimentos, avaliando fungicidas registrados, em fase de registro, (multissítios isolados, multissítios em mistura) e um experimento para monitoramento da sensibilidade do fungo a diferentes ingredientes ativos isolados. De acordo com a pesquisadora Cláudia Godoy, da Embrapa Soja, neste caso, não houve mudanças significativas em relação à safra anterior no que diz respeito à eficiência dos fungicidas. “Entre os fungicidas registrados, os dois mais eficientes (uma mistura de triazol, estrobilurina e carboxamida e outra de triazol, estrobilurina e multissítio) apresentaram eficiência de controle próxima a 80%”, destaca Cláudia.
A pesquisadora destaca que os experimentos são feitos em semeaduras de novembro, período em que há maior probabilidade de ferrugem no campo. Tanto que atualmente uma importante estratégia de manejo da doença para “escapar” da ferrugem é o plantio no início da época permitida, logo após o vazio sanitário, e com cultivares precoces. “Outro fator importante é que os experimentos não são recomendação de controle, uma vez que utilizam aplicações sequenciais do mesmo fungicidas. Eles devem ser utilizados na determinação de programas de controle, sempre priorizando a rotação de fungicidas e adequando a época de semeadura”, ressalta.
O experimento com fungicidas ainda em fase de registro avaliou 13 novos produtos. “Os novos produtos apresentaram os mesmos níveis de eficiência dos que estão no mercado, entre 50% e 80%, e pertencem aos mesmos modos de ação. Há duas novas carboxamidas com boa eficiência. Existem muitos produtos com 50% de controle e estes precisam entrar em mistura com multissítio para um controle satisfatório da ferrugem. Precisamos de mais produtos com 80% de controle”, defende a pesquisadora.
A pesquisadora alerta que o manejo da doença precisa ser acompanhado por técnicos e produtores que conhecem o comportamento dos fungicidas, adequado a época de semeadura, a situação de outras doenças da região. Por isso, é preciso desenhar programas de manejo para cada região, defende a pesquisadora. Este é um motivo pelo qual a rede de ensaios não testa programas regionais. “Isso tem que ser adequado para cada situação e época de semeadura e esse é o papel do agrônomo, a partir do conhecimento da eficiência individual de cada fungicida”, diz. Com a adoção do vazio sanitário e o plantio de soja precoce, muitas regiões têm problemas com a ferrugem somente no final do ciclo e as últimas aplicações deveriam ser as principais para ferrugem. “Para muitas regiões do Brasil, o escape é o principal controle dessa doença”.
Monitoramento da resistência da ferrugem
Para monitorar a resistência do fungo causador da ferrugem para os diferentes fungicidas isolados, Cláudia explica que a rede de ensaios avaliou ativos que compõem as misturas de produtos (duas estrobilurinas e quatro triazóis). “As mutações do fungo causador da ferrugem respondem de modos diferentes frente aos diferentes ativos”, diz. “É importante ter estas informações tanto para quem vai formular um produto (indústria) quanto para o produtor que precisa escolher produtos que possam ser rotacionados”, defende Cláudia. Isto reforça a necessidade de escolher diferentes produtos – mesmo tendo o mesmo modo de ação – porque as mutações do fungo interferem de modo diferente nos fungicidas.
Manejo integrado é alternativa para controle do mofo-branco em soja
Os resultados dos ensaios cooperativos realizados na safra 2018/19 para o controle químico e biológico do mofo-branco, uma das doenças que afetam a cultura da soja, estão sendo apresentados durante a Reunião de Pesquisa de Soja, realizada pela Embrapa Soja nos dias 26 e 27 de junho, em Londrina (PR). A doença é causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum que promove mofo-branco na haste da soja, o que atrapalha o desenvolvimento da planta e reduz produtividade.
Os ensaios foram realizados em diferentes regiões produtoras (Paraná, Minas Gerais, Bahia, Goiás, Mato Grosso) por instituições de pesquisa públicas e privadas que compõem a Rede de Avaliação de Fungicidas para Controle de Doenças na Cultura da Soja. O pesquisador Maurício Meyer, da Embrapa Soja, ressalta que a redução da produção de escleródios do fungo causador da doença, proporcionada pela maioria dos fungicidas avaliados, reforça a importância da adoção do controle químico como uma das principais ferramentas no manejo do mofo-branco em soja. “Porém, temos que considerar que mesmo com a maior eficiência de controle químico, ainda ocorre produção de inóculo. Por isso, outras medidas de manejo devem ser adotadas para inviabilizar a manutenção do fungo durante a entressafra”, explica.
Meyer reforça a integração de diferentes medidas de manejo – o controle químico, o biológico e o manejo cultural – para garantir melhor controle do mofo-branco. Segundo ele, o manejo cultural pressupõe que se faça boa cobertura do solo com gramíneas pela produção de palhada na entressafra. “A palhada funciona como filtro, evitando que os esporos responsáveis por iniciar a infecção atinjam as plantas de soja”, destaca.
Por outro lado, a palhada também favorece o controle biológico de S. sclerotiorum, que ocorre principalmente pela ação de microrganismos que parasitam e degradam as estruturas de sobrevivência do fungo no solo, reduzindo a doença nas áreas infestadas. “Com isso, o produtor condiciona o solo para que os inimigos naturais afetem os escleródios do mofo-branco, promovendo controle da fonte de inóculo”, explica. “Os biofungicidas testados inibiram a capacidade de produção de esporos do fungo, o que pode contribuir para a redução da incidência de mofo-branco”.
A Embrapa estima que aproximadamente 10 milhões de hectares de soja, principalmente no Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás e Bahia – em maior intensidade – e Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul estejam infestados pelo fungo causador do mofo-branco.