Produtores e representantes brasileiros da cadeia do trigo cobram uma definição de política nacional para o grão. O setor se reuniu em uma videoconferência em que destacou a importância da adoção de medidas que estimulem o produto, reduzindo a dependência externa.
“A pandemia da Covid-19 deixou evidente algumas vulnerabilidades da nossa economia e, no campo dos alimentos, podemos dizer que o trigo é a mais latente delas, tendo em vista que ainda somos muito dependentes da importação do trigo internacional. A situação vivida por nós deixa clara a dificuldade do fornecimento do grão para atender as necessidades do mercado nacional, bem como a de compra por conta do custo alto da matéria-prima”, destacou o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa, que fez a abertura da reunião apresentando os pontos da Política Nacional do Trigo, desenvolvida e apresentada ao Governo Federal pela entidade.
Barbosa destacou pontos da proposta que já avançaram, mas evidenciou alguns que demandam mais atenção do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), como facilitar a convergência regulatória internacional; atualizar o regulamento técnico de classificação do trigo; reavaliar a gestão de recursos humanos nos serviços oficiais; fomentar a regionalização e especialização da produção, entre outros.
O Diretor do Departamento de Comercialização e Abastecimento do Mapa, Sílvio Farnese, ressaltou que o ministério acompanha atentamente as questões relacionadas ao trigo no país, principalmente no campo dos incentivos direcionados ao produtor, visando o aumento da produção interna e também nos quesitos que auxiliem o abastecimento do mercado, como a ampliação da cota de importação de trigo por ano, bem como as datas das janelas de compra do grão.
“Neste período de quarentena tivemos ainda mais a certeza da relevância dos produtos derivados do trigo para a alimentação básica do ser humano e, com isso, ficou ainda mais evidente o quanto o grão é importante para a economia do nosso país. Estamos acompanhando de perto as previsões de safra e estamos bem animados com os números, que, além de indicarem um volume acima do que foi colhido em 2019, também terão alta qualidade”, afirmou o representante do Mapa.
Safra 20/21 – Segundo a Conab, que também participou do evento com a presença da analista de mercado, Flávia Machado Starling Soares, a estimativa para este ano, de acordo com a revisão feita pela entidade no mês de maio, é que o Brasil tenha um volume de produção acima de 5,4 milhões de toneladas, com crescimento de 2,4% na área total de produção e de 3% na produtividade.
A reunião também contou com a apresentação de um panorama da produção do grão em cada estado. Representando o Cerrado, Eduardo Elias Abrahim, presidente da Associação dos Triticultores do Estado de Minas Gerais (ATRIEMG), destacou as boas condições climáticas na região, que poderão ajudar nos números positivos esperados para a safra do trigo, que pode chegar a 100 mil toneladas.
Os números do Paraná, estado que representa mais de 50% da safra nacional, foram apresentados pelo gerente Técnico e Econômico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), Flávio Turra, que destacou um atraso no plantio por falta de chuva. Segundo ele, a estimativa é que o estado colha 3,5 milhões de toneladas neste ano, volume superior à safra anterior.
O Rio Grande do Sul registrou condições climáticas favoráveis ao plantio do trigo, com a presença de chuvas e espera colher 2 milhões de toneladas, uma safra boa em qualidade e rendimento, segundo o analista de mercado da Serra Morena Commodities, Walter Von Mühlen, que representou o estado no encontro.
Também participaram representantes do Uruguai e do Paraguai, que destacaram a importância do Brasil como destino de suas exportações de trigo e o trabalho contínuo junto aos produtores para melhorar a qualidade e a produtividade do grão.
Ruben Zoz, da Unicoop Paraguai, informou que o país espera colher uma safra de aproximadamente 1,1 mil toneladas de trigo. Já o Uruguai, que foi representado por Catalina Rava, da MGA, espera um total de 736 mil toneladas.