sábado, 14 de setembro de 2024

Agroecologia

Agroecologia, produção orgânica e transformações na agricultura familiar

Os estudos que comprovam a importância socioeconômica da agricultura familiar no Paraná e no
Brasil evidenciam cada vez mais a capacidade de resposta que ela é capaz de dar às políticas públicas,
sobretudo, as de concessão de crédito e de geração de renda.
Diante disso, a divulgação das informações relativas ao Plano Safra da Agricultura Familiar pela
FETAEP possui um caráter estratégico para as famílias que vivem no campo, pois com este tipo de serviço
é cada vez maior o número de agricultores e agricultoras que tomam conhecimento de seus direitos, das
condições e dos canais existentes para acessá-los.
Se sonhamos com um campo onde os desafios da agricultura familiar devam ser enfrentados com
dignidade e respeito à sua diversidade e complexidade, nossas reflexões não devem se limitar aos aspectos
econômicos da produção, pois a agricultura familiar além de ser um meio de vida, representa também um
modo de vida resultante da história, da cultura e das condições sociais que a caracterizam.
Nesse sentido, temos observado que o espaço cada vez maior da agroecologia e da produção
orgânica na agricultura familiar advém de projetos de extensão rural que adotam uma visão sistêmica, ou
seja, que consideram as dimensões econômicas, culturais, históricas, sociais e ambientais de forma
interdisciplinar e reconhecem a centralidade da família no sistema de produção.
Dados obtidos junto ao Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA), de novembro de 2019, mostram o Paraná como líder no número de
produtores orgânicos certificados (3.490), tendo havido um crescimento de 35% entre 2018 e 2019. E, tal
crescimento também pode ser observado em diferentes regiões, como no Oeste e o Centro-Sul Paranaenses
com crescimentos de 205% e 147%, respectivamente, o Sudoeste com 90%, o Norte Pioneiro com 64% e
a Metropolitana de Curitiba com 11,5%, embora essa seja a região com o maior contingente de produtores
orgânicos certificados. Atualmente, os dados cadastrais do MAPA de julho de 2020, indicam a presença de
3.631 agricultores orgânicos certificados no Brasil.
A presença da agroecologia e da produção orgânica, majoritariamente, em propriedades
familiares pode ser justificada por diversas razões, inclusive pelas características inerentes ao sistema
familiar. Como sabemos, os modelos tecnológicos e de gestão da produção associados a esses paradigmas
são fortemente dependentes do uso da força de trabalho, sendo assim, sistemas de produção alicerçados na
família tendem a apresentar uma maior eficiência econômica.
Além disso, como a preservação do patrimônio é uma variável fundamental em sistemas
familiares de produção, a maior aversão a riscos de mercado os fazem organizar agroecossistemas mais
diversificados, terem maior preocupação com a preservação os recursos naturais, especialmente, a água e
o solo, e atuarem com canais de comercialização mais curtos, valorizando uma maior proximidade com o
consumidor final.
A adoção da agroecologia e a produção orgânica, por sua vez, também tem causado importantes
transformações do ponto de vista cultural e social na agricultura familiar. Um exemplo disso é a consciência
cada vez maior de que a conversão do modelo tecnológico deve necessariamente levar à obtenção de um
certificado de conformidade orgânica, levando-os a aceitar adaptações em seus modelos de produção e de
organização com relação aos parâmetros legais da certificação.
O rigor das normas de certificação orgânica tem levado os agricultores familiares a se reeducarem
em diferentes aspectos. Um deles é a incorporação em sua rotina diária do caderno de campo e a disciplina
de realizar e manter registros atualizados, bem como a guarda de documentos. No caso do modelo
participativo, em particular, afloram-se também atitudes como a organização e a gestão em grupo, a
responsabilidade e a honestidade, uma vez que a certificação obtida tem um caráter coletivo e de auto
regulação entre os próprios agricultores.

Rogério Barbosa Macedo, engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia (Desenvolvimento Rural Sustentável), professor adjunto da disciplina Agroecologia da UENP/Campus Luiz Meneghel, Bandeirantes – PR, coordenador do Núcleo de Estudos de Agroecologia e Territórios (NEAT) e membro do Comitê Gestor do Programa Paraná Mais Orgânico.

 

 

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Paraná suspende queima controlada no campo - Conexão Agro
Coluna 205 - Paraná suspende queima controlada no campo
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