Uma versão resumida do Relatório Temático, o Sumário foi elaborado por 35 pesquisadores que sintetizaram o conteúdo principal com linguagem simplificada e em formato didático. O documento visa influenciar gestores e lideranças das esferas pública e privada na tomada de decisões com foco na sustentabilidade e no equilíbrio da tríade agricultura, biodiversidade e serviços ecossistêmicos. Benefícios gerados pela natureza que sustentam a vida no planeta, os serviços ecossistêmicos são essenciais para garantir a capacidade da produção agrícola. Água limpa, regulação do clima, manutenção da fertilidade e da estrutura do solo, polinização de culturas e controle biológico de pragas e doenças são alguns exemplos.
O Relatório Temático, coordenado por Rachel Bardy Prado, pesquisadora da Embrapa Solos (RJ), e Gerhard Overbeck, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é um diagnóstico minucioso que compila informações científicas e casos exitosos acerca das interações entre os usos do solo e a biodiversidade no Brasil, sob a ótica do bem-estar humano e levando em conta os saberes tradicionais. O estudo mobilizou ao longo de três anos 100 profissionais de inúmeras áreas, pertencentes a mais de 40 instituições distribuídas por todos os biomas brasileiros, sendo que aproximadamente um quarto dos autores são da Embrapa. Além da síntese de conhecimento sobre a temática, o texto traz propostas para um melhor manejo do capital natural no meio rural nacional.
Desafios de uma potência agroambiental
Segmento crucial para a economia nacional, o agronegócio é responsável por cerca de 20% dos empregos formais e por mais de um quarto (27%) do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil – R$ 403,3 bilhões em 2020. Em grande parte, como aponta a publicação da BPBES, é caracterizado por monoculturas em larga escala, com sistemas de irrigação intensivos e uso excessivo de insumos, fertilizantes e agrotóxicos. “O modus operandi do setor tem se mostrado insustentável, aumentando a pressão sobre o capital natural e originando grandes impactos ambientais. Isso compromete a saúde humana e afeta inclusive os serviços ecossistêmicos dos quais a atividade depende”, pontua Gerhard Overbeck.
Rachel Prado reforça que a escassez de recursos naturais em algumas partes do País e os efeitos sobre o clima colocam em xeque a própria abundância da agricultura brasileira. A pesquisadora aponta que as principais cadeias de valor de alimentos estão susceptíveis às mudanças climáticas, e certas regiões poderão sofrer quedas de produtividade e alterações na aptidão para determinadas culturas. “Modelos projetados estimam, por exemplo, que na fronteira Amazônia-Cerrado as variações no clima regional vão comprometer a viabilidade de 74% das atuais terras agrícolas até 2060”, acrescenta. Nesse sentido, de acordo com a pesquisadora, ferramentas de ordenamento territorial e de suporte ao planejamento regional como os sistemas de aptidão agrícola das terras e de aptidão para irrigação, zoneamentos e outros mapeamentos com base na informação dos solos terão que ser adaptados, incluindo a abordagem dos serviços ecossistêmicos, visando fomentar paisagens rurais multifuncionais.
Agricultura familiar e a praticada por povos tradicionais
O fomento a essa modalidade de agricultura é um dos caminhos apontados na publicação da BPBES para conciliar a produção agrícola com baixas emissões de carbono e com a manutenção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. No entanto, o setor ainda enfrenta dificuldades para conseguir crédito rural e assistência técnica qualificada. “É necessário ampliar o acesso às linhas de crédito diferenciadas e voltadas à agricultura de baixo impacto ambiental. Também há que se reverter o cenário atual onde, por exemplo, 84% de todo o valor contratado via Pronaf (crédito rural dirigido à agricultura familiar) foram aplicados na produção pecuária, geralmente praticada de forma extensiva e com baixa rentabilidade”, escrevem os autores na publicação.
Caminhos viáveis
Segundo os pesquisadores, o simples cumprimento da Lei de Proteção da Vegetação (norma federal, instituída em 2012) evitaria, entre 2020 e 2050, a perda de 32 Mha de vegetação nativa no País. Além disso, “o aumento na produtividade das pastagens brasileiras permite atender a demanda futura de áreas para a produção de carne, culturas agrícolas, produtos madeireiros e biocombustíveis, sem a necessidade de converter mais hectare algum de vegetação nativa e ainda liberando terra para restauração em larga escala, por exemplo, na Mata Atlântica”, diz o texto.
Outras alternativas incluem o estímulo à restauração de áreas de reserva legal (RL) e de preservação permanente (APP) com proteção dos mananciais hídricos; os incentivos econômicos e mecanismos financeiros para atividades agrícolas sustentáveis – como Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), linhas de crédito verdes, créditos de biodiversidade, REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) e mercado de Cotas de Reserva Ambiental; os programas de extensão rural com foco na agroecologia; a valorização e a disseminação de práticas e tecnologias sociais de PCTs; os sistemas de rastreabilidade de cadeias produtivas; o Sistema Plantio Direto; as florestas plantadas; o turismo rural; e o Sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
Contudo, para atingir a transformação desejada nos sistemas de produção agrícola, esses mecanismos precisam ser incentivados e disseminados para ganhar escala, ampliar sua abrangência nos biomas e, sobretudo, alcançar os agricultores mais vulneráveis, ressalta Overbeck.
SERVIÇO
O “Sumário para Tomadores de Decisão” está disponível para download AQUI.
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