Em um mundo ainda dominado por lideranças masculinas, Cecília Barros de Mello Falavigna, 74 anos, é uma inspiração para todas as mulheres que gostam da agricultura. Dona de duas fazendas – Santa Ana e Esperança – no município de Floraí, a 50 quilômetros de Maringá (PR), ela é considerada a rainha da soja.
O “título de alteza e o trono de rainha” que Cecília ocupa não são exageros para uma mulher que superou a morte do marido há 21 anos, enfrentou desafios ao assumir uma atividade totalmente desconhecida e hoje é reconhecida por conquistar premiações de produtividade em soja. Na safra de 2017/18, ela obteve a melhor produção, obtendo a melhor média em todos os tempos: 67 sacas por hectare (162/alqueire), enquanto a média do município foi de 51,6 sacas por hectare (125/alqueire).
Como conseguiu esta proeza? “Quem não busca conhecimento fica para trás e quem fica para trás não consegue acompanhar os outros. É preciso acompanhar as tendências, buscar tecnologias e inovação, somadas as orientações dos técnicos”, afirma a produtora, mãe de três filhos – Ana Cláudia, Mara Sandra e Paulo César.
Coragem, determinação, superação, simpatia e bom humor são qualidades que ficam evidentes em pouco mais de 5 minutos de conversa com a fazendeira, que engrossa a fila das mulheres que estão à frente dos negócios, tomando decisões, gerenciando propriedades e assumindo posições técnicas especializadas no agronegócio.
“Hoje olho para trás e vejo que
consegui superar muitas dificuldades.
A maior delas era o fato de não ter
nenhuma afinidade com a agricultura”
“Dificuldades existem, mas a gente não pode ter medo. A gente deve ter cautela, mas não medo. Hoje olho para trás e vejo que consegui superar muitas dificuldades. A maior delas era o fato de não ter nenhuma afinidade com a agricultura. Não entendia de sementes, adubos, solos. Comecei do zero, fui buscar conhecimento e, desde que você tem vontade de aprender, as dificuldades vão diminuindo”, ensina Cecília.
Após o falecimento do marido, ela deixou de ser professora de uma escola particular em Maringá para assumir as duas propriedades – em Floraí e Mamborê, onde cultivava, além da soja, pecuária e trigo. Com o tempo, centralizou as propriedades em Floraí e optou pelo cultivo da soja, milho e laranja. Atualmente, ela conta com a ajuda do filho Paulo César, formado em Direito. “Aos poucos estou fazendo a sucessão e me sentido mais aliviada, porque a responsabilidade é grande dentro das propriedades”, diz ela.
Nesse universo tão desafiador do agronegócio, a trajetória e o aprendizado de Cecília não param por aí. Ela passou a acompanhar as cotações na Bolsa de Chicago, Mercado Futuro para fechar bons negócios, participa de palestras e dias de campo. “Faço venda antecipada se houver necessidade, mas boa parte fica armazenada na cooperativa, que me dá um ótimo suporte. Tenho que estar sempre ligada no mercado, 24 horas”, diz ela com inigualável bom humor.
Segundo a produtora, o dinamismo do mercado faz com que os preços oscilem bastante. “De manha é um preço, a tarde é outro, por questões de horas você pode perder R$ 0,50 por saca”, explica a rainha da soja, que tornou-se referência para amigas agricultoras que a procuram para obter dicas sobre qual o melhor momento para vender os grãos.
“Quando comecei na agricultura, não tinha tantas mulheres no campo, porque quando a mulher fica sozinha, ou ela vende, ou arrenda, ou passa para pecuária. As pessoas diziam: arrenda, vende, transforme em gado, mas eu preferi enfrentar este desafio. A mulher hoje está mais inserida, antigamente não havia a abertura que tem hoje”
